quarta-feira, outubro 24, 2007

Historial de uma operação ao nariz

Quinta-feira passada, 18 de Outubro, 07h55 da manhã, numa clínica em Lisboa.

- Bom dia!

- Bom dia!

- Estou aqui para uma intervenção cirúrgica ao nariz a ser feita pelo Prof. Dr. Fulano de Tal. O meu nome é Sicrana. O meu termo de responsabilidade já cá deve estar.

- Deixe-me ver … hum … não é este, … hum … ora, aqui está ele! Preencha esta ficha e espere um pouco na sala.

Depois de preencher uma ficha onde só falta perguntarem se tenho horas certas para ir à casa de banho vou para a sala de espera, aparentemente calma. Aparentemente, porque estou aterrorizada, já que me vou sujeitar a uma anestesia geral pela primeira vez na minha vida.
A minha T, percebendo o meu terror tenta acalmar-me.

- Ó querida vai correr tudo bem! Vais acordar da anestesia. Descansa!

- Não tenho medo de não acordar da anestesia. Tenho é medo de como vou acordar!

Chamam-me e subo com T até um determinado andar onde entro num quarto com 4 camas e outros tantos armários. Três rostos femininos, um idoso e dois de idade difusa, olham-me com curiosidade.

Aparece uma enfermeira de meia-idade e o meu gaydar começa logo a apitar. O meu nariz pode estar torto mas o meu gaydar continua a funcionar na perfeição.
Não há dúvidas! A senhora enfermeira joga no mesmo clube que eu! A forma cúmplice como olha para mim e para T e a exagerada diligência com que me trata, são suficientemente elucidativas.

- A sra. dra. vai ter de vestir roupa esterilizada para a operação. Vista esta batinha e estas cuequinhas e coloque esta touquinha na cabeça que a maca vem já a caminho para a levar para o bloco operatório. – Diz ela desfazendo-se em salamaleques e sorrisos.

Dispo as minhas roupas e visto umas cuecas, que se prendem por atilhos, e uma bata que me deixa o traseiro ao léu. Só tenho tempo de beijar T porque duas auxiliares empurrando uma maca se dirigem a mim exigindo que me deite.

Entro numa sala com várias pessoas que usam batas, luvas, toucas e máscaras tapando-lhes o nariz e a boca. Mandam-me deitar numa coisa que me parece uma tábua muito estreita coberta por um lençol.

- Os braços não me irão cair desamparados enquanto estiver anestesiada?

- Não e já vai ver porquê! Vá-se mentalizando para só respirar pela boca, ok?

- Ok! “E se a mentalização não funcionar?” Penso.

Vejo o Prof. Dr. Fulano de Tal, também já mascarado que me diz carinhosamente:

- Vamos tratar de ti, minha filha! Este é o Dr. Sicrano Coisa e Tal, um excelente anestesista.

O Dr. Sicrano Coisa e Tal, é um indiano com um olhar sorridente e muito confiante. De repente sossego sem saber qual a razão dessa repentina tranquilidade, se o devo ao olhar do médico, se por sugestão pelo facto dos indianos terem fama de serem bons médicos. Acho que é o olhar dele!

Uma enfermeira ata-me o braço direito e o esquerdo com um género de faixa que prende debaixo de cada um dos lados do meu corpo. Eis a explicação porque os braços não ficariam pendurados; caídos. Por sua vez, a minha mão esquerda é agarrada por outra enfermeira que a esfrega procurando uma veia.

- Esta é boa! É só uma picadinha! Não dói nada!

Enquanto sinto a picada, olho para o anestesista que, com aquele olhar luminoso que me tranquiliza me diz:

- Hoje lá está o nosso primeiro-ministro com mais uns quantos a tratar-nos da vidinha e tentando parir mais um tratado, não é verdade?

- Pois é! – Respondo. – Deve estar todo contente e ufano! Deve sentir-se a pessoa mais importante do mundo! Que horas são Dr.?

- 08h45!

O zero absoluto. O nada.

Acordo numa sala de iluminação fraca com um género de mola agarrada ao meu dedo indicador direito e que tem um ponto de luz vermelha. Na minha mão esquerda está espetada uma agulha protegida por adesivos, que me vai metendo soro no organismo. O meu nariz está tamponado e com uma compressa e adesivos protegendo as narinas. Sinto-me incomodada. Só respiro pela boca que está mais seca que um molhe de palha esquecido debaixo de um sol abrasador.

Estou na sala de recobro e começo a olhar para todos os lados enquanto mexo as pernas e conto mentalmente. Um relógio de parede diz-me que são 10h15. Tranquilizo. Acordei e estou bem. Só uma sede e fome imensas me devastam a boca e o estômago!
A uma enfermeira que ali se encontra pergunto se posso beber e comer qualquer coisa.

