Comecei por colocar apenas a imagem, mas depois olhei-a e as palavras foram aparecendo. Resolvi acrescentá-las à imagem. Esta minha mania de escrever quando podia deixar que os outros apenas imaginassem. Enfim...
Gosto cada vez mais de te ler. Para quando esse poema sobre os figos? :)
A maneira correcta de comer um figo à mesa É parti-Io em quatro, pegando no pedúnculo, E abri-Io para dele fazer uma flor de mel, brilhante, rósea, húmida, desabrochada em quatro espessas pétalas.
Depois põe-se de lado a casca Que é como um cálice quadrissépalo, E colhe-se a flor com os lábios.
Mas a maneira vulgar É pôr a boca na fenda, e de um sorvo só aspirar toda a carne.
Cada fruta tem o seu segredo. O figo é uma fruta muito secreta. Quando se vê como desponta direito, sente-se logo que é simbólico: Parece masculino. Mas quando se conhece melhor, pensa-se como os romanos que é uma fruta feminina.
Os italianos apelidam de figo os órgãos sexuais da fêmea: A fenda, o yoni, Magnífica via húmida que conduz ao centro. Enredada, Inflectida, Florescendo toda para dentro com suas fibras matriciais; Com um orifício apenas.
O figo, a ferradura, a flor da abóbora. Símbolos.
Era uma flor que brotava para dentro, para a matriz; Agora é uma fruta, a matriz madura.
Foi sempre um segredo. E assim deveria ser, a fêmea deveria manter-se para sempre secreta.
Nunca foi evidente, expandida num galho Como outras flores, numa revelação de pétalas; Rosa-prateado das flores do pessegueiro, verde vidraria veneziana das flores da nespereira e da sorveira, Taças de vinho pouco profundas em curtos caules túmidos, Clara promessa do paraíso: Ao espinheiro florido! À Revelação! A corajosa, a aventurosa rosácea.
Dobrado sobre si mesmo, indizível segredo, A seiva leitosa que coalha o leite quando se faz a ricotta, Seiva tão estranhamente impregnando os dedos que afugenta as próprias cabras; Dobrado sobre si mesmo, velado como uma mulher muçulmana, A nudez oculta, a floração para sempre invisível,
Apenas uma estreita via de acesso, cortinas corridas diante da luz; Figo, fruta do mistério feminino, escondida e intima, Fruta do Mediterrâneo com tua nudez coberta, Onde tudo se passa no invisível, floração e fecundação, e maturação Na intimidade mais profunda, que nenhuns olhos conseguem devassar Antes que tudo acabe, e demasiado madura te abras entregando a alma.
Até que a gota da maturidade exsude, E o ano chegue ao fim.
O figo guardou muito tempo o seu segredo. Então abre-se e vê-se o escarlate através da fenda. E o figo está completo, fechou-se o ano.
Assim morre o figo, revelando o carmesim através da fenda púrpura Como uma ferida, a exposição do segredo à luz do dia. Como uma prostituta, a fruta aberta mostra o segredo.
Assim também morrem as mulheres.
Demasiado maduro, esgotou-se o ano, O ano das nossas mulheres. Demasiado maduro, esgotou-se o ano das nossas mulheres. Foi desvendado o segredo. E em breve tudo estará podre.
Demasiado maduro, esgotou-se o ano das nossas mulheres.
Quando no seu espírito Eva soube que estava nua Coseu folhas de figueira para si e para o homem. Sempre estivera nua, Mas nunca se importara com isso antes da maçã da ciência.
_________________________________
Eu disse que te falava dos figos:) Desculpa a extensão do poema. "Assim morre o figo, revelando o carmesim através da fenda púrpura Como uma ferida, a exposição do segredo à luz do dia. Como uma prostituta, a fruta aberta mostra o segredo." A exposição do segredo à luz do dia:)
Lindíssimo poema, obrigada. :) Agora percebo porque há uns anos uma amiga me ensinou "a comer figos como devia ser" dizia ela, com a desculpa de que, a uma mulher como eu, era coisa que muita falta fazia. ;)
7 comentários:
"caminhos que se cruzam"
____________
Gostei:)
Beijoooooo*********
Não está completo, ela, mas vou agora completá-lo com algumas palavras.
Beijo
ela,
Comecei por colocar apenas a imagem, mas depois olhei-a e as palavras foram aparecendo. Resolvi acrescentá-las à imagem. Esta minha mania de escrever quando podia deixar que os outros apenas imaginassem. Enfim...
