30/06 - 23h30
O desfile tinha terminado mas a festa não. A Plaza de España fervilhava de animação.
A e R tinham quase milagrosamente conseguido encontrar-nos no meio de uma multidão de mais de milhão e meio de alminhas, com indicações dadas por D ao telemóvel, é certo, mas mesmo assim não deixava de ser complicado.
Apesar da boa disposição, os pés, a sede e a fome começaram a torturar-nos. Seguindo as indicações de A lá fomos, agora oito, até um bar em busca de néctar para as nossas gargantas e algum alimento para os nossos estômagos.
O desfile tinha terminado mas a festa não. A Plaza de España fervilhava de animação.
A e R tinham quase milagrosamente conseguido encontrar-nos no meio de uma multidão de mais de milhão e meio de alminhas, com indicações dadas por D ao telemóvel, é certo, mas mesmo assim não deixava de ser complicado.
Apesar da boa disposição, os pés, a sede e a fome começaram a torturar-nos. Seguindo as indicações de A lá fomos, agora oito, até um bar em busca de néctar para as nossas gargantas e algum alimento para os nossos estômagos.
Como não podia deixar de ser, o bar abarrotava, mas a um canto estava uma cadeira vazia onde, sem demoras, me sentei enquanto fazia aquilo que os meus pobres pés tinham vontade mas não capacidade: suspirar de alívio.
A, é um homem muito bem parecido e alto, o que foi uma bênção para ser visto por quem, atarefado ao balcão, servia bebidas. Em pouco tempo, conseguimos estar todas de copo na mão bebendo sofregamente as respectivas cervejas.
Na minha primeira incursão à casa de banho para responder a uma necessidade fisiológica, reparei que o piso de cima era um restaurante que estava a servir jantares e tinha mesas vazias.
Quando desci, com um sorriso de orelha a orelha, informei o grupo que ali se jantava. Lembrámo-nos da nossa tremenda fome – que apenas tinha sido suavizada pelo consumo das cervejas – e decidimos de imediato ir para o andar de cima onde nos pareceu, de repente, ter chegado a um mundo aparte tal era o sossego.
Um empregado ouviu-nos falar em português e muito contente desatou a falar no seu português com sotaque brasileiro. Contou-nos que era de Florianápolis no sul do Brasil, mais propriamente, no estado de Santa Catarina e que a vida dura que lá tinha o obrigou a dar o salto para a Europa à procura de melhores oportunidades.
Trataram-nos muitíssimo bem e o que foi que comemos? Tapas, claro, que estavam deliciosas, por sinal.
O jantar decorreu animado e A, apesar de ser o único homem no meio de sete mulheres – entre as quais uma heterossexual (R a mulher dele) uma bissexual e cinco lésbicas – não se mostrou nada incomodado e como cavalheiro que é, divertiu-se e divertiu-nos. Se todos os homens fossem como A, o mundo era um local tão mais agradável e feliz!
Pelas 02h00, já confortáveis, sem sede, com os estômagos cheios e muito felizes, resolvemos ir acabar a noite numa discoteca.
Em Lisboa, uma amiga tinha-me aconselhado a Medea que é um género de Maria Lisboa mas com espaço para 2000 pessoas. Toda a gente concordou, mesmo depois de eu ter explicado a A e R que a referida discoteca era maioritariamente frequentada por mulheres lésbicas e bissexuais. Para o casal A e R, homofobia é uma palavra que não existe no seu vocabulário e, portanto, iriam para onde quiséssemos.
Lá fomos a pé para o local da discoteca, com L a fazer um enorme sucesso junto de quem por ela passava, com o seu chapéu de abas largas do camuflado colocado à cow-boy, cinturão da tropa onde tinha presas um par de algemas revestidas a tecido vermelho, no topo do braço direito uma tira em couro entrançada e uma t-shirt decotada, sem mangas e muito justa que dizia na zona dos seios: Silicone Free.
