quarta-feira, julho 11, 2007

Europride. Fim de semana em Madrid - A aventura II

30/06 - 15h00
... Continuação

Acordei alagada em suor, apesar de ter dormido bem. Devo, portanto, ter literalmente desmaiado de cansaço por oito horas. O quarto parecia o inferno de Dante, porque o ar condicionado encontrava-se desligado, dado T estar com gripe.

T é friorenta e não suporta ar condicionado que a deixa sempre doente. É uma florzinha de estufa, a minha menina. Só gosta de calor. Eu, pelo contrário, sou um forno, raramente me constipo e adoro frio ou, quanto muito, temperaturas temperadas. Tudo o que vai para cima dos 30º deixa-me com um humor de cão, perdão, de cadela.

T adora estar espojada ao sol e é fã do turismo praia-hotel-hotel-praia, preferencialmente nos países tropicais. Eu, gosto de estar à sombra, com um chapéu de abas que me ensombre o rosto e óculos escuros. Visitar cidades com muito para ver, culturalmente falando, é o meu turismo de eleição.

Enfim, temos as nossas diferenças e divergências, mas se fossemos iguais, a coisa não tinha qualquer piada.

Meti-me na banheira e tomei um duche frio que me soube a qualquer daquelas coisas que costumamos imaginar como dignas do paraíso. Entretanto, T acordou e foi para a banheira tomar um duche quente enquanto pigarreava aflita da garganta.

- Estou cheia de fome, preciso urgentemente de um café e de tomar os comprimidos. Tenho dores de garganta e agora também me dói um dente. Este, aqui atrás, ‘tás a ver? – Dizia ela mostrando-me um molar.
- ‘Tou, se calhar é dor reflexa. Que chato!

T, é o Pepe Rápido na arte de se despachar. Ao fim destes anos todos, ainda me surpreende a velocidade com que se arranja. Eu, sou um caracol. É mais um creme aqui e outro ali, é a dúvida entre a t-shirt ou a túnica, são os berloques e mais o perfume, etc. Coisas de gaja! Escusado será dizer que quando T saiu do quarto, ainda eu me aperaltava.

Encontrámo-nos com o restante grupo, já completo porque F tinha chegado de Paris às 09h30 da manhã.

Estava um calor insuportável e, eu, de chapéu de abas largas presas a cada um dos lados da cabeça, t-shirt leve, jeans, óculos escuros e abanando-me com um pequeno leque, mais parecendo uma gringa, procurei um café com uma sombra onde, com F que é francesa e muito mais loira que eu, nos instalámos. As outras quatro meninas ficaram ao sol. Cruzes!

Depois do café e de nos refrescarmos com águas muito geladas, apanhámos o metro até ao “Sol” que iluminava e aquecia uma Plaza Mayor cheia de esplanadas que nos convidavam a passar ali um bocado. Procurámos uma esplanada no lado da sombra, abancámos e, a um bem disposto e sorridente empregado, indicámos os nossos pedidos. Tapas, pão, cervejas e águas, como não podia deixar de ser. Ou as tapas estavam deliciosas, ou a nossa fomeca era tanta que engoliríamos tudo o que nos surgisse à frente em forma de comida. A verdade, é que nos alambazámos e a nossa disposição passou de, a meio gás para excelente.

Fui a uma esquadra de polícia para apresentar queixa pelo furto do meu BI, mas desisti da intentona porque percebi que iria passar ali o resto do dia. Contrariamente ao que se possa pensar, estas coisas naquelas paragens são muito mais complicadas que cá no burgo. Ainda falamos nós mal do nosso cantinho onde, na segunda feira seguinte, demorei umas meras três horas a participar o furto a um chefe de esquadra que, desde Janeiro não trabalhava porque lhe tinha dado um treco, coitado e, para mais, o modelo de queixa do computador, de que ele era um exímio utilizador, tinha mudado. “Compreende, minha senhora?” dizia ele com um ar de simpática impotência. Claro que compreendia mas, para evitar lá ter ficado até hoje, fui-lhe ditando o texto sobre os factos de modo claro, objectivo e conciso para qualquer eventualidade futura.

Saímos da Plaza Mayor pelas 19h30 e dirigimo-nos, sem pressas, para a Plaza de España onde a marcha chegaria vinda da Puerta de Alcalá.

A Plaza de España estava cheia, mas dava para nos movimentarmos e dançarmos ao som da música que vários artistas convidados interpretavam no palco ali colocado para o efeito.