Gosto cada vez mais de te ler. Para quando esse poema sobre os figos? :)
Beijo
Vou passar por cá amanhã e trago comigo o poema estamos combinadas.
Beijoooo Duca.
Post scriptum: As tuas palavras sempre lindas****
A maneira correcta de comer um figo à mesa
É parti-Io em quatro, pegando no pedúnculo,
E abri-Io para dele fazer uma flor de mel, brilhante, rósea, húmida,
desabrochada em quatro espessas pétalas.
Depois põe-se de lado a casca
Que é como um cálice quadrissépalo,
E colhe-se a flor com os lábios.
Mas a maneira vulgar
É pôr a boca na fenda, e de um sorvo só aspirar toda a carne.
Cada fruta tem o seu segredo.
O figo é uma fruta muito secreta.
Quando se vê como desponta direito, sente-se logo que é simbólico:
Parece masculino.
Mas quando se conhece melhor, pensa-se como os romanos que é
uma fruta feminina.
Os italianos apelidam de figo os órgãos sexuais da fêmea:
A fenda, o yoni,
Magnífica via húmida que conduz ao centro.
Enredada,
Inflectida,
Florescendo toda para dentro com suas fibras matriciais;
Com um orifício apenas.
O figo, a ferradura, a flor da abóbora.
Símbolos.
Era uma flor que brotava para dentro, para a matriz;
Agora é uma fruta, a matriz madura.
Foi sempre um segredo.
E assim deveria ser, a fêmea deveria manter-se para sempre
secreta.
Nunca foi evidente, expandida num galho
Como outras flores, numa revelação de pétalas;
Rosa-prateado das flores do pessegueiro, verde vidraria veneziana
das flores da nespereira e da sorveira,
Taças de vinho pouco profundas em curtos caules túmidos,
Clara promessa do paraíso:
Ao espinheiro florido! À Revelação!
A corajosa, a aventurosa rosácea.
Dobrado sobre si mesmo, indizível segredo,
A seiva leitosa que coalha o leite quando se faz a ricotta,
Seiva tão estranhamente impregnando os dedos que afugenta as
próprias cabras;
Dobrado sobre si mesmo, velado como uma mulher muçulmana,
A nudez oculta, a floração para sempre invisível,
Apenas uma estreita via de acesso, cortinas corridas diante da luz;
Figo, fruta do mistério feminino, escondida e intima,
Fruta do Mediterrâneo com tua nudez coberta,
Onde tudo se passa no invisível, floração e fecundação, e maturação
Na intimidade mais profunda, que nenhuns olhos conseguem
devassar
Antes que tudo acabe, e demasiado madura te abras entregando
a alma.
Até que a gota da maturidade exsude,
E o ano chegue ao fim.
O figo guardou muito tempo o seu segredo.
Então abre-se e vê-se o escarlate através da fenda.
E o figo está completo, fechou-se o ano.
Assim morre o figo, revelando o carmesim através da fenda púrpura
Como uma ferida, a exposição do segredo à luz do dia.
Como uma prostituta, a fruta aberta mostra o segredo.
Assim também morrem as mulheres.
Demasiado maduro, esgotou-se o ano,
O ano das nossas mulheres.
Demasiado maduro, esgotou-se o ano das nossas mulheres.
Foi desvendado o segredo.
E em breve tudo estará podre.
Demasiado maduro, esgotou-se o ano das nossas mulheres.
Quando no seu espírito Eva soube que estava nua
Coseu folhas de figueira para si e para o homem.
Sempre estivera nua,
Mas nunca se importara com isso antes da maçã da ciência.
_________________________________
Eu disse que te falava dos figos:)
Desculpa a extensão do poema.
"Assim morre o figo, revelando o carmesim através da fenda púrpura
Como uma ferida, a exposição do segredo à luz do dia.
Como uma prostituta, a fruta aberta mostra o segredo."
A exposição do segredo à luz do dia:)
Um beijoooo grande Duca***
Ela
Lindíssimo poema, obrigada. :) Agora percebo porque há uns anos uma amiga me ensinou "a comer figos como devia ser" dizia ela, com a desculpa de que, a uma mulher como eu, era coisa que muita falta fazia. ;)
Beijo
... uhm ...
e ontem à noite alguém mudou a tua vida ?...:)
Enviar um comentário