quarta-feira, março 07, 2007

Umas férias inesquecíveis - Parte I


Tal como havia prometido, venho falar de umas férias sui generis que passei em Agosto de 1999 em Skala Eressos, a pequena cidade da ilha grega de Lesbos, onde nasceu a poetisa Safo.
A minha amiga Citadina (que vou passar a tratar por C) num jantar de convívio entre amigas num restaurante de comida brasileira, disse que desejava ir em Agosto a Eressos porque tinha combinado encontrar-se por lá com uma amiga grega e o grupo dela. Não precisou fazer grande esforço para aceitarmos, todas felizes, ir com ela.
A C foi, assim, acompanhada por mim, por T que na altura era a minha mulher (não era namorada, era mesmo mulher, pois vivíamos juntas há anos e só nos faltava o sim na igreja acompanhado de missinha, cantoria, comunhão e muitos ámens) mais A que estava sem namorada (pelo menos oficial) e P que não sabia muito bem o que queria e andava meio baralhada relativamente à sua sexualidade, talvez devido à sua juventude pois tinha apenas 22 aninhos.
Como não há nada de extraordinário a assinalar no que ao meu aspecto físico diz respeito, vou passar de imediato à descrição física das outras quatro mulheres.
C, é uma jovem mulher lindíssima, com tudo no devido sítio, inteligente, culta e divertidíssima.
T, sem qualquer receio de exagerar, é de cair pró lado. Uma morena com uma beleza exótica, muito sedutora, feminina, com um corpo perfeito, enfim, não lhe faltando nenhum predicado, benza-a Deus. Atenção que não digo isto porque foi minha mulher, pois comigo não funciona aquele ditado do “quem feio ama bonito lhe parece”.
A, sem ser uma mulher propriamente bonita, é muito interessante e também com tudo no seu devido lugar.
Finalmente P, a bebé do grupo, é aquilo que se chama uma beleza fora de comum. O raio da miúda (que agora tem 30 anos) é tão bonita, mas tão bonita que é impossível alguém não ficar a olhar para aquela beleza clássica e perfeita em completo encantamento. Uma autêntica Vivien Leigh (a Scarlett O’Hara de “E tudo o vento levou”).
Irão perceber, mais tarde, porque me detive na descrição do aspecto físico das minhas amigas.
Portanto, eram estas cinco amigas com idades compreendidas, na altura, entre os 22 e os 42 anos que se juntaram no Aeroporto da Portela com destino a Milão e depois Atenas para uma semana de férias na ilha grega de Lesbos.
............

Já deitávamos aviões e aeroportos pelos cabelos, quando aterrámos em Atenas, uma cidade feia com um tráfego impressionante e um escudo protector cinzento que não nos permite ver a cor do céu, o que a transforma numa das cidades mais poluídas do mundo.
Depois do check-in no hotel, fomos avisadas que o avião para Lesbos sairia no dia seguinte cedo e, portanto, tínhamos de acordar às 05h00 da manhã; uma notícia que, como se calcula, põe qualquer mortal muito bem disposto.
Lá fomos para os dois quartos. Um duplo para o casal constituido por mim e por T e um triplo para a A, C e P.
Como eu e T estávamos a passar uma crise conjugal, depois de largarmos as bagagens no quarto, enfiámo-nos no quarto triplo onde a diversão era garantida.
P, sacou de uma pedra (enorme) de haxixe e toca de desatarmos todas fumar. T, fartou-se de dar passas, desculpando-se que aquilo não lhe fazia nenhum efeito (pois não, não me deixou pregar olho a noite toda obrigando-me, em consequência, a andar no dia seguinte a arrastar-me literalmente com umas olheiras até à boca e um aspecto de boémia que só visto).
Pelas 06h00 da manhã lá nos arrastámos, as cinco, até à sala de refeições do hotel para tomarmos um pequeno almoço, servido por empregados igualmente mais mortos que vivos.
Chegadas, de novo, ao aeroporto, vimo-nos no meio de um autêntico pandemónio pois era uma loucura de gente a querer ir para as várias ilhas gregas. A nossa sorte foi que a maioria ia para as ilhas mais turísticas, como Mykonos e não para Lesbos.
Dentro do avião e já com este de rodas no ar a caminho de Lesbos, P lembra-se que se tinha esquecido do “pedragulho” de haxixe no quarto do hotel, em Atenas. Ficámos tristíssimas porque o produto era bom e serviria para uma boa parte das férias e, só não lhe fizemos (à pedra) o enterro com direito a carpidura, porque nos lembrámos que talvez o hospede seguinte a encontrasse e usufruísse do prazer que ela lhe proporcionaria.
A voz roufenha da hospedeira informa-nos num inglês macarrónico que estamos a chegar ao aeroporto de Mitilene, a principal cidade de Lesbos e que devemos manter-nos sentadas com os nossos seatbelts fasten.
Pela janela vejo Lesbos, a terceira maior ilha grega (a maior é Creta e a segunda maior é Rhodes).
Olhando Lesbos lá do alto, não consegui deixar de sentir um tremor de emoção e prazer, acompanhados por um sorriso, por estar prestes a aterrar na ilha da grande Safo, essa extraordinária e misteriosa mulher e poetisa, pioneira na expressão literária do desejo homossexual feminino, cuja obra, foi destruída quase na sua totalidade apenas restando alguns excertos, pelos homens que, desde há demasiado tempo, têm comandado este mundo.