No caminho, T que já esteve em Madrid várias vezes, lembrou-se de um local muito bonito com várias salas e respectivas pistas de dança onde, em cada uma, havia um estilo diferente de música. Quando passámos junto ao Palácio Gaviria decidimos ficar por ali porque pensámos, e bem, que na actual Madrid, mesmo numa discoteca predominantemente heterossexual, ninguém nos iria aborrecer por dançarmos umas com as outras.
O Palácio Gaviria é uma jóia aquitectónica do século XIX, construído em 1850 e inspirado no renascentismo italiano. Vão ao site e façam um tour que vale a pena.
Eu e F decidimos sentar-nos numa das salas a conversar (eu aproveitei para desenrolar o meu francês) enquanto bebericávamos coca-colas. Durante algum tempo, ainda fomos assediadas por um indivíduo que tentou por várias vezes meter conversa sempre da mesma forma. O homem, ou estava muito bêbedo ou então tinha uma memória correspondente à de um peixe, ou seja, com a duração de 10 segundos. Portanto, ao fim de 10 segundos, já tinha esquecido tudo e lá voltava ele à carga: “muchas buenas noches tengan ustedes, señoritas, me llamo Paco, no quiero molestarlas pero simplemente decirles, hola!” e eu, de acordo com o que ele pretendia e munida de uma infinita paciência, respondia-lhe: “Hola!” F punha uma cara ceráfica e não articulava palavra. O homem insistia com ela: “Habla español?” ao que ela respondia: “Non!” o que não deixa de ser mentira pois fala um razoável espanhol e até já dá uns toques no português. Enfim, o homem acabou por desistir e lá foi “destilar” o seu charme para outras paragens, deixando-nos sossegadas.
Pelas 05h30 deixámos o Palácio Gaviria que continuava cheio e, depois de nos despedirmos de A e R que se tinham hospedado num quarto de hotel localizado por perto, fomos até uma estação de metro para apanharmos o primeiro, às 06h00, que nos levaria até aos nossos quartos de hotel. Na tarde seguinte, F tinha uma viagem de comboio para Paris e nós as cinco, um regresso a Lisboa de carro, para além de que tínhamos de largar os quartos até às 12h30.
01/07 - 12h30
Eu e T fomos as primeiras a fazer o check out do hotel e ficámos a aguardar no lobby pelas outras. L, C e D estavam na cola para fazerem o ckeck out há imenso tempo porque a moça que estava a atender não despachava um indivíduo que se encontrava em primeiro lugar.
Um galego que também se encontrava na mesma cola resolveu destressar dizendo algo do género “Devem estar a filmar-nos com uma câmera oculta, tipo candy camera!” Claro que estoirou tudo a rir, menos a moça que não deve ter gostado da piada.
Um galego que também se encontrava na mesma cola resolveu destressar dizendo algo do género “Devem estar a filmar-nos com uma câmera oculta, tipo candy camera!” Claro que estoirou tudo a rir, menos a moça que não deve ter gostado da piada.
Quando finalmente resolvemos as questões com o hotel, lá arriscámos metermo-nos as seis no carro porque iríamos almoçar, novamente tapas, e deixaríamos F num metro que a levaria directamente para a estação de comboios.
O calor era imenso e parámos numa esplanada de um dos lados da Castellana para nos alimentarmos. As tapas estavam una mierda mas as bebidas, muito geladas souberam-nos “que nem ginjas” apesar do café ser otra mierda o que por aquelas paragens é normal.
Na mesa ao lado, estavam dois indivíduos e um deles meteu conversa connosco perguntando-nos se éramos lesbianas, se tínhamos vindo ao Europride e se tínhamos gostado. Dissemos que sim e lá continuou num monólogo sobre os casamentos gay que interrompia fazendo perguntas a C (com quem engraçou) que não primavam pela discrição e que recebiam, como resposta, uns lacónicos “sim” e “não”. Sem que lhe fosse pedido e pouco antes de se ir embora, deixou o número de telefone a C num pequeno papel que obviamente acabou embebido num resto de café dentro de uma chávena. No entanto, imediatamente antes de se ir embora, teve a lata de nos dizer para não sermos gulosas e deixarmos algumas mulheres para os homens heterossexuais. Entreolhámo-nos desconcertadas enquanto F murmurava: “pauvre type!”
