terça-feira, dezembro 04, 2007

Infidelidade e adultério

Há bastante tempo que tinha vontade de falar sobre este tema mas ainda não me tinha surgido a disponibilidade mental necessária para o efeito. A Insaciável, com este post e ainda com este inspirou-me quando faz a seguinte pergunta:

O que é a infidelidade e quando começa? No pensamento? Na cama? Ou palavras que se dizem e que se escrevem? Onde está a vossa bitola? Estaria eu, acima ou abaixo dessa fasquia? E é mais justificável nos homens do que nas mulheres?

Por natureza, os seres humanos não são monogâmicos. Foi, primeiramente, a sociedade ocidental formada sob a égide da mitologia judaico-cristã e consequentemente patriarcal que nos “convenceu” que o somos. Em tempos de grande obscurantismo, não só nos convenceu, como nos obrigou, pois o adultério chegou a ser punido com a pena de morte. Em certos países, o adultério feminino ainda é punido com a pena de morte.

A sociedade instituiu o casamento para garantir a posse material e a hereditariedade. Ora, até há bem pouco tempo, antes de ser conhecida a importância do ADN, qualquer criança saída do ventre de uma mulher era seu filho. Enquanto que um homem nunca tinha a certeza de que a criança era seu filho. Daí que a imposição de fidelidade sexual fosse muito mais exigível à mulher que ao homem. Por outro lado, esta mesma sociedade foi e ainda é extremamente cruel para com o homem “enganado”, pondo em causa a sua masculinidade e sujeitando-o a enxovalhos com consequências psicológicas que podem ser muito traumáticas. Daqui aos crimes de sangue foi um passo. Ainda hoje, em países de que Portugal é um triste exemplo, o adultério feminino ou a desconfiança da sua existência, levam um número muito grande de homens a punir a companheira assassinando-a. Limpam a sua honra com o sangue da “sem vergonha”. E, as decisões proteccionistas dos tribunais relativamente a estes crimes e outros praticados por homens, vieram ajudar à sua disseminação. Lembro-me de um acórdão de 1989 em que os juízes confirmaram a condenação a apenas quatro anos de prisão de um arguido de violação e sequestro de duas mulheres jugoslavas. Os juízes fizeram questão de escrever: “Se é certo que se tratam de crimes repugnantes que não têm qualquer justificação, a verdade é que, no caso concreto, as duas ofendidas muito contribuíram para a sua realização. As duas ofendidas, raparigas novas, mas mulheres feitas, não hesitaram em vir para a estrada pedir boleia a quem passava, em plena coutada do chamado ‘Macho Ibérico’.”

A fidelidade é uma criação de uma sociedade fechada, obscura e ignorante que impunha aos respectivos povos mitos que, consoante a sua conveniência, ia inventando com o intuito de lhes causar um extremo temor divino representado na terra por uma igreja sequiosa de poder e riqueza.

Ora, ainda hoje nas sociedades onde as igrejas ou filosofias religiosas têm grande influência, é notória a rigidez posicional no que respeita a actividades sexuais, principalmente da parte de mulheres casadas ou amancebadas fora dos seus relacionamentos. Nalguns países essa rigidez é notória até para com as mulheres solteiras.



A revolução sexual dos anos 60 não chegou a Portugal porque estávamos “orgulhosamente sós”. Em 74 deu-se em Portugal uma revolução inédita, feita de cravos e sem derrame de sangue. Esse sangue foi derramado uns meses depois nas então províncias ultramarinas com vários movimentos, auto-proclamados no início da guerra colonial de libertação dos respectivos povos, sedentos de poder e a gladiarem-se em guerras urbanas causando, colateralmente, milhares de vítimas entre a população civil, enquanto Portugal assobiava para o ar e, ainda por cima, se revoltava contra os portugueses (mesmo de segunda) que a fugir à guerra e à morte certa, aportaram aos aeroportos desta santa terrinha composta de analfabetos, beatos e ignorantes de fazer dó que não conseguiam entender que há decisões tomadas de forma deslumbrada e em cima do joelho que têm um preço. Um preço, por vezes, demasiado alto e não só para alguns.

Nos anos 80 quando se começava a tentar recuperar do atraso no que respeitava a uma revolução sexual, surgiu o HIV e logo apareceram alguns cavaleiros do apocalipse a anunciar que era castigo divino e que os homossexuais e adúlteros(as) eram proscritos. O retrocesso foi uma realidade.

Hoje, dada a continuidade da influência de uma igreja tradicional que retrocede perante a mudança, continuamos timidamente a tentar sair da ignorância e provincianismo que ao longo de centenas de anos nos tem assolado. Para a mudança de mentalidades, de pouco nos tem valido uma pseudo-democracia com mais de 30 anos cujo leme tem sido guiado por incompetentes "navegadores".

Teoricamente, a infidelidade é o não cumprimento de um compromisso de fidelidade. A infidelidade começa quando alguém dirige os seus pensamentos sentimentais ou desejos sexuais para alguém que não é o seu cônjuge ou companheiro(a). As palavras sentimentais ou sensuais dirigidas também a alguém que não é o(a) companheiro(a) ou cônjuge, surgem dos pensamentos, logo, há infidelidade quando são proferidas ou escritas.