(continua)

13 comentários:

Anónimo disse...

"(...)e ris cheia de graça. Mal te vejo
o coração se agita no meu peito,
do fundo da garganta já não sai
a minha voz,

a língua como que se parte, corre
um tênue fogo sob a minha pele,
os olhos deixam de enxergar, os meus
ouvidos zumbem,
e banho-me de suor, e tremo toda,
e logo fico verde como as ervas,
e pouco falta para que eu não morra
ou enlouqueça."
Autora: Safo, in «Contemplo Como o Igual dos Próprios Deuses»

Bacio per te bella Donna

Citadina disse...

Ai Duca, que exagero na descrição da minha pessoa!! Depois quando me conhecerem vão-te perguntar, espantadas: "Este estafermo é que é a C?!"
Mas obrigada pelos elogios :-)
Esqueceste-te de dizer que, além da "pedra", deixámos para trás perfumes, peças de roupa... Enfim, aquilo queimou-nos mesmo uns milhões de neurónios (por isso é que hoje temos tão poucos...).
E o calor que fazia?! Trinta e tal graus À NOITE em Atenas!! Com um ambiente assim, só podia ter dado... o que deu!
Aguardo com expectativa os próximos episódios!
Beijos!

As vossas vizinhas disse...

Duca,
Cá estou a ler(a Viz lerá amanhã e de certeza com um interesse especial) as tuas (vossas) aventuras pelas terras helénicas.
Quero saber como chegaram até Skala Eressos...taxi, correcto? Nem me passa pela cabeça que tenham ido de outro modo, a não ser que tenham alugado carro ou burro...lol. Espero a continuação..os comentários virão depois.
Já te orientaste com o clock?
Bjos
Inha
Ps: Atenas é hoje uma cidade um pouco diferente. Os jogos Olimpicos obrigaram a um refresh na cidade. Eu gosto de passear em Atenas (em algumas zonas, claro, outras ainda necessitam de muito "facelifting"). É uma cidade com vida e vivida.

As vossas vizinhas disse...

Ai, esqueci-me de assinar, aqui vai:
.
.
Bjos
Inha

As vossas vizinhas disse...

lol, estou a ficar senil..já tinha assinado antes do "PS".
Sorry, deve ser da emoção de ir buscar a Viz!!

Dara Samora disse...

Bemm, emoção com história ou história c emoção!!
Muito bem...

Beijinhos,
DARA MARTINS

Duca disse...

ELA

Como a Doce Maçã

Como a doce maçã que rubra, muito rubra,
lá em cima, no alto do mais alto ramo
os colhedores esqueceram; não,
não esqueceram, não puderam atingir.

Safo


Bacio Principessa

Duca disse...

Inha

Espero que a Viz já cá esteja e que ambas se encontrem muito felizes pelo reencontro.

Fico muito feliz com a notícia que me dás sobre o facelifting que os Jogos Olímpicos impuseram a Atenas, pois em 1999, a cidade para além de estar muito deteriorada, suja e poluída, era verdadeiramente sufocante.

Os próximos episódios das férias em Lesbos estão na forja e não demoram! :)

Beijo

Duca disse...

Citadina,

Exagerada, eu??? Estafermo, tu???

Se bem me conheces, sabes que não sou mulher de elogio fácil. Quando digo que uma mulher é bonita, já o restante pessoal anda há imenso tempo a fazer exclamações sobre ela, do género: "Ai, mãezinha que aquilo é mesmo um rico fim de semana!"

És uma linda mulher, és! Tens uma bela cabeça, tanto por dentro (para mim o mais importante, como sabes) como por fora!

Lembras-me como a noite em Atenas estava de sufocar e nós a atirarmo-nos ao haxixe como gente grande. Lol

E recordas-te que com aquele calor todo queríamos ir para a piscina do Hotel (áquela hora da noite) mas os gajos não nos deixaram; devem ter percebido o estado de completo delírio (por causa do calor e do haxixe) em que nos encontrávamos e devem ter tido medo que nos afogássemos! rsrsrs.

Fazes bem em me recordares certas cenas que a esta distância já é difícil conseguir pormenorizar.

Beijos, minha querida!

Duca disse...

Dara,

Dei um pulo ao teu blog e não é que gostei do que li? Vou ter que lá voltar mais vezes.

Os próximos episódios não demoram!

Obrigada pela visita!

Beijos

As vossas vizinhas disse...

Estou a ver, pois, Aténas graças a Deus já mudou...
Felizmente o aeroporto tambem é novo.lolol.
Aguardo o próximo episódio da série "lesbian hollidays in Lesvos", com comentário acerca da viagem mytilini-scala eressos.
Filakia
Viz

Citadina disse...

Pronto, admito: é sempre bom quando acham que nós dávamos "um rico fim de semana" ! :)
Beijos, linda!
PS - Depois hás-de-me dizer quem, concretamente, disse isso :-))
(só para eu agradecer o elogio pessoalmente, claro!)

Anónimo disse...

Tenho, na verdade, uma questao a fazer. Como é que a tua amiga consegui passar a tal pedra de haxixe no aeroporto? Estou a planear uma viagem com um grupo de amigos e a tua resposta facilitar-me-ia a resoluçao deste problema, ao mesmo tempo que me facultaria uma viagem mais agradavel :)