Depois de nos despedirmos de F, afastámo-nos discretamente para que esta e D se despedissem de forma amorosa. Ao fim e ao cabo só se veriam dali a um mês.
Tinha chegado a hora de rumarmos a Lisboa e, ligado o GPS, pusemo-nos a caminho.
Ao fim de uns quilómetros, necessitámos fazer uma paragem numa estação de serviço.
Em Espanha, as estações de serviço ficam, muitas vezes, longe das autovias o que nos obriga a sair da rota. O GPS informava que se estava a reprogramar e a voz gravada dizia o mesmo, até que entrou em looping e calou-se. Desatámos a rir com comentários que punham “a pobre senhora do GPS traumatizada e demitindo-se de funções porque não conseguia atinar com umas malucas que só faziam o que queriam não lhe ligando nenhuma!”
Quando saímos da estação de serviço, acabámos por nos perder e já estávamos de volta a Madrid. Depois de darmos com a nossa saída, colocamo-nos de novo na rota correcta. Não demorou muito e lá estava a voz feminina gravada “mantenha-se à direita. A 2 km vire à direita!” a risota foi geral.
Entrámos em Portugal e C lembrou-se que poderíamos jantar em Évora no Fialho. Fartinhas de tapas e com saudades de uma comida típica portuguesa, concordámos todas, mas para grande pena nossa o restaurante estava fechado. Vimos um outro que só serviria a partir das 20h00 o que nos obrigaria a esperar uns três quartos de hora. Com quase tudo fechado, acabámos por ir dar a um restaurante que não tinha o que desejávamos e com um serviço de mesas muito deficiente. Jantámos, é um facto, mas não ficámos satisfeitas.
Chegámos a Lisboa pelas 22h30, cansadas mas muito bem dispostas com um fim de semana diferente e lleno de alegria y locura.
Fim
8 comentários:
Será imaginação minha ou uma Tuga bem alimentada está sempre satisfeita? Esta tua última parte é bastante focada na barriguinha..estavas a escrever na hora de almoço? com larica?
Bjos
Inha
Inha
Lollllllll
Sempre bastante dependente do estado da "barriguinha", minha amiga. Com fome, fico uma disposição de cadela. Sem fome, vejo o mundo muito mais bonito.
Foi escrito ao final do dia, perto da hora do jantar, o que talvez explique a incidência na comida! :)
Beijos
Bem duca, que viagem alucinante!
O Fialho.....aaaiiii o fialho!!
Beijinhos ouriçados
Sweet Porcupine
Pois foi! Acho mesmo que quase um mês depois ainda não recuperei bem e ando assim a modos que meia alucinada!
Beijo
Olha que já vi muitas fotoreportagens que não chegavam nem aos calcanhares desta ... e atendendo que esta não tem fotos só posso concluir que aqui a minha querida Amiga Duca é uma mestra da escrita ... :)
Amei linda ... e vocês também devem ter gostado ... ;)
Cansadas e bem dispostas heim ????
Eh pá se há sensação que verdadeiramente adoro é essa ... :)
Beijos encaracoladamente em festa !!!!!
E sorrisos ... MUITOS !!!!
Gostei mesmo do teu relato! Tudo acabou por correr pelo melhor! O palácio Gaviria, ao vivo e a cores deve ser uma jóia, mesmo! Chegaste cansada, mas feliz! Com saudades da comida tuga, certamente! :)
Bjs!
Caracolinha
Nós gostámos muito da aventura. Foi diferente e muito divertida.
Não sou nenhuma uma mestra da escrita, a sério, apenas gosto de contar histórias sejam elas de ficção ou reais.
Beijos
Angell
O Palácio Gaviria é lindíssimo, se um dia fores a Madrid vai lá fazer uma visita.
Chegámos todas com saudades da comida "tuga". Não há dúvida que temos uma cozinha excelente e muito variada.
Beijo
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