Quando se passa dos pensamentos e palavras à acção, estamos perante o chamado adultério.

Somos todos infiéis, homens e mulheres e, se nem todos cometemos adultério é porque nos faltou oportunidade. E esta oportunidade assume várias formas: receios de cariz religioso, medo de ser apanhado na curva e consequente perda, não desejada, do(a) companheiro(a) com quem se tem partilhado a vida, temor de ser um proscrito socialmente falando, educação, diferença de idades, razões logísticas, falta de dinheiro, falta de interesse da pessoa que se deseja, etc., etc.

A infidelidade e/ou adultério quando é do conhecimento do outro causa-lhe dor? Claro que causa! Basta dizer que o outro foi atingido no seu orgulho e/ou ego e pode, ainda, temer a perda da pessoa que ama. Mas, é a vigilância sobre o outro que evitará a infidelidade? Não, porque já todos fomos, somos e seremos alvo de infidelidades e todos fomos, somos e seremos infiéis. E evitará o adultério? Também não! Então, porque nos haveremos de comportar de uma forma tão estúpida com atitudes de posse, ciúme e violência que destroem uma relação mais do que a infidelidade e mesmo o adultério quando passageiros?

Quando perceberemos que a liberdade responsabiliza?

São muitos anos de uma cultura que está profundamente enraizada dentro de nós e é muito difícil libertarmo-nos. É um facto! Mas começa a ser altura de mudarmos certos valores que só nos têm tornado infelizes porque não são, na sua génese, naturais visto as pessoas não serem objecto de posse seja de quem for. Haja, ao menos, alguma razoabilidade!

28 comentários:

Sabina disse...

Muito, muito bom. Obrigada pelos esclarecimentos.

Concordo contigo. Acho que ninguém consegue definir muito bem a infedilidade porque ninguém sabe muito bem definir a fronteira entre fidelidade e posse.

De qualquer forma, terás um texto (nunca á altura deste) como resposta um dia destes.

Beijos grandes

Anónimo disse...

Duca
Este é um tema polémico, complexo e multidimensional. A história, a filosofia, a sociologia, a psicologia e a biologia são algumas das áreas do conhecimento que podem contribuir para clarificar o debate deste tema. Há que distinguir monogamia de fidelidade e de adultério. A (in)fidelidade não é exclusivo da monogamia nem implica adultério.
Tenho para mim, que de uma forma bem incorrecta mas que me é muito cara, uma coisa é a ciência outra coisa são os afectos.
Do ponto de vista científico, a minha preferência neste domínio, vai mesmo para a biologia. Explica-nos o que é monogamia, poligamia e promiscuidade sem juízos de valor. Todas têm vantagens e desvantagens e visam determinados objectivos evolutivos. Tudo se relaciona com a selecção natural e com a evolução das espécies. Dependendo dos contextos, um ou outro estilo de comportamento será o meia adequado. E até encontramos exemplos de espécies monogâmicas (embora ocorra apenas em 3% a 10% das espécies e em todas elas se verifique infidelidade).
Pessoalmente, sou adepta da monogamia e fanática pela fidelidade e condeno profundamente o adultério. Sei que esta postura pode ser rotulada como ortodoxa ou como o produto do socialmente desejável e socialmente construídos. Mas será que as coisas são assim tão simples? Será que modernidade tem de ser sinónimo de modernice? Será que no que toca a relações e sentimentos temos de nos reger pelo politicamente correcto? Eu acho que não.
Considerando a definição de fidelidade que apresentas, concordo que somo todos potencialmente infiéis. Já não concordo quando afirmas que “Somos todos infiéis, homens e mulheres e, se nem todos cometemos adultério é porque nos faltou oportunidade.”
Colocas o adultério como uma inevitabilidade. Posso dizer-te que nunca o cometi. Mas de acordo com a tua opinião, se não o fiz, foi porque me faltou oportunidade ou porque ainda o virei a fazer. Espero sinceramente que estejas profundamente errada pois é coisa que não quero vir a fazer nunca.
Para mim, posse e adultério não estão relacionados, e de facto, não são sentimentos de ciúme, controle ou vigilância sobre o outro que evitam a infidelidade, eles já são em si mesmos um sinal de fragilidades na relação. O que evita a infidelidade é a maturidade, a partilha, a frontalidade, o respeito, a estabilidade relacional, a confiança e o amor.
Como poderia eu, agir de um modo que saberia ir causar dor à pessoa que amo? Não é uma questão de posse, é uma questão de afecto, de respeito, de amor. E a dor que provem do adultério, não é uma dor de orgulho quebrado, é a dor de perdermos parte de nós, a dor de ver destruída uma relação em que se investiu, a confiança quebrada.
Desculpa hoje estar do contra mas também não posso concordar quando afirmas: “Então, porque nos haveremos de comportar de uma forma tão estúpida com atitudes de posse, ciúme e violência que destroem uma relação mais do que a infidelidade e mesmo o adultério quando passageiros?”
Não existem adultérios passageiros. Todos são eternos. E posse ciúme e violência não destroem uma relação. Se ocorrem, isso significa que a relação já está morta.
Aceito opiniões contrárias à minha nesta matéria, mas a menos que estejamos a falar de relações sem amor, quase sempre as encaro como uma forma de desculpabilização. Uma forma hedonista de intelectualizar a poligamia.
Desculpa
Bjs

Anónimo disse...

