quarta-feira, abril 04, 2007

Umas férias inesquecíveis - Parte VI e última


Continuação...
A proprietária da casa vingou-se de nós pela destruição do molho de alhos. Ao fim e ao cabo demos um términos à protecção que a casa e seus moradores tinham contra vampiros. A partir do terceiro dia nunca mais tivemos direito a toalhas novas e limpeza, para já não falar das camas que tinham de ser feitas por nós. Tivemos que passar a lavar as toalhas porque, quanto à limpeza dos quartos e casas de banho, não estivemos para isso, pois faltavam apenas mais uns dias. Sobrevivemos, mas passámos o tempo todo a responsabilizar P pela gracinha.
Como se tudo isto não bastasse, tivemos de conviver com a Grega, nome posto a uma gatinha rafeira dos telhados, giríssima por sinal, que P ou C, não me recordo, encontraram nas imediações da casa. P e C andavam deliciadas com a Grega e até a queriam trazer para Portugal. Eu e T começámos a ver a nossa vidinha a andar para trás porque, tratar do transporte de um animal desconhecendo os trâmites legais dos dois países, não só nos faria perder tempo como poderia ser complicado. Lá as convencemos a não trazerem a Grega para Portugal.
Na manhã do nosso último dia em Eressos, depois do pequeno almoço na Mariana, fomos até à praia e encontrámos um casal de gregos com um barco a motor. Ele era um homem muitíssimo bonito, com uns olhos verdes de babar e ela era uma mulher vulgar, apesar do corpo atlético. Falámos com o homem que nos disse haverem praias muito lindas e sem ninguém, cujo o acesso só era permitido por barco. Combinou-se o valor a pagar para que nos levasse a uma dessas praias com a promessa de nos ir buscar pelas 20h00.
Como o homem era de cair, fartámo-nos de mandar bocas do género: “Mais uns dias aqui, deixava de ser fufa e ainda engatava este gajo!” É sabido que as mulheres têm um sexto sentido danado e, quando vêm uma fêmea rondar-lhes o macho, ficam logo alerta. Pois o mesmo se passou com a mulher que insistiu em vir no barco connosco não fosse, durante a viagem, uma ou todas daquelas estranhíssimas lésbicas “seriam?” que admiravam o seu homem, decidirem cantar-lhe a buena dicha.
Fomos deixadas numa praia paradisíaca, sem vivalma. Éramos só nós. Foi, talvez, um dos mais belos dias de praia que tive. O dia estava quentíssimo, eu e as amigas felizes, o sol generoso, a praia isolada, o mar com uma temperatura perfeita e de um azul absolutamente desconcertante.
O dia correu preguiçoso e permitimos que o sol nos dourasse a pele por igual já que os fatos de banho ou biquinis nem saíram das mochilas.
Perto das 20h00, vá-se lá saber porquê, começámos a ser atacadas por uns insectos minúsculos que pareciam mosquitos. Os malvados deveriam estar escandalizados com tanta languidez! Vestimo-nos à pressa e ficamos à espera que o grego nos viesse buscar.
Começaram a fluir à minha mente pensamentos como: “E se o homem se esquece de nos vir buscar? Como saímos daqui? Não temos comunicações, não temos barco, a nado não é possível, ai que ainda ficamos aqui a servir de repasto aos insectos!”. Não houve tempo para que estes pensamentos tomassem conta de mim, porque o bonitão dos olhos verdes surgiu ao longe no seu barco, qual herói das histórias de banda desenhada salvador das desprotegidas donzelas.
O regresso decorreu entre gracejos sobre o homem que, apesar de não entender português, percebeu que eram a seu respeito, pois que, lhe bailava nos lábios um sorriso trocista de quem sabe que é possuidor de uma beleza que impressiona as mulheres, gostem elas do que gostarem.
À noite, depois do jantar, demos um salto até à décima musa para exibirmos o bronze e, enfim, nos despedirmos do local que privilegiámos para as nossas noites em Eressos.
Na manhã seguinte, cedo, após pagarmos o molho de alhos à dona da casa (como se ela não nos tivesse feito pagar antes) fomos à esplanada da Mariana, a quem no dia anterior tínhamos pedido para nos deixar tirar-lhe uma foto. O pedido foi recusado com a desculpa de que não estava arranjada. Ora, apanhámos uma agradável surpresa, porque a Mariana apareceu pronta para a fotografia, brindando-nos com o rosto maquilhado, o cabelo arranjado e um sorriso (o primeiro e único que lhe vimos) que a faziam parecer quase bonita.
Saímos de Eressos de táxi para mais hora e meia de enjoativa curva e contracurva, em direcção ao aeroporto de Mitilene.
Apanhámos o voo e na descolagem, que me faz sempre ficar com o coração na barriga, não deixei de dar um último olhar à ilha de Lesbos, onde tinha passado umas interessantes férias com as minhas amigas e despedi-me com um: "Adeus Safo!"
Chegámos a Atenas ainda de manhã e com o dia livre para visitarmos o Partenon. O dia estava uma brasa e munidas de chapéus e águas lá fomos.
Quando chegámos ao berço da civilização ocidental quase me ajoelhei e penitenciei por causa do que P dizia: “com um dia de calor insuportável, vir para um sítio destes só para ver um monte de calhaus!”. Puxa! A insensibilidade daquela criatura era de bradar aos céus! Estar num local daqueles, a ver verdadeiras obras de arte e de arquitectura, com milhares de anos que nos contam a epopeia de uma das maiores e mais fabulosas civilizações do mundo e chamar àquilo “calhaus” era mais do que uma ofensa, era razão para penitência durante muito tempo.
Claro que eu, A, C e T não ligámos a P e fomos visitar tudo o que havia com o fascínio de quem parte à descoberta de um mundo novo.
Ao final da tarde, mortas de calor, fomos para o hotel para um retemperador duche e preparar-nos para ir jantar. O restaurante tinha uma esplanada com uma vista fabulosa sobre Atenas e o Partenon todo iluminado. A comida estava excelente e a fruta era absolutamente fantástica. Na verdade, a fruta na Grécia é saborosíssima.
No dia seguinte, apanhámos o avião que depois da escala em Roma se dirigiu à minha querida Lisboa, a cidade branca.