- Ainda não porque pode vomitar! Espere uma horita que já lhe dou um yogurt líquido. Durante dois dias só vai poder tomar líquidos!

- Já percebi que vou passar fominha!

- Tem de ser!

Vejo T entrar na sala de recobro sorrindo-me.

- Olá querida! Eu não te disse que ia correr tudo bem? Como te sentes coisa linda?

“Devo estar com um aspecto horrível e ela chama-me coisa linda. Ela ama-me, não há dúvida!” Penso enquanto a custo, num tom muito anasalado, digo:

- Estou bem. Tenho fome e sede!

- Vais ter de aguentar amor!

- Pronto! Já a viu, já sabe que ela está bem, agora a senhora vai ter de sair. As visitas são das 16h00 às 19h30. – Diz a enfermeira dirigindo-se a T que se despede de mim com um aceno e um sorriso enquanto se retira da sala.

Passada uma hora trazem-me um yogurt líquido com sabor a banana que bebo com imensa dificuldade, em pequenos goles, mas que me alivia a secura da boca. “Pronto, é desta que emagreces, mulher!” Penso.

- Que tal irmos ter com as suas companheiras de quarto? Pergunta-me a enfermeira com um sorriso como se me estivesse a dizer “Que tal irmos para um spa nos trópicos cheio de massagistas lindíssimas que vão tratar de si?”

Aceno afirmativamente mas com um tal desinteresse que a pobre enfermeira perde o sorriso. Às vezes sou tão rude que até chateia.

Entro no quarto e meto-me na cama sob o olhar atento das minhas três companheiras.

- Ai credo! Não deve sentir-se nada bem com o nariz assim todo tapado. Eu morria!

“Mas eu não morro!” Penso.

Adormeço cansada.
.................................

O pós-operatório foi francamente incomodativo. Respirar só pela boca durante 4 dias, lacrimejar e sentir vontade de espirrar constantemente, é uma tortura.

Contudo, quando na passada segunda-feira o médico me retirou os tampões e finalmente comecei a respirar pelo nariz, descobri um mundo completamente novo. Eu, de facto, respirava muito mal! Valeu a pena!

O meu nariz está direito e, agora, não é só por fora!

Só hoje consegui escrever este post. Na verdade, até ontem, só olhar para a televisão me fazia confusão. Por isso, lamento não ter cumprido com o prometido para as sextas-feiras nem ter escrito mais cedo.

Agradeço a todas(os) os comentários deixados no post anterior.

Bem hajam!

27 comentários:

As vossas vizinhas disse...

"linda" (de narizinho novo),
as cuecas com atilhos não são as famosas fraldas????
bjkas e boa recuperação,
queremos-te com força sábado no ml!

Duca disse...

Lollllllllllll! Não são nada fraldas. São em tecido igual às batas e têm uns atilhos de lado para prenderem dando um laço. Se aquilo fosse uma fralda, a cama da senhora idosa que estava ao meu lado, teria de ser mudada duas vezes ao dia!

ML, no próximo sábado? Talvez!

Beijokas lindas! :)

Mocho Falante disse...

ainda bem que tudo correu pelo melhor...as rápidas melhoras

beijocas

Peach disse...

linda! ehehehe

fico feliz por ter corrido bem nina!

(lya)

Anónimo disse...

Tava a ver que não havia noticias... Vá agora não me desiludas, e diz-me que tens posto o preservativo no nariz...

Folgo em saber que estás alive & kicking...

Cá te esperamos, rápidas melhoras e boas inspiradelas.
Beijo

Anónimo disse...

Querida amiga portuquesinha, que bom que vc já está recuperada, e com o narizinho funcionando 100%,rs
mentalizei para tí,,,,para que seus anjinhos de guarda, estivessem alerta e atentos, na hora de sua cirurgia,,,,
que bom que vc já está cheirando novos ares,,,,rs
vc não me conhece, mas eu ja me sinto um pouco intima, pq sempre venho compartilhar com vc seus momentos,
bem, te desejo td de bom, e que fíque boas de vez,,,,
beijos nas bochechas, um de cada lado,,,pra não fícar torta,,,,rs
até mais,,,
sua amiga virtual mineira
virtualolhar

Garamond disse...

Uiii de nariz novo e tal!

Começo a desconfiar de ti... agora além de Mulher de Pegada aposto que viras Mulher de Cheirada!

:)

É bom ter te de volta!

beijos na Diva

Gar

tagarelante disse...

bom, pensa positivo, se fosses cm o pinóquio teria custado mt mais!...


:p

mega disse...

Realmente anestesias gerais são assustadoras. Lembro-me muito bem da minha primeira vez (anestesia!!!). Tremia por todos os lados, de ansiedade. Lembro-me de pensar isto não funciona comigo e imediatamente a seguir o blackout. Lembro-me da secura dos lábios ao acordar. Lembro-me do histerismo da minha mãe a acordar-me por tudo e por nada no quarto, porque anestesias gerais fazem mal.