.../...
Não é ao “outro” que devo fidelidade nem tão pouco lhe sou infiel quando imagino e me deleito a pensar possuir, não outros corpos, mas a tesão necessária para me inflamar o sexo porque desejo uma outra pele, uma outra boca e um outro prazer.

Sou-me infiel quando não sigo os meus impulsos e ao não responsavelmente confirmar ao “outro” que desejei, nem que fosse por meros segundos, ter e dar prazer satisfazendo os sentidos com um alguém fora da relação.

Não lhe contar torna-me infiel, não ao outro mas a mim!

E serei sempre infiel por falta de liberdade, por medo e por estranho que pareça, sou-me infiel quando penso primeiro, não em mim mas no outro!

Se a liberdade que me dás condiciona a forma do que penso, então prefiro ser-me infiel ao não te contar.

Mas se prezares a liberdade que tens comigo, só poderás ser leal na proporção exacta do quanto eu leal contigo sou e do quanto fiel sou comigo.

O fiel é coisa individual que podes ou não assumir como tua.

A lealdade é coisa nossa.

.../...

Citadina disse...

Querida Duca,
E então, o que propões?
Desmoralizar a questão ou questionar a moral?
Bjs.

Duca disse...

Insaciável, Ferónica e Urso Branco

Se não se importarem, responder-vos-ei mais tarde já que levantam questões muito interessantes e a disponibilidade agora é quase nula.

................

Citadina

Já agora, porque não as duas coisas?
..............

Beijos

Anónimo disse...

Seria extraordinariamente cómodo seguir as linhas traçadas em qualquer bom dicionário e chegar a uma conclusão se significado.
Mas esse exercício não me parece adequado. Muito menos conveniente.

O que é infidelidade?
É não se ser fiel.
E o que significa ser fiel?
Bla bla bla.

Se é difícil definir infidelidade, como será viável determinar quando ela começa?

A coisa não se define. Sente-se. Mas, mesmo assim, falta algo que nos diga, claramente, quando toca o alarme e a partir de quando esse alarme nos diz que estamos a pisar o risco.

Por muito que se escreva sobre o tema, quase se pode dizer que fica sempre algo por esclarecer.

Por essas e por outras, esta como outras atitudes, este como outros sentimentos, hão-se passar ao lado da evidência.

Gostei deste quase desafio. Dá que pensar.

Obrigado, Duca. Puseste-me a tentar pensar na questão.
O que é uma coisa boa. Muito boa.

Um beijo

Cosmopolita disse...

Duca:

Retomaste neste post um tema que pus a debate a 12 de Outubro deste ano no Azinhaga e que é sempre controverso.

Concordo em absoluto com a Feronica no que ela diz. Não porque não tenha nunca sido infiel, não porque não me tenha sentido muito tentada a sê-lo, mas porque, quando a relação não está ferida de morte, se fosse infiel, não conseguiria viver com isso dentro de mim. É uma questão de quebra de lealdade e confiança que ferem os meus princípios éticos.

Fui infiel, sim, há muitos anos, quando a minha relação já estava meia morta. Não consegui deixar de o dizer à pessoa com quem estava e isso veio a ser apenas a gota de água numa relação que já não tinha pernas para andar. Mas de uma forma geral as minhas relações não acabaram devido a infidelidades, nem sequer devido ao fim do amor. Acabaram porque as pessoas no seu crescimento e amadurecimento se tornaram incompatíveis, mesmo existindo amor.

Amadureci entretanto.

Também fui muitas vezes tentada a ser infiel, talvez por ser uma mulher ardente e afectuosa, mas não o fui nunca mais estando numa relação com alguém (uma espécie de pleonasmo...). Não por falta de oportunidades, acredita, mas por ter decidido em consciência que havia coisas que não valia a pena pôr em causa.

Uma das qualidades que mais aprecio nos seres humanos é a lealdade e a amizade que gera a confiança do outro e no outro. Se esta for posta em causa, não vale a pena continuar uma relação. Ser polícia, detective, vigiar, controlar, desconfiar, delimitar, agredir, etc, tem exatamente o efeito contrário no outro! E, normalmente, "quem escuta de si ouve", ou seja, ouve, lê e vê o que não quer e que magoa demasiado.

Quando me sinto muito atraída por uma pessoa (em geral pela cabeça dela)a pontos de a questão da infidelidade se poder eventualmente pôr, tento sublimar esse sentimento primário e tornar-me apenas numa boa amiga.

Sou assim.

Cristina disse...

