No próximo dia de S. Martinho, 11 de Novembro, Angola comemora o 32º aniversário da sua independência!
Na RTP1, anda a passar uma série, da autoria de Joaquim Furtado, sobre a guerra, entre os anos de 1961 e 1974, nessa, então, colónia portuguesa.
No dia 15 de Março de 1961, começou pela mão da UPA, a luta armada pela “libertação da escravidão de que era alvo o povo angolano” nas palavras de vários líderes da UPA entrevistados na actualidade para o programa.
Mas não é sobre o conteúdo do programa que trata este post, apesar de eu ter quase a certeza que sendo da autoria de quem é, não vai focar muitas coisas como, por exemplo, isto aqui. De facto, ainda está para vir o tempo em que se falará sobre Angola - passado e presente, sem fantasmas, com verdade, mas sobretudo com coragem e sem a preocupação de se atingir uma certa esquerda portuguesa que "ingénuamente" continua a acreditar que os cubanos e os, então, soviéticos, se instalaram em Angola depois da independência desta, só para ajudar (cooperar).
Mas, adiante!
No Correio da Manhã de hoje, na secção Mundo, há um título que reza assim:
“Angola: Segundo relatório de ONG Generais lucram com diamantes”.
De acordo com a notícia, há uma sociedade de generais angolanos a enriquecer enquanto a população vive como escravos. Há dezenas de milhar de garimpeiros sem quaisquer direitos e sujeitos “a compradores, polícias corruptos” e alvo de “abusos dos direitos humanos” nas zonas onde as “pedras da morte” são extraídas.
A chamada “empresa dos generais” teve um lucro de 83 milhões de euros nos últimos dez anos, “com a participação silenciosa” no negócio dos diamantes, o que equivale a mais de um milhão e meio de euros (cerca de 300 mil contos) por ano e por general.
Com os 83 milhões de euros “o governo angolano poderia ter construído cem hospitais provinciais, 150 escolas e pagar a 800 professores um salário mais digno, de mais 200 euros todos os meses durante 25 anos, sobrando ainda dinheiro para giz, papel e canetas”.
Libertos dos seus algozes: os portugueses, e passados que são 32 anos dessa libertação, os angolanos apenas conheceram como presidentes Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, vivem miseravelmente, são vítimas da corrupção e de constantes atropelos aos mais elementares direitos humanos, enquanto o seu presidente e, pelos vistos, mais uma dúzia de generais, vive num luxo asiático.
Não consigo deixar de pensar que naquele dia 15 de Março de 1961, terrível para os fazendeiros de Angola, suas famílias e respectivos trabalhadores, perdão, "escravos" que, na sua grande maioria, foram chacinados, a UPA não estava a lutar pelo fim da “escravização” do povo angolano e, sim, apenas pela mudança da cor da pele dos algozes do povo angolano.
Foi para isto que tanta gente lutou, foi torturada e, até, morreu?
10 comentários:
Querida Duca:
Li com muito interesse o teu post.
Quanto ao Joaquim Furtado focar o 27 de Maio na sua série sobre a guerra colonial, tal não é provável, não por ser ele quem é, mas porque esta purga se deu em 77, portanto já depois da independência de Angola.
Fui ler o post sobre o Livro "Purga em Angola" no blog do Eduardo Pitta, escritor que conheço desde 1970 de Lourenço Marques.
Nele se fala de minha Mãe e é pena não se poder deixar comentários, porque, embora haja uma adenda rectificativa do texto, esta não está completa.
Não houve propositada e reiterada omissão do nome do seu marido. Como nunca o ex-marido, e meu pai, Ângelo Veloso se deslocou a Angola para a libertar e evitar o pior. Embora saiba que nunca, mas nunca ele duvidou da inocência da minha Mãe.
As pessoas não sabem, mas para se ser militante do PCP tem de se estar na estrutura do partido e têm de se pagar quotas. A minha Mãe não pertencia ao PCP desde que saiu de Portugal em 1957, muito embora esta fosse uma das acusações que lhe fizeram e que queriam que ela confessasse.
No entanto e apesar disso, a sua integridade de carácter, seriedade e lealdade à causa angolana nunca foi posta em causa por NENHUMA das pessoas que a aconheciam, julgo que nem mesmo, por inverosímel que pareça, por Neto.
E não, não foi para isto " Muitos dos "libertadores" sonhavam com a casa, o carro, os privilégios e as posições dos colonos. Conquistaram-nas e tornaram-se piores que eles" que tanta gente lutou, foi torturada e, até, morreu.
