terça-feira, outubro 07, 2008

Eleições no Brasil


No passado domingo foram as eleições para a prefeitura (câmara municipal) das 26 capitais de estado do Brasil. Destas, 15 já elegeram tanto os prefeitos (presidentes de câmara) como os vereadores, faltando decidir na 2ª volta 11 capitais de estado.

Do resultado, há um reforço do PT e, consequentemente, de Lula da Silva. O PT, até agora elegeu seis prefeitos, em Recife, Fortaleza, Vitória, Palmas, Rio Branco e Porto Velho. O PMDB (aliado do PT no governo) conquistou Campo Grande e Goiânia. O PP conquistou Maceió e Boa Vista. O PSB manteve a Prefeitura de João Pessoa. O PC do B conquistou Aracaju e o PV Natal.

Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro vão escolher os respectivos prefeitos na 2ª volta.

Em São Paulo a disputa será entre o actual prefeito Gilberto Kassab do DEM e Marta Suplicy do PT.

Mas a surpresa foi na “cidade maravilhosa” com a passagem à 2ª volta do candidato do Partido Verde, Fernando Gabeira que derrotou o candidato do PRB, o evangélico Marcelo Crivela. Assim, Gabeira vai "à final” com Eduardo Paes do PMDB.

Ora, a minha especial atenção sobre o que se passa no Brasil em termos políticos prende-se com o facto de, muito em breve, eu ir para lá viver.

Sou lésbica e interessa-me que o PT saia reforçado destas eleições pois, perspectiva-se, assim, uma vitória do PT nas eleições de 2010, já não com Lula da Silva, mas com a candidata por si apoiada, Dilma Rousseff.

E, interessa-me, porque é do conhecimento geral que o PT apoia a luta da comunidade GLBTT brasileira no acesso aos tais 37 direitos que lhes são negados.

De qualquer modo, apesar de satisfeita com o resultado destas eleições, até ao momento, não posso deixar de fazer uma forte crítica à comunidade GLBTT carioca que “deixou cair” Roberto Gonçale, candidato a vereador, homossexual assumido e um activista de mão cheia. De facto, não percebo os 348 votos do candidato! É que não é preciso fazer contas complicadas para se perceber que a maioria dos eleitores GLBTT do Rio de Janeiro não votou nele. Os pequenos “poderzinhos” atacam em todas as frentes e as comunidades GLBTT de todo o mundo não lhes são imunes. Certamente que a eleição de Roberto Gonçale não traria os dividendos que as organizações GLBTT esperam vir a ter com a eleição de outro candidato.
Triste, mas sobretudo, de lamentar, pois deram, de mão beijada, um forte argumento à oposição homofóbica: “se os próprios GLBTT não votam nos candidatos com a mesma orientação sexual, somos nós que vamos defender os interesses deles?” Pois é, depois reclamam que lhes são negados direitos!

Tirando esta decepção, não posso deixar de salientar o facto de os brasileiros estarem cada vez mais convictos de qual o partido que, em geral, melhor defende os seus interesses. É que foi com o PT de Lula da Silva que, pela primeira vez, o Brasil saldou por completo a sua dívida externa. E este, minha gente, é um dado importantíssimo para qualquer país que deseja crescer em termos económicos.


8 comentários:

Andarilha das Estrelas disse...

Amor querido
Seu post está muito bem colocado, como sempre, aliás! Alem do humor delicioso, vc tem uma perfeita consciência de cidadania internacional!
Pois complementando este quadro vergonhoso:
Tivemos, de acordo com o site Mix Brasil cerca de 128 milhões de eleitores nas urnas.
Ora, colocando o percentual estatísco, cerca de 12 milhões de eleitores são homossexuais.
E o que tivemos como resultado eleitoral: Dos 74 candidatos homossexuais apenas 4 se elegeram para a Camara Municipal. E em todo o Brasil, eu estou dizendo em todo o Brasil, os votos aos candidatos homossexuias somaram apenas 66 mil.
É uma tristeza, uma lástima!
Veja, é evidente que não é apenas por serem homossexuais que devam receber votos não!
É porque estes números refletem nossa pouca união e nosso tão pequeno exercício de cidadania LGBT.
Fico a perguntar como podemos depois exigir legislação?
COmo podemos exigir que o PLC 122 saia da gaveta?
Como exigir que alguem legisle em favor dos direitos homossexuais, como vc bem coloca, os 37 direitos que nos são negados?
Como faze-lo, com esta comunidade tão mesquinha com os seus?
É evidente que continuaremos a exigir, pois somos cidadãs e cidadãos que pagamos impostos e mais, exigimos MESMO!!!!!!!!!!!Porem com muito menos condições do que se tivessemos nas camaras Municipais de vereadores , os legisladores LGBTs!
Assim, vamos caminhando, de cabeça baixa e com trsiteza, é verdade, mas continuemos a caminhar!