Duca

peço desculpa por não ter conseguido ler tudo com calma. no entanto, sobre fidelidade, penso mais ou menos o seguinte:

separo perfeitamente fidelidade e lealdade.
também acho que somos naturalmente poligamos, mais, ai de nós quando deixamos de ser impressionáveis pelo que de melhor por aí circula:)), sem que isto signifique a consumação de qualquer relação fisica....mas o segredo é, exactamente, manter-nos impressionáveis. o resto (fidelidade absoluta) são paixões temporárias e coação religiosa.

já lealdade, é outra coisa. perdoaria infidelidade, mas deslealdade não. compreendo perfeitamente um encantamento temporario por alguém, duvido muito até de quem diz que não, mas não suportaria ser enganada. que me o digam e tudo bem. é uma relação muito mais exigente, é um facto. mas se se consegue, é a a relação perfeita. deixa de haver tensões, pode-se brincar com as coisas sem desconfianças.

não sei se esta minha posição vos parece estranha mas, nestas coisas sou pouco dada a dramas. talvez por isso não saiba o que são ciumes, por exemplo. se houver lugar a desconfiança, a relação, na sua forma mais pura, e lá está:leal, já não existe.

não sei se me expliquei no meio da pressa....depois volto

beijos a todas.

Cristina disse...

ahhhhh

deixei um vidiozinho la no tasco bem exemplificativo das diferenças.. ;)

Peach disse...

obrigada pelas tuas palavras carinhosas. voltarei para comentar com calma

beijo grande

mnemosyne disse...

Um tema controverso, sim...um texto deveras interessante o seu...
Costumo pensar: que me saiba perder para me encontrar...

Duca disse...

Saci

Fico à espera desse texto!

beijo

Anónimo disse...

Posso?


O teu post trouxe-me à memória este poema:

AUTO DE Fé



Não me arrependo dos amores que tive

dos corpos de mulher por quem passei

a todos fui fiel

a todos eu amei

Não me arrependo dos dias e das noites

em que o meu corpo herói ganhou batalhas

A um palmo do umbigo eu fui primeira

a divina

a deusa

a verdadeira mulher - sem rival

Amei tantas mulheres de quem nem sei o nome

eu só me lembro apenas

de abraços

de pernas

de beijos

e orgasmos

E no amor que dei

e no amor que tive

eu fui toda mulher - fui vertical.

Eu fui mulher em espanto

fui mulher em espasmo

fui o canto proibido e solitário

Só tenho um itinerário Amor-Mulher.

Manuela Amaral



Adoro este poema...diz-me muito,eu tenho é dois itinerários,mas ninguém é perfeito..não é?Ruas bi.furcadas :).

Como diz a autora: " E cada um que pense de mim o que quiser!"


Bacio per te Bella.

Duca disse...

Ferónica

Antes de mais não deves pedir desculpa por emitires a tua opinião.

“Pessoalmente, sou adepta da monogamia e fanática pela fidelidade e condeno profundamente o adultério. (…) Mas será que as coisas são assim tão simples? Será que modernidade tem de ser sinónimo de modernice?”

Nunca fui fanática pela fidelidade, mas em tempos condenei o adultério. Actualmente já não condeno o adultério.

Da forma como defino a infidelidade, não posso sequer ser adepta, muito menos fanática da fidelidade. Todos nós em algum momento da nossa vida de namoro, casamento ou de união de facto, independentemente de amarmos e respeitarmos a pessoa com quem estamos, já tivemos paixões, paixonetas ou encantamentos por uma ou mais pessoas e, quem me disser o contrário, está a faltar à verdade, mesmo que de uma forma inconsciente. Portanto, de acordo com a minha definição de infidelidade, não somos todos “potencialmente” infiéis, somos todos, de facto, infiéis.

Não coloco o adultério como uma inevitabilidade. Como uma inevitabilidade coloco a infidelidade. O que digo é que se nem todos cometemos adultério é por falta de oportunidade. E essa oportunidade assume várias formas das quais, as que apresento no texto são meramente exemplificativas já que há muitas outras.

Não acho que modernidade e modernice sejam sinónimos. Não considero o adultério uma modernice porque em todas as épocas existiu. Mas já considero uma modernidade olhar-se o adultério, principalmente o feminino, de uma forma menos cruel, crítica e até tolerante. É, sem dúvida, sinal de modernidade, olharmos para o adultério praticado por outros com a consciência das nossas próprias fraquezas.

Não considero a infidelidade um sinal de fragilidade da relação porque ela existe mesmo em relações de amor, respeito e confiança, muito fortes. O adultério, esse sim, pode ser, nem sempre é, um sinal de fragilidade relacional.

“Não existem adultérios passageiros. Todos são eternos. E posse ciúme e violência não destroem uma relação. E posse ciúme e violência não destroem uma relação. Se ocorrem, isso significa que a relação já está morta.”

Existem, Ferónica, existem. Se o adultério é passar à acção pensamentos e sentimentos de desejo, não duvides que há adultérios passageiros. Sem fazer juízos de valor, o homem casado que vai a uma casa de strip tease e se encanta por uma bailarina e passa a noite com ela, pagando o respectivo preço, cometeu adultério. Foi passageiro, dali a um tempo nem se lembra dela.
A mulher casada ou amancebada que está numa reunião fora do seu país e se encanta por um homem, ou uma mulher, com quem vai beber uns copos e acaba por dormir com ele(a), cometeu adultério. Também foi passageiro. E, por favor, essa conversa que as mulheres são diferentes porque se envolvem sempre emocionalmente, é treta! É mais uma criação da sociedade machista para desculpar o adultério masculino e penalizar o feminino.