Querida Cosmopolita
Agradeço o teu esperado (ainda bem) comentário a este post mais ainda quando faz um hiperlink para um blog que fala de um livro “Purga em Angola” onde é muitas vezes citada, como testemunha do 27 de Maio de 1977, uma distinta advogada e verdadeira antifascista (os que surgiram depois do 25 de Abril, para mim, não contam) de nome Maria da Luz Veloso, tua mãe e que eu tenho a honra de conhecer pessoalmente.
O Tempus Blogandi é um blog que pretende focar vários temas, pelo que, há posts mais “pesados” outros “nem tanto” e outros, ainda, “levezinhos”. Este, é dos tais “pesados” que não suscitam muitos comentários, salvo, os teus que são sempre bem vindos.
O programa de Joaquim Furtado é sobre a guerra em Angola que durou de 15 de Março de 1961 a 25 de Abril de 1974. No entanto, ainda não houve ninguém com coragem para falar do que se passou entre 26 de Abril de 1974 e a data da independência de Angola em 11 de Novembro de 1975, com Portugal a entregar à sua sorte muitos milhares de portugueses que ainda estavam em Angola e que tiveram de enfrentar o inferno de guerrilhas urbanas entre os movimentos MPLA, FNLA e UNITA pelo controlo das cidades angolas, sem qualquer protecção do exército português.
Foi uma vergonha o que se passou durante cerca de 19 meses em Angola, onde o número de civis indefesos mortos, entre brancos e pretos, foi superior ao número de militares mortos durante 13 anos de guerra!
Em Portugal, isto foi abafado porque se não o tivesse sido, Mário Soares e Almeida Santos não tinham tido as carreiras políticas que tiveram.
Mas a memória colectiva dos que viveram e sofreram durante esses 19 meses de cobardia portuguesa, ninguém apagará.
Ora, não será certamente Joaquim Furtado a falar sobre isto no seu programa e, por uma questão de coerência, também não falará da purga do 27 de Maio de 1977.
Não tenho a mínima dúvida das motivações da maioria dos "libertadores" como não a tenho relativamente à forma como vive actualmente o povo angolano e que se sabe muitíssimo pior que no tempo da colonização portuguesa!
Beijo
Angola já foi libertada?
Então ... aqueles sinais enormes de fome e de miséria são reflexo de quê?
Um beijo, Duca
Pois discordo totalmente deste post (sim, sou de esquerda).
É verdade que quer EUA quer a União Soviética tinham os seus interesses na independência de Angola, aliás o grande mal de Angola é precisamente a sua riqueza natural em petroleo e diamantes.
Mas os povos têm o seu direito à auto-determinação, não faz sentido existirem colónias.
É verdade que eles só foram governados até hoje por filhos da puta, Portugueses incluídos, mas isso não justifica a manutenção de colónias. A Inglaterra também "largou" todas as suas colónias ultramarinas (com mais ou menos sangue, veja-se a India e o Paquistão).
Massacres e banhos de sangue houve de ambos os lados, após essa primeira revolta da UPA os "brancos" vingaram-se indiscriminadamente na população "negra".
Na verdade, e custe a quem custar, a terra é "deles" nunca foi "nossa".
A "purga" de que falam, não a justificando claro, mas tem de ser enquadrada na altura politica que foi.
Se já antes do 25 de Abril os militares pouca ou nenhuma motivação tinham para combater (nem sequer meios militares tinham),
então depois do 25 Abril aquilo ficou completamente decontrolado, aliás cá mesmo em Portugal era a confusão que se se sabia quanto mais lá em Angola.
Sinceramente não vejo o que quer Mario Soares quer Almeida Santos mais podiam fazer, naquela altura não havia controlo absolutamente nenhum, apenas podiam contar com a boa vontade de MPLA e UNITA, o que como se sabe a sua unica preocupação que tinham era ocuparem o territorio da melhor forma estrategica para os seus próprios interesses pessoais.
Repórter
São reflexo da "escravidão" em que, pelos vistos, Angola continua a viver.
Beijo
Pedro
Eu não sou de esquerda nem de direita o que, em Portugal actualmente e cada vez mais, corresponde a dizer que, por enquanto, sou livre para dar a minha opinião mesmo que politicamente incorrecta. De facto, nem a direita nem a esquerda portuguesas defendem o que eu defendo.
É verdade que quer EUA quer a União Soviética tinham os seus interesses na independência de Angola, aliás o grande mal de Angola é precisamente a sua riqueza natural em petroleo e diamantes.