Munidas de bebidas, juntámo-nos à enorme animação, às cores impossíveis e à beleza que tresandava no local. O que estes olhinhos se regalaram! Elas e eles eram lindos até dizer chega e, como se não bastasse, andavam por ali meio despidos exibindo uns corpos de fazer cortar a respiração.

Para quem continua a pensar que as lésbicas são feias e sapatonas, aconselho uma ida, num sábado à noite, à discoteca Maria Lisboa ou a uma Lesboa Party (ninguém vos tira pedaço porque são locais hetero-friendly) e garanto-vos que mudam de opinião.

A comunidade LGBT é pela diversidade. E, como é evidente, havendo vários tipos físicos de mulheres, também os há quando estas são lésbicas. Desde a butch mais ousada à mais diva das femmes, há de tudo, não esquecendo as diversas gradações entre os dois tipos. Aliás, tipo físico nada tem a ver com orientação sexual. Conheço mulheres heterossexuais que se vestem de forma masculina. As mulheres lésbicas do tipo físico mais feminino, a que chamamos femmes, apresentam-se, por vezes, de saltos altos que lhes alongam o passo dengoso, saia curta e justa que lhes mostra as bem lançadas e talhadas pernas, o olhar sedutor por detrás de uma impecável maquilhagem e um sorriso onde cintilam dentes imaculados bordados por lábios carmim. Nos anos oitenta era o lesbian chic, agora dizem que é o lesbi lipstick.

Os transsexuais MTF (male to female) mostravam, felizes, os seus bem operados e novos corpos femininos adornados com plumas.

Ouviam-se os acordes de “A quién le importa” e a multidão acompanhava, mais ou menos conhecedora da letra enquanto dançava. Os flashes disparavam fotos para a posteridade. Gritavam-se palavras de ordem contra a homofobia. Tudo isto acontecia enquanto aguardávamos a chegada de 40 carros ou camiões e outras representações apeadas que faziam parte do desfile.

Entretanto, A, irmão de D, que vive em Espanha e é casado com R, uma bonita espanhola, sabendo que a irmã se encontrava em Madrid, decidiu fazer um desvio na sua rota de férias e juntar-se a nós na Plaza de España, já o desfile decorria entre aplausos, beijos, sorrisos, lágrimas, cânticos, serpentinas, jactos de água, etc. Verdadeiramente inesquecível.

Continua ...

12 comentários:

Açucena disse...

Mais uns detalhes da calorosa e animada Madrid de ha uns dias atrás...Muito bem, quase nos transpostas até lá, com a meticulosidade!
Andei aqui a meter o nariz e fiquei com vontade de ir um dia à Maria Lisboa ou à tal Lesboa party...ah pois fiquei!!!

Duca disse...

Açucena

Pois deves passar da vontade ao acto e garanto-te que tu e a Margarita irão divertir-se. :)

Beijo

Inha disse...

Duca,
Continuo o gostar da aventura...
Bjos

Cristina disse...

ahh, afinal a coisa sempre se compôs:))

que bom. madrid só tem um defeito: no Verão é insuportável, pelo calor. mas é animadolas..

Maria Lisboa parece-me bem ;)

bjinhos

Lya disse...

olá linda

desculpa a ausensia, mas isto anda mal.

Adoro as tuas estórias, e da maneira como te divertes realmente!

beijokas

Angell disse...

Agora sim, tudo parece estar a ir pelo bom caminho! Fico á espera da continuação... :)

Finalmente consegui responder ao teu desafio. :)

Bjs!

Duca disse...

Inha

E a procissão ainda vai no adro... ;)

Beijo

Duca disse...

Cristina

Compôs-se e se não fosse o calor teria sido perfeito.

Beijo

Duca disse...

Lya

Não tens que pedir desculpa de nada. Aparece quando puderes.

Beijo

Duca disse...

Angell

A continuação não vem já a seguir, mas quase ...

Boas escolhas literárias. :)

Beijo

1.01 disse...

Entre 7 de Julho e 23 de Setembro, em Vila do Conde, a essência de Hitchcock invade a “Solar”- Galeria de Arte Cinemática e revela “Under Hitchcock”, uma exposição de arte contemporânea, onde artistas nacionais e estrangeiros, atestam nas suas criações a influência artística da obra e imaginário de um dos maiores

Duca disse...

Agradeço a dica 0.02