Também não concordo que a posse e o ciúme sejam quadros de uma relação morta. Todos nós temos esses sentimentos em relações que estão bem vivas, por exemplo, no seu início.

O meu post não tem como objectivo a desculpabilização hedonista do adultério e muito menos pretende glorificá-lo. Aliás, em nenhum momento digo que lhe sou favorável. O que digo é que não o condeno. O texto tem o sentido de chamar a atenção para a permissividade relativamente ao adultério masculino e a intolerância perante o adultério feminino.

Duca disse...

Urso Branco

A menina levanta questões muito mas mesmo muito interessantes.

A forma como colocas a questão da infidelidade faz-me pensar. A verdade, é que como eu, achas que a infidelidade é uma inevitabilidade. A diferença é que colocas essa infidelidade não para com o outro mas para contigo própria.

"E serei sempre infiel por falta de liberdade, por medo e por estranho que pareça, sou-me infiel quando penso primeiro, não em mim mas no outro!"

A sociedade que tanto critico chama a isto altruísmo, mas se calhar é mesmo uma infidelidade para connosco próprios.

"O fiel é coisa individual que podes ou não assumir como tua.

A lealdade é coisa nossa."


A Cristina mais abaixo no seu comentário refere algo parecido.

Fidelidade e lealdade são conceitos diferentes que, geralmente são confundidos.

Gostei imenso deste teu comment.

Beijo

Duca disse...

Repórter

"Mas, mesmo assim, falta algo que nos diga, claramente, quando toca o alarme e a partir de quando esse alarme nos diz que estamos a pisar o risco."

Ora, aqui está uma das razões porque apesar de não lhe ser favorável, não condeno o adultério.

Beijo

Duca disse...

Cosmopolita

Para mim a infidelidade e o adultério são coisas diferentes, apesar de que uma sendo inevitável, pode ou não levar ao outro.

Pelo teu comment parece-me que para ti só existe infidelidade em diferentes gradações.

"Fui infiel, sim, há muitos anos, quando a minha relação já estava meia morta. Não consegui deixar de o dizer à pessoa com quem estava e isso veio a ser apenas a gota de água numa relação que já não tinha pernas para andar."

Sobre isto que dizes, quero que vejas o que vou dizer não como uma crítica pessoal, de modo nenhum, mas como uma reflexão.

Porque razão, quando sentimos que a nossa relação está a perder "a vida" não tentamos alterar o estado de coisas? Será que o outro tem a mesma percepção que nós do que se passa? Ou somos só nós que temos essa percepção porque, entretanto, surgiu outra pessoa que mexeu connosco?

Porque razão só falamos com o outro depois do adultério (neste caso sério, não passageiro) consumado e já não haver volta a dar-lhe porque os nossos afectos se viraram para outra pessoa que não a pessoa com quem vivemos?

A resposta a estas perguntas não terá um pouco a ver com a questão do "se lhe conto o que estou a sentir, ele(a) vai virar-se contra mim, vai achar que já não o(a) amo e vai-me fazer uma cena cigana de posse e ciúme"?
Se a resposta for esta, então o texto tem toda a razão de ser. Escondemos porque temos receio das consequências de comunicarmos o que nos está a acontecer. E esse receio nosso tem a ver com a intolerância secular que existe relativamente a estas questões.

Mas também poderá ser por comodismo? Por habituação?
Bom, se não chamamos a atenção do outro por estas razões, a coisa em minha opinião toma proporções de grande injustiça para com o outro que pode julgar estar tudo bem (quanto mais não seja porque não tem qualquer interesse especial em mais ninguém) e, de repente, se vê confrontado com o adultério do outro e numa situação de perda sem retorno.

E sabes porque o digo? Porque já passei por isto. E garanto-te que foi por ter passado pela situação daquela que se vê a perder alguém sem perceber porquê que me fez crescer e amadurecer mais que qualquer outra coisa porque me doeu de forma quase insuportável. De tal maneira foi insuportável que passei a esperar da outra pessoa menos do que aquilo que ela pode dar. A dor deixa de ser insuportável e passa a ser perfeitamente suportável.

O problema da maioria dos seres humanos é que idealizam o outro com características que ele não tem e projectam nele e na relação desejos e sonhos que ele não pode dar.

Reafirmo, mais uma vez, que para mim fidelidade e lealdade não são sinónimos.

Beijo

Duca disse...

Cristina

A tua posição não me é estranha. Aliás, como tu acho também que "ai de nós quando deixamos de ser impressionáveis pelo que de melhor por aí circula" e "compreendo perfeitamente um encantamento temporario por alguém, duvido muito até de quem diz que não".

Quanto a ser enganada, não o suportaria se a minha companheira tivesse algo sério com alguém e não mo dissesse. É que, se a coisa é séria, eu tenho o direito de o saber para poder tomar a atitude de, com dignidade, largar a relação e deixar a pessoa viver livremente o que sente.

Agora, se a coisa não é séria e foi uma situação pontual, não quero saber. E não quero saber exactamente porque iria ficar magoada sem necessidade e essa mágoa destruiria a relação.

E é aqui que a minha postura é muito criticada. Mas, é como penso. Quero lá saber de uma ou outra "aventura" da minha companheira se para ela não passa disso mesmo, aventura.