Duca disse...

Amor,

Então, quer dizer, que dos 10 a 12 milhões eleitores brasileiros homossexuais, só 66 mil votaram em 74 candidatos GLBTT em todo o Brasil e, consequentemente, só 4 candidatos GLBTT foram eleitos!
Lamentável mesmo!
E nem venham com a desculpa de que se deve votar sem olhar à orientação sexual e sim à competência! É que eu não acredito que dos 74 candidatos GLBTT só 4 sejam competentes! Fala sério!
Bom, a leitura que faço é a da falta de consciência política por parte da maioria dos GLBTT que só saiem da sua zona de conforto quando há plumas, música, festa e encontros e, também, da desunião dos grupos GLBTT que andam mais preocupados com os seus pequeninos poderes e com os dividendos míseros que lhes são distribuídos para manterem as cabeças "orgulhosamente" à tona do lamaçal!
Por outro lado, os evangélicos estão muito bem organizados e o PL 122/2006 vai continuar empoeirado nas gavetas do Senado e, agora, com mais razão, pois os GLBTT mostraram como estão interessados em derrubar os evangélicos do poder. Assim, acredito que o Brasil se torne, em breve, uma teocracia! Cruzes!
Infelizmente, minha querida, aqui em Portugal não é muito diferente, e olha que sei do que falo.

Duca disse...

Amor,

Outra coisa, havendo o risco do Brasil virar uma teocracia, eu não vou viver aí! O melhor é mesmo começares a pensar em fazer as malas e vires com as crianças para cá!

Cosmopolita disse...

Meninas, calma!

Primeiro porque uma percentagem de 10% de a população ser homossexual é apenas uma estimativa mais ou menos fiável.

Segundo porque muita gente pode ter votado em branco por não acreditar que o sistema funcione.

Depois porque já terem elegido 4 deputados é uma vitória num pais em que se matam por dia montes de homossexuais!

Estes processos demoram o seu tempo e acho que, em vez de desanimarem, deviam pensar nas medidas a tomar para unir e reforçar o lobby gay de forma a que, com uma minoria de deputados GLBTT, consigam que o tal PL 122/2006 saia da gaveta.

Coragem!

Anónimo disse...

Querida Duca:
Corrije-me se eu estiver enganada: 1ª O tal PL 122/2006 aprova-se no parlamento ou nas prefeituras? Se é no parlamento, os homossexuais devem lutar para ter um grande lobby lá. Eficácia é o que se quer.
2º Não vejo porque é que se há-de votar em alguém para GOVERNAR UMA CIDADE só porque tem a mesma orientação sexual que nós... Não era melhor falar do PROGRAMA de governo para a prefeitura desses tais candidatos homossexuais? Se esses programas forem os melhores para a cidade, que é aquilo que se está a avaliar, então deve-se votar neles.
Senão, por exemplo em Portugal TODOS os homossexuais deveriam votar no BE, que é o único partido que verdadeiramente defende os direitos dos homossexuais, independentemente de as eleições serem para a Assembleia da República, Autarquias, Presidência ou Parlamento Europeu. Ora isto não faz assim muito sentido...

Eu por mim estou com o Gabeira e pelo que conheço dele parece-me que os direitos dos homossexuais estarão muito bem defendidos se ele ganhar.

Duca disse...