Da segunda (e última, so far), não houve tanta ansiedade, pensei exactamente o mesmo - agora estou alerta, isto, definitivamente, não funciona comigo - e blackout. Acordei numa sala de recobro sem a presença da minha mãe (thank God for small favours) e a secura desta vez foi substituida por uma dor imensa sempre que me mexia.

Boa (e rápida) recuperação.

Anónimo disse...

Duca
Neste curto espaço constituído por meia dúzia de linhas, vais fazer o favor de dizer à tua T que tenha paciência porque este gaijo (eu) te vai dar um beijo.
E, partindo do princípio que tu aceitas, aqui fica ele.

Um beijo e continuação das melhoras.

S.L. disse...

Bem vinda. ainda bem que correu tudo bem, como só podia correr aliás :).
Sorte a tua que tiveste direito a cuequitas e bata. Eu quando fui operada nem a isso tive direito :( enfim. E quando acordei da anestesia enfiaram-me com um tubo pela garganta adentro para conseguir voltar ao mundo. Fumadores...
Mas o importante é que estás de volta, e muita falta nos fizeram as tuas grandiosas e belissimas prosas.

bjs

ATG disse...

Olá.

Pergunto se será possível dizeres-me onde é essa clínica, por haver interesse deste lado.

Obrigado e votos de uma excelente recuperação.

Duca disse...

Mocho Falante

Obrigada. :)

Beijo

Duca disse...

Peach

Ó caríssima, só no outro dia é que te reconheci quando assinaste Flower Duet! :)

Às vezes sou tão distraída. Depois não tive tempo de ir ao teu novo sítio, mas vou logo que tenha um bocadinho para poder apreciar com tempo e deve ser.

Beijo

P.S. Fazes falta na blogosfera, linda! :)

Duca disse...

AR

Lolllllllll

Não pus preservativos no nariz!
O pessoal na clínica picava o gelo e metia-o em saquinhos para facilitar a aplicação no nariz. Só não vi por lá nenhuma Sharon Stone ... Humpf!

Beijo

Duca disse...

Cara anónima mineira

Agradeço teres-te lembrado de mim nas tuas mentalizações. Essas boas energias fazem sempre muito bem! :)

Obrigada pelas visitas que fazes a este espaço. Honra-me saber que há quem do outro lado do Atlântico lê os meus escritos.

Um beijo com sabor ao sal desse Atlântico que nos separa.

Duca disse...

Garamond

Isto agora é que é respirar e cheirar! ;)

Saudades tuas.

Beijo linda

Duca disse...

Tagarelante

Não duvido! :)

Beijo

Duca disse...

Mega

Obrigada!

Infelizmente para ti da segunda vez tiveste muitas dores. Eu tive poucas, mas ainda tive algumas que rápidamente passavam depois da dose de analgésicos.

Beijo

Duca disse...

Repórter

Geralmente a minha T é muito paciente, principalmente com as minhas trocas de beijos a amigos. Sempre fui um bocado beijoqueira e como foi assim que ela me conheceu e gostou de mim ... ;)

Aceito com agrado o teu beijo e retribuo com outro enorme assim

BEIJOOOOOOOOOOOO!

Duca disse...

SL

Puxa! Foste nuínha para a operação? E como se não bastasse enfiaram-te um tubo goela abaixo depois? Até me arrepio só que pensar no que passaste!

Mas as recordações desse género são para esquecer.

Beijos

Duca disse...

DJ

Enviei-te a informação para o email que tens disponível no teu perfil.

Agradeço-te os votos.

Anónimo disse...

Estás a ver? No fim, o pior de tudo foi mesmo o iogurte líquido com sabor a banana! Arghhh! :-)
E o que é isso de "talvez" no Sábado ML?! Então agora que podes aspirar todo aquele ambiente pouco saudável e viciado com pujança é que vais faltar?! Nada disso! Vais poluir os pulmões como toda a gente, ora vá!
Beijos!

Duca disse...

Citadina

Pois é, amiga, lá vai ter de ser! ;)

Beijo

Anónimo disse...

Peço desculpa de meter a foice em seara alheia mas isso do gaydar deixa-me curiosa pk gostava de saber que sinais são esses que permitem concluir sobre a orientação sexual de alguém.
Cumprimentos

Duca disse...

Sara

Ser-se homossexual ou bissexual é a primeira condição para se ter gaydar depois, a boa qualidade do mesmo é essencial. Quanto ao resto, só posso dizer que há coisas que não se explicam, apenas se sentem.

Deve ser como acontece com os heterossexuais. Tenho amigas hetero que "cheiram" à légua um potencial bom ou mau amante. Elas também não sabem explicar o que as leva a ter esse "olfacto". :)

Anónimo disse...

Embora muito apreensiva compreendo