Duca disse...

Mnemosyne

"(...) que me saiba perder para me encontrar..."

Gostei deste pensamento.

Duca disse...

Ela

Claro que podes!

Esse poema da Manuela Amaral é muito bom, sem dúvida!

Ruas bifurcadas? E isso que interessa? O importante é viveres de acordo com o que sentes. Caso contrário, e tal como disse a Urso Branco, ser-te-ás infiel.

Bacio Principesa

Anónimo disse...

Duca

Este tipo de debates coloca-me perante situações de conflito (interno) que me desagradam. Por um lado adoro um bom debate. Por outro, sempre que a conversa tem um tom mais sério, fico com a sensação de que o debate assíncrono e limitado à palavra escrita é tão falacioso…
Provavelmente, se este debate decorresse cara a cara não resistiria a mais de 30 minutos de conversa. O politicamente correcto exercia pressão, as posturas, expressões e as cedências também. Assim, tende-se a exacerbar e extremar posições , na busca de uma melhor marcação de posição e de uma maior clareza no discurso. Por mim falo e reconheço que pessoalmente sou muito mais condescendente. Em tempo real e em situação presencial, as Nunes apreendem-se e apropriamo-nos de discursos investindo-nos de uma maior compreensão. Quero com isto dizer que continuo a discordar, provavelmente mais do que se estivéssemos a falar frente a frente (porque tb a tua posição poderia ser mais moderada) , mas menos do que antes da tua resposta.
Talvez tenha sido exagerada. Concebendo a infidelidade como uma construção mental ou volitiva, terei de aceitar que todos somos potencialmente infiéis. Bastar-nos-ia uma atracção (não consumada) para que a infidelidade estivesse presente.
A ser assim, porque tinha pensado infidelidade como algo que em si acarretaria já uma dimensão de deslealdade, à semelhança do que fez a cosmopolita, terei de considerar também a lealdade, terei de alterar os intervalos da estala “da traição”. Assim, concordarei contigo dizendo que a infidelidade, por ser uma banalidade e impossível de controlar, está presente na vida de todos e não é minimamente condenável. Já a lealdade (e não vou defini-la porque isso já foi feito na perfeição pela cosmopolita) é par a mim condição essencial num relacionamento. Quanto ao adultério/traição, mantenho a minha opinião. E reafirmo que não é uma questão de oportunidade, seja lá isso o que for. É uma questão de lealdade ou da ausência dela. Como tinha já afirmado, só concebo a possibilidade de ocorrer quando a relação está morta ou moribunda. Se acontece noutras circunstancias paradoxalmente, liquidará o que ainda vivia.
Embora perceba o que queres dizer e o exemplo que deste para ilustrar o adultério passageiro, reafirmo que ele nunca o é. porque não se repercute apenas em quem o pratica. É nessa visão que reside a defesa Hedonista da deslealdade: Aconteceu! Já passou, o outro não vai saber.. Com quem foi? Já esqueci … aconteceu??

Se reparares, estás a reduzir a deslealdade (passar à acção pensamentos e sentimentos de desejo) a um acontecimento unitário , ao domínio de um . Numa relação amorosa investida, essa individuação existe. Há sim, uni-multiplicidade. A omissão, mesmo que bem intencionada é uma deslealdade e a divulgação do acto, mesmo que desinvestido emocionalmente, e percepcionado pelo outro como tal, é causa de perda de confiança e de dor. Ninguém que ame quererá infligir à pessoa com quem partilha a sua vida essa dor. Não existindo o eu e o tu, apenas o nós, a dor do outro é também nossa e tornar-se-á difícil viver a relação quando nos constituímos na origem da perda.
O inverso é também verdade, quando se está do outro lado, no lado do que é “traído”, mesmo quando se desculpa, dificilmente se esquece. E isso enche o espaço, é corrosivo e pode matar a relação. Não concordo que o adultério possa ser passageiro.

Não defendo a diferença entre homens e mulheres no que se refere à desculpabilização da deslealdade. Antes pelo contrário, condeno-as de igual modo. Sendo certo que existem diferenças biológicas que podem justificar a diferença e uma maior desculpabilização do homem, não as acho importante ao ponto de se tornarem justificação. Embora existam justificações biológicas que permitam desculpabilizar
mais o homem do que a mulher, não iria por aí. A biologia também nos deu o corpinho ou algumas partes dele, cobertas de pêlos e nós bem sabemos que muito nos esforçamos para atingir o sucesso na tarefa de a contrariar. E conseguimos, mesmo sendo “a penugem” muito mais inevitável do que o adultério. Quero com isto dizer que o ser humano tem capacidade para controlar o seu comportamento e por isso ser ou não leal, depende mais da vontade que da sina.

Nestes assuntos, não existem formulas milagrosas nem opiniões mais correctas do que outras. Cada um defende a sua forma de sentir e viver uma relação. Eu pessoalmente tenho esta meneira de encarar a deslealdade e não conseguiria partilhar a minha vida com alguém que tivesse uma visão menos comprometida ou uma postura de menor investimento na relação. Estou a falar obviamente de situações onde existe amor, porque às outras, esta questão (na perspectiva focada), não se aplica.