Cosmopolita

É um facto, mas há um dado que eu desconhecia; é que no Brasil o voto é obrigatório, portanto, não há abstenção. Assim, custa-me a acreditar que mesmo baixando a estimativa dos 10%, nove milhões novecentos e trinta e quatro mil homossexuais tenham votado nulo ou em branco. É que nem um milhão de homossexuais votou em candidatos GLBTT. Os números são de facto deprimentes.
Perante este quadro tão triste, não sei se não seria altura de as organizações LGBTT brasileiras repensarem toda a sua forma de actuação, divisões e preocupação com os poderzinhos pois, pelos números é claro que falharam redondamente!
Como é possível que numa cidade como o Rio de Janeiro, que junta anualmente na parada gay três milhões de pessoas, tenham apenas votado 348 pessoas no candidato a vereador, assumidamente gay, competente e um activista com um curriculum excelente?
E como é possível que numa cidade como S. Paulo que tem anualmente a maior parada gay do mundo com mais de quatro milhõs de pessoas, tenha cinco candidatos LGBTT e nenhum tenha sido eleito?
66 mil votos em candidatos GLBTT em todo o Brasil? É mau demais e deixa quem luta, trabalha e gasta energia, sem qualquer compensação monetária, completamente desmotivada.
De qualquer modo, deixo os meus parabéns à comunidade GLBTT de Salvador (no nordeste considerado muito conservador) a eleição para vereadora da travesti Leo Kret.

Duca disse...

Querida Citadina,

A questão do voto pela orientação sexual, obviamente, não se coloca. O que eu e a Andarilha temos estado aqui a colocar é a falta de expressividade dos números!
Em 74 candidatos LGBTT só 4 são competentes e com bons programas? Num universo de 10 milhões de pessoas LGBTT em que são obrigadas a votar só 66 mil votaram em 74 candidatos?
O PL122/2006 está nas gavetas do Senado para ser colocado a debate, portanto, nada tem a ver com as Prefeituras. E percebo muito bem o que queres dizer quando falas em eficácia e na importância de haver um grande Lobby Gay no Senado!
Mas, amiga, aí é que está o busílis! Lobby Gay? Como? Por estas eleições sente-se claramente o pulso de uma comunidade LGBTT desunida, preocupada com quem manda o quê, sem visão e/ou consciência política!
O Gabeira tem também o meu apoio e ele vai à segunda volta para Prefeito com o Eduardo Paes. No entanto, o Roberto Gonçale (o homossexual de que temos estado a falar) era candidato a vereador e não a prefeito.
Continuo a achar que houve um grande desapoio e uma tremenda falta de perspectiva por parte da comunidade LGBTT brasileira.

Maria Guilhermina Cunha Salasario disse...

Não discordo de vocês, creio que, infelizmente, tenham razão, faltou-nos visão integrada, não falo por mim, que votei em quem devia, tanto pensando na orientação, como na profissão e qto aos direitos humanos, mas daqueles que vão nas paradas, nas baladas, nos botecos, mas não vão em conferências, seminários e nem elegem glbt para a câmara. Alguns eu entendo, seus objetivos são outros, saúde, moradia, trabalho....
No entanto a grande maioria não pensa assim, provavelmente, não votam nele, pq preferem votar nela, nem em trans por ser caricata, ou simplesmente tem medo de votar em LGBTT, pois isto poderá lhe fazer mal posteriormente.
Pensem meninas, o Brasil apesar de Ser enorme ainda é jovem, ainda tem em "suas veias o sanguem velhos dos avós" e ainda preferem "amar o que é fácil".
Sinto-me triste, mto triste, principalmente por viver numa capital linda pelos seus atrativos naturais, mas que politicamente é nula, é um dos melhores lugares para o turismo, com liberdade de expressão e quase nula violencia em relação ao público lgbtt, mas que não entende nada de política e nem de partidarismo. Pelo menos não no que tange aos direitos adquiridos ou mesmo aos que se quer adiquirir.
Bem.... Acho que já falei demais pelo meu tamanho. qualquer colocação por favor entrem em contato: Orkut - GuilherminaSalasario