Acrescenta-lhe Cuba, se faz favor. Pois é, os outros têm toda a legitimidade para terem “interesses” e poderem “cooperar” à vontade em Angola, só “os filhos da puta” dos portugueses é que não podiam lá ter interesses e, portanto, tinham de ser corridos de lá após 500 anos de colonização com muita mestiçagem à mistura. Sim, convém não confundir a colonização portuguesa, que não foi boa como nenhuma é, mas que ficou muito aquém da colonização feita por ingleses, franceses, espanhóis, holandeses, etc.
É só perguntar a angolanos isentos e sem medo, como é que eram, por exemplo, tratados pelos soviéticos na altura da “cooperação”.
Aliás, esta ligeireza com os angolanos e uma certa esquerda portuguesa, trata os “interesses” dos outros e a ferocidade com que esses mesmos tratam “os filhos da puta dos portugueses” porque estes, há 500 anos descobriram aquilo e, como todos os europeus que naquela época descobriam terras nelas se instalavam, leva muitos angolanos a terem comportamentos de subserviência para como os “outros” e de arrogância (para não dizer racista) para com os portugueses.
Em lado nenhum do meu post lês que sou a favor do colonialismo e que não acredito no direito à autodeterminação dos povos. O problema é que eu sou mesmo a favor da autodeterminação dos povos com todo o significado que esta palavra encerra e não só com alguns. Chamar “interesses” a exploração não faz parte do meu dicionário. Para mim, exploração é sempre exploração, seja ela exercida pela direita ou pela esquerda. É como os assassínios políticos. Se por um lado não gramo Pinochet garanto-te que por outro não elogio Che Guevara, percebes o que quero dizer?
Massacres e banhos de sangue houve de ambos os lados, após essa primeira revolta da UPA os "brancos" vingaram-se indiscriminadamente na população "negra".
Estás a ver como tenho razão? Para ti, o que a UPA fez foi uma “revolta” o que os brancos fizeram foi uma chacina!
Meu caro, a revolta da UPA saldou-se em centenas de mortos, em certos casos famílias inteiras, assassinadas à catanada, esventradas, incluindo bebés.
A vingança de que falas foi perpetrada por familiares sobreviventes e militares que quando chegavam aos locais se depararam com um espectáculo de verdadeiro horror que perturbava a cabeça de qualquer um.
Não há razão para isto, não há! Mas, então, condenemos os actos de todos e não apenas os de alguns.
Sinceramente não vejo o que quer Mario Soares quer Almeida Santos mais podiam fazer ...
Exactamente, é essa a versão que passa em Portugal desde então. Para se ter a certeza de que poderiam fazer muito mais e melhor era preciso saber-se o que de facto se passou.
Na verdade, e custe a quem custar, a terra é "deles" nunca foi "nossa".
Se isto não fosse um assunto demasiado sério, eu daria uma gargalhada com a ingenuidade desta tua frase, Pedro.
A terra pode nunca ter sido nossa, mas olha que deles é que nunca foi e, infelizmente para o povo angolano, atrevo-me a dizer que nunca será.
Bom fim de semana
Não me expressei assim lá muito bem.
1 - Quando falo em interesses Americanos e Soviéticos (Cuba incluída), quero dizer que estes países queriam a independencia de Angola, não pelo bem dos Angolanos(não sou tão ingénuo a esse ponto), mas por interesses económicos e geo-estratégicos da guerra fria.
2 - O que a UPA fez é obviamente um massacre, o que alguns "brancos" fizeram como resposta é obviamente um massacre, ou seja, inocentes só os que morreram (e nem todos).
3 - Quando falo em filhos da puta, falo de Salazar, Eduardo dos Santos, Savimbi e outros. José Eduardo dos Santos é um dos lideres africanos mais corruptos que existe e é milionário enquanto a maioria do povo passa fome.
4 - A descolonização foi péssima, sangrenta e horrivel, é um facto. Podia ter sido feita de outra forma ? Não sei, mas tenho dúvidas. Na passagem de Salazar para Marcelo Caetano talvez tivesse sido mais fácil. No pós 25 de Abril, parece-me complicado.
5 - Haverá solução para África ? Com esta geração de líderes, nunca.
6 - Moral da história: Não há heróis e todos os ídolos têm pés de barro.
Pedro
Por outras palavras, acabas por dizer o mesmo que eu digo no post. Portanto, com esta tua explicação, não há dúvida de que agora estou muito mais de acordo contigo.
Erro, Duca!
Não mudou a cor da pele dos algozes, só a dos capatazes.
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