Estranho um pouco a tua posição pessoal. Quando dizes:
“ Quanto a ser enganada, não o suportaria se a minha companheira tivesse algo sério com alguém e não mo dissesse. É que, se a coisa é séria, eu tenho o direito de o saber para poder tomar a atitude de, com dignidade, largar a relação e deixar a pessoa viver livremente o que sente”
Para mim :
Se a minha companheira tiver algo sério com alguém que não eu, a relação acabou, tinha acabado antes de isso acontecer. E largar a relação com dignidade, é antes de isso acontecer, não depois.
Se coisa não fosse séria, eu quereria saber. É para mim ainda pior. Consigo, se me esforçar muito, compreender quando “há algo sério”, agora quando não há, é futilidade, imaturidade, e falta de interesse na relação. Se fosse desleal por algo sem importância , seria digna de muito pouca confiança. E aventura é outra coisa, é um desafio, é fazer as compras de natal a 24 de Dezembro ou utilizar o WC público do Rossio. Magoar alguém para satisfazer caprichos, fantasias ou veleidades não é uma aventura, é narcisismo. é egoísmo é imaturidade relacional.
E não acredito que se pode levar para a frente uma relação após um acontecimento desse tipo, pelo menos não se pode levar para a frente a mesma relação. Ela será outra.
Tenho sérias duvidas que se estivermos numa relação com a “nossa outra metade”, a tal de que Platão falou no seu banquete, se possa dizer e sentir: “Quero lá saber de uma ou outra "aventura" da minha companheira se para ela não passa disso mesmo, aventura.” Mesmo quando se racionaliza desta forma, o que se sente contraria a racionalização. Pelo menos comigo é asim.
bjs

Anónimo disse...

Duca
Juro, prometo, esta é a minha ultima intervenção neste teu post que me fez lembrar esta letra do Caetano Veloso:


Nosso Estranho Amor
(Caetano Veloso)

Não quero sugar todo seu leite
Nem quero você enfeite do meu ser
Apenas te peço que respeite
O meu louco querer
Não importa com quem você se deite
Que você se deleite seja com quem for
Apenas te peço que aceite
O meu estranho amor

Ah! Mainha deixa o ciúme chegar
Deixa o ciúme passar e sigamos juntos
Ah! Neguinha deixa eu gostar de você
Prá lá do meu coração não me diga
Nunca não

Teu corpo combina com meu jeito
Nós dois fomos feitos muito pra nós dois
Não valem dramáticos efeitos
Mas o que está depois

Não vamos fuçar nossos defeitos
Cravar sobre o peito as unhas do rancor
Lutemos mas só pelo direito
Ao nosso estranho amor



Até ao próximo debate!
bjs

sagher disse...

foi com espanto e com prazer que li o post e os comentarios. interessantes os pontos de vista colocados. no entanto e sem ter opinião firmada sobre o assunto, eu que ja fui adúltero, vejo que de um modo geral se cai num erro grave. considerar que " todos" somos... a ultilização do quantificador universal, todos, numa materia pessoal parece-me grosseira. se dissermos que "alguns" o são e "alguns" o não são, aí sim, estaremos a respeitar esta enorme diversidade que significa ser Humano, com vontade própria e escolhas próprias. Depois os conceitos em causa por si só já refletem a cultura ocidental, são conceitos nascidos com valores dos quais não nos podemos libertar. Por outro lado existem motivos biológicos para a criação do nucleo familiar com laços fortes. Nesta materia aconselho a leitura de Carl Sagam e Anne Macfery numa obra onde se abordam as necessidades das femeas, em determinado momento das sociedades primitivas de copularem com machos de outro clã. Mas no fundo tudo se resume, nos dias de hoje, em ser livre para escolher. E quando se ama a primeira escolha é a da verdade e da sinceridade. Para sempre é muito tempo, mas lutar por uma relação saudável faz do tempo apenas um momento.

Cosmopolita disse...

Duca, em relação a este tema vou só acrescentar algumas coisas que acho importantes.

Em primeiro lugar, quando se analisa uma questão que tem a ver com algo de tão subjectivo e individual como os afectos, a opinião que cada um tem só o vincula a ele próprio. Tal como diz o Sagher, falarmos num quantificador universal a este respeito é um erro grosseiro.
Portanto, quando te respondo a este post, parece-me evidente que estou a dar a minha opinião baseada na minha vivência de afectos.

Em segundo lugar, tal como a Ferónica, com a qual estou absolutamente de acordo em quase tudo, quando diz que tu "estás a reduzir a deslealdade (passar à acção pensamentos e sentimentos de desejo) a um acontecimento unitário, ao domínio de um", isso é verdade e advém daí outro erro. Como diz a minha querida Garamond, numa relação a dois, há sempre três pessoas, eu, tu e nós. Portanto, a sensação de culpa pode ficar (ou não dependendo de cada um), no caso do adultério "passageiro", como tu lhe chamas, apenas com o que "pecou" se ele não disser nada ao seu parceiro e souber viver bem com isso. No que me diz respeito, nestes casos, sou como tu e não como a Feronica, se for passageiro prefiro não saber. Até porque acho que as pessoas que falam aos seus parceiros dos seus adultérios "passageiros" o fazem por diversos motivos egoístas (actos de contrição para desculpabilização própria, valorização pessoal face ao outro, etc). Até porque depois, como diz o Miguel Esteves Cardoso no "O amor é fodido" "O que custa mais não é tanto lembrar - é não esquecer. O que é que se faz com o que nos fica na cabeça, quando já não há nada para fazer?"...