Agradeço a vossa paciência por me terem “ouvido”.

16 comentários:

Unknown disse...

sem duvidas essas férias foram inesqueciveis....ja me inspirou a programar as proxiams ferias com minhas amigas.
bjss

Anónimo disse...

Óhh deusa da serena luz... andei aqui estes dias todos a seguir o filme!

Adorei o relato! Soube bem ter descoberto o teu blog!

Bjinho

Gar

Duca disse...

Marilena

Foram mesmo. No entanto, deixe-me dizer-lhe que se for para Eressos, programe de forma a ficar instalada no Hotel Safo que é o melhorzinho naquelas paragens. No entanto, se for para a capital, Mitilene, as escolhas são mais generosas.
Desejo-lhe umas boas e inspiradas férias! :)
Bjs

Duca disse...

Garamond

Que bom ver-te por aqui. Ainda bem que gostaste.
Aparece mais vezes!
Beijinhos

Anónimo disse...

Bem, a foto parece mesmo da Grega!!
Mas olha que eu não tive nada a ver com a tentativa de adopção da Grega! A mim só me saltaram para as cavalitas e gritaram aos meus ouvidos: "AAAAIIIIIII!!!! Um raaattoooo!!" MAs como o que eu vi de relance a esgueirar-se para debaixo de um carro era branco, eu achei que não podia ser um rato e disse: "Não é um rato, é um gatinho." E foi aí que a P desceu das minhas costas e se pôs a tentar apanhar o gato, o que veio a conseguir, como se sabe. E eu também não estava nada confortável com a ideia de a trazer para Portugal! Mas enfim, a gata acabou por desaparecer e suspeita-se que a senhoria teve algo a ver com isso... Daí a fúria vingativa com que a P vandalizou o quarto...