Quando não é passageiro, aí, antes mesmo de tocar o tal sinal de alarme de que fala o repórter, temos de nos sentar e falar com o nosso companheiro sobre isso. É uma questão de princípios de lealdade para com ele e para connosco. E ou a relação ainda assim o permite e se conseguem resolver as questões que levaram a essa situação, ou já não. Aí é melhor pôrmos fim à relação ou darmo-nos um tempo para reflectir sobre a nossa atitude. Para não acontecer como no livro do autor que citei acima "Tenho saudades de ti. Mas não me custa sofrê-las, comparado ao que eu sofria quando estavas aqui comigo, deitada no meu ombro, a sonhar os teus sonhos, agarrada a mim, o meu amor, o meu amor a arder-me no coração, deitando fogo ao meu sossego, tanto era o amor que te tinha, e o terror e a certeza de perder-te".

Quando te disse que fui infiel, assumiste que não disse nada ao meu parceiro antes de as coisas acontecerem. Estás enganada. Não por acto de contrição, mas por lealdade, porque não conseguiria ser-me infiel, no conceito do Urso Branco, e ser-lhe infiel no meu conceito de lealdade. E porque não era uma coisa passageira. E só não era passageira, porque não consegui não a viver. E só não consegui não a viver, porque a relação já estava praticamente morta e eu já tinha desinvestido afectivamente dela, já não acreditava nela, percebes?

Acho extremamente difícil para a maior parte das pessoas viver com a sombra de adultérios na cabeça e no coração. Acredito que a mágoa, insegurança, falta de auto-estima, o ciúme, o receio de comparações desfavoráveis, etc, acabem por minar a saúde da relação e torná-la em algo de obsessivo e doentio.

Anónimo disse...

Duca

Eu sei que tinha prometido não fazer mais comentários. É só mais um… não resisto.


Cosmopolita

O exemplo que dás, pessoal, ilustra perfeitamente parte do que temos vindo a dizer nos comentários efectuados. Também vivi duas “histórias”, cada uma de seu lado da linha que me ensinaram muito. Por vezes, o amadurecimento, enquanto processo inerente ao crescimento e evolução pessoal é algo que beneficia também aqueles que nos rodeiam. Torna-nos mais atentos e mais capazes de nos colocar no lugar dos outros, torna-nos potencialmente mais capazes de nos entregarmos e portanto de realmente nos relacionarmos.
Concordo quase a 100% contigo. Quer dizer, concordo em tudo contigo. É que apesar de discordar de umas linhas do que escreveste, estou inteiramente de acordo com o teu comentário. E isto porque a tua afirmação inicial, por ser verdadeira, me leva a ter de aceitar como bom mesmo aquilo a que oponho.
A partir do momento em que a possível discórdia se concentra na oposição de algo que é só teu que a algo que é só meu, não concordamos em discordar. Concordamos mesmo discordando.
Os objectos de discussão são afectos e opiniões e como dizes: “a opinião que cada um tem só o vincula a ele próprio”.

Não quero com isto dizer que não vá afirmar que só não concordo com o pequenino pormenor de achares que é melhor não se saber quando a coisa não é séria. E há lá coisa mais séria do que alguém não se conseguir conter por causa de uma coisa sem seriedade? Pois é, nestas coisas sou assim pró-fundamentalista.

PS:
Ao contrário da maior parte das pessoas e correndo o risco de ser crucificada, estigmatizada ou mesmo ostracizada: também gosto do Cardoso.

Anónimo disse...

.../...

Somos tão diferentes quando nos encaixamos.

Metamorfose, osmose, transmutação
tanta quimica celular
que a minha pele
deixa de ser a fronteira
arrogante onde
só o pulsar do que origino
me mantêm, ainda assim, desperta.

Penso sempre mais
do que aquilo que sinto
e os caminhos, as ruelas
e os becos sem saída
são os mesmos que me levam a ti
ou me atraiçoam a mim.

Permaneço então,
e apenas enquanto quero,
moldada ao teu sexo,
adicta no coração
e ideal por ti pensado.

Por isso o nós, é tão diferente.

.../...

Cosmopolita disse...

Duca.

Ofereço-te o poema da Florbela espanca com a tal frase de que tanto gostaste e que a Mnemosyne citou.

Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar!Amar!E não amar ninguém!

Recordar?Esquecer?Indiferente!...
Prender ou desprender?É mal?É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó,cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

ANALUKAMINSKI PINTURAS disse...

Encontrei este teu texto no blog LARA LUNNA, e achei muito interessante e inteligente!... É bom redescobrir, vezenquando, que existem mentes arejadas e abertas à multiplicidade dos pensares, e, também, almas abertas à vida e seus movimentos, à variedade e variações dos sentimentos, às diferenças de opinião e posição!...

Tomo a liberdade de linkar teu blog lá no meu, está bem?

Abraços alados!