Viz disse...

LOLOL, Duca
no nosso "film" não houve ... uma Grega porque a Inha quis TODAS as gatinhas que "infestam" TODAS as ilhas gregas. De resto, pois aquela terrinha tem uma magia especial.Se calhar é a ilusão que nós próprias criamos... não sei. Só sei que tenho saudades de brincar no mar com a Inha ao colo...
Bjs e nostalgias..

Duca disse...

Citadina

Pois eu calculei que alguma coisa no meu relato falhasse. O que me vale é que nos teus comentários ajudas, querida! :)
Agora percebo porque a P vandalizou o quarto daquela forma (não foi só pelo facto de a dona da casa ter deixado de fazer a limpeza).
As férias foram diferentes, giras e divertimo-nos imenso! Temos de fazer outras férias quando cá estiver a Cosmopolita.

Beijo

Duca disse...

Viz

Acho que agora percebeste porque disse anteriormente que as nossas férias tinham sido sui generis. Mas a verdade é que foram giras e ao fim de sete anos (credo o tempo passa a correr!) ainda me recordo de muito mais do que em férias noutros locais. Por isso, tens razão, aquela ilha deve ter mesmo uma magia qualquer.
Já percebi que a Inha é do género de querer ter um zoo em casa. rsrsrs

Beijos (Sábado estamos a contar convosco no Maria Lisboa)

P M disse...

Nós é que agradecemos o relato hilariante das férias! :)
Andei sempre atenta aos novos episódios!
Pena ter acabado... :(

***

Lara disse...

sim senhor, belas férias!

ai quem me dera :)))

beijo grande

Duca disse...

PM

Haverão outras que me disporei a contar no blog. :)
Eu, a Citadina e mais umas amigas estamos a projectar umas férias curtas (tipo fim de semana prolongado) a Berlim ou Amesterdão por altura do Gay Pride que, ao contrário do que se passa aqui por Marrocos, ou melhor, Lisboa, é a loucura. ;)
Por cá vamos tendo a Lesboa Party de 3 em 3 meses e umas discotecas, o que já é bom. :)
Também estamos a programar uns dias em Madrid, na Chueca (o bairro gay por excelência).
Como dizemos entre nós "podemos não ***** como gostaríamos, mas divertimo-nos muito!"

Beijo

Duca disse...

China-Blue (Nix)

Foram sim, umas belas férias apesar de um pouco estranhas também. :)
Vão havendo alguns locais onde a comunidade GLS pode usufruir de férias sem ter de andar às escondidas como se de criminosas(sos) se tratassem. Eressos é um desses locais, mas há mais, Deo Gracias! Aliás, só há pouco tempo algumas agências de viagens descobriram o filão do turismo Gay e Lésbico.

Beijo

Viz disse...

Duca, a bicharada e nós é um mondus vivendi... Sábado vais perceber porque lololol

Bjs

Aguardamos sugestões de L-Férias

Duca disse...

Viz

Agora foste tu que me deixaste curiosa! Aguardo por amanhã! rsrsrs

Quanto a sugestões para L-férias já dei algumas aí na resposta ao comentário da PM, mas mais virão.

Beijo

P M disse...

Boaaaa... Faz-nos roer de inveja!!! :P
Já que este ano não vai haver férias para ninguém aqui deste lado, vamo-nos babando com os teus relatos! :)

Beijinhos

Duca disse...

PM

Puxa, férias são fundamentais nem que seja por uma semanita! Recarregar baterias faz bem ao corpo e à alma! Não acredito que não arranjes uns diazinhos para descontrair. ;)
Quanto aos meus relatos de férias, eles virão a seu tempo, consoante for dando forma aos projectos. :)

Beijo