quarta-feira, outubro 07, 2009

Sedução & Manipulação



Estamos muito acostumadas a ligar manipulação à demagogia e/ou discursos políticos. Assim como à publicidade, etc.

Mas já percebeu em seu redor um manipulador?

Já viu que estratégia usa?

Têm algumas tão obvias que a gente se dá conta muito rapidamente.

Mas têm outras que são estratégias muito bem articuladas.

Dizem que o melhor crime é aquele que as pessoas juram que não foi um crime.

Percebe a sutileza?

Pois existem manipuladores que a gente não os vê como tal!

A gente só percebe quando algo muito impactante acontece.

Ou, até, quando a desilusão irrompe como uma tempestade e nos damos conta que fomos, na melhor das hipóteses, enganadas.

Hummm tem a ver também com sedução, não?

Um manipulador na maioria das vezes é um sedutor.

Ou seja, usa de belos artifícios para te enganar, os quais muitas vezes são tão bem engendrados que enganam mesmo e levam anos, já não te enganando, mas manipulativamente te dominando.

Parece óbvio não? Parece simples não?

Consideramo-nos como tão inteligentes e perspicazes que nos achamos imunes as estratégias manipulativas e as consideramos, inclusive, tolas.

Tolas?

Não mesmo!

As palavras sedução/manipulação não parecem sinônimas, pleonasmo ou até redundância?

Então vamos lá dissecar os termos:

Sedução: encanto, graça, beleza, amabilidade, capacidade de encantar o outro com o fim de atingir determinados objetivos.

Manipulação: Um meio de ganhar o controle ou influência sobre os outros através de métodos persuasivos ou argumentos retóricos.

Parecem idênticos, mas são diferentes em seu conteúdo.

Porém, o manipulador muitas vezes é sedutor e vice-versa.

Manipular equivale a manejar.

Bom, somente os objetos são suscetíveis de manejo. Posso utilizar qualquer objeto para as finalidades que me serão úteis. Uso, troco por um melhor, descarto, guardo, etc.

Manipular é tratar uma pessoa ou grupo de pessoas como se fossem objetos, a fim de dominá-los facilmente. Essa forma, na maioria das vezes, ganha o upgrade de um rebaixamento, um aviltamento (muito usado em processos de tortura e de tirania).

Manipula, aquele que quer vencer e que atua astutamente sobre nossos centros de decisão, a fim de nos arrastar a tomar as decisões que favorecem seus propósitos.

Um sedutor/manipulador usa, entre outras, a estratégia de tornar o manipulado/seduzido facilmente dominável, passivo, não criativo, com pouca capacidade de observação crítica.

Sabemos que a linguagem é o maior meio para nos comunicarmos, e o mais arriscado.

De acordo com seu uso, a linguagem pode ser terna ou cruel, amável ou displicente, difusora da verdade ou propagadora da mentira. A linguagem oferece possibilidades para, em comum, descobrir a verdade, e proporciona recursos para tergiversar as coisas e semear a confusão.

Basta conhecer tais recursos e manejá-los habilmente, e uma pessoa astuta pode dominar facilmente outras pessoas se estas não estiverem de posse de uma boa capacidade de discernimento.

Na linguagem existem palavras e expressões consideradas exponenciais.

Uma palavra exponencial tem o poder de prestigiar as palavras que dela se aproximam e desprestigiar as que se opõem ou parecem opor-se a ela.

O manipulador ao usar os termos exponenciais sabe que, ao introduzi-los num discurso, estarão favorecendo o impacto, e muitas vezes intimidando. Seus interlocutores talvez não exerçam seu poder crítico e aceitem ingênua e/ou amedrontadamente o que lhes é proposto, com medo de não ser adequado, ou mesmo de ser ridicularizado.

Um exemplo de palavra exponencial é liberdade. Vejam por aí como se utiliza este exponencial para, inclusive, ocultar o verdadeiro sentido da ação proposta.

As palavras podem deturpar os fatos. Desta forma, a versão vale mais que o fato.

E um manipulador sabe muito bem disso.

Sabe que do uso dos termos decorre uma interpretação errônea dos esquemas que articulam a idéia ou os fatos.

Stalin, afirmou o seguinte: "De todos os monopólios de que desfruta o Estado, nenhum será tão crucial como seu monopólio sobre a definição das palavras. A arma essencial para o controle político será o dicionário".

Um manipulador utiliza diversos meios para dominar alguém sem que este perceba. Por exemplo, difundir algo sobre uma pessoa, seja verdadeiro ou não, e negar-lhe o direito de expressar sua versão, manipulando a própria versão dos fatos e induzindo ao seu redor apenas esta versão.

Podemos afirmar que isto é uma forma de tirania, não?

Uma outra maneira é neutralizar quem percebe suas intenções manipulativas, isolando-a, entre outros meios, pela maledicência, ou pela ridicularização.

Esta forma de manipulação - através da censura e da contra informação - é a mais eficaz e, por isso, a mais utilizada pelos estados ditatoriais sobre a população.

Outro dado importante é que o manipulador, prestigiado por algumas ações e/ou por auto-propaganda que dá de si uma imagem de inteligência, aporta como menos inteligentes os que o contradizem, seja com agressividades disfarçadas para exercer domínio manipulativo no que expressa, ou seja pelos termos utilizados para impor o que pensa utilizando-se de palavras exponenciais.

O grande teórico da comunicação MacLuhan cunhou a expressão: "o meio é a mensagem", ou seja, não se diz algo porque seja verdade; toma-se como verdade porque se diz.

Manipulação midiática existe aos montes, manipulação política idem, mas a manipulação pessoal é muito mais difícil de perceber, pois ela esbarra em nossa presunção de nos acharmos imunes a tal.

Seja qual for o caso, a nós cabe ter um pouco mais de discernimento, de análise dos fatos e do que conhecemos dos envolvidos em qualquer que seja a situação.


9 comentários:

Duca disse...

Excelente post meu amor.
Se eu já percebi ao meu redor um manipulador? Claro que sim.
Gostaria apenas de acrescentar que o manipulador utiliza muitas vezes os sentimentos, como a generosidade – apenas para dar um exemplo – para atingir os seus fins. Ele utiliza os sentimentos de forma tão autêntica que quase podemos afirmar que estes manipuladores tangem a psicopatia, tal a perversidade com que enganam e dominam os outros.

Anónimo disse...

Sabe, andarilha, eu vim aqui li e reli e cheguei a coclusão de que fui injustamente acusada de manipuladora uam vez(ainda bem que foi uma vez só).Tem algo no manipulador também quando ele se faz de vítima, eu acho.Beijos, querida!

Andarilha das Estrelas disse...

Marcia

Se vc perceber, a manipulação é uma prática comum.
Existe de todas as maneiras.
E todas nós manipulamos. Um vendedor é um manipulador.
Agora o termo fica pejorativo e a ação fica perigosa quando se manipula com fins cínicos, de proveito próprio e prejuízo do outro.
Uma das armas de um manipulador é o de projetar no outro aquilo que ele mesmo faz.
A vitimização é uma das formas de se manipular o outro.
O que eu procurei evidenciar aqui é o cinismo do manipulador, a forma como ele conduz a manipulação, inclusive sabendo que está exercendo este domínio e controle sobre o outro.
É o usar a estratégia de forma inteligente, mas sempre com o fim de se auto beneficiar em detrimento do outro.
E isto é muito diferente de se ter uma pratica aberta e transparente de relação, seja ela de que nível for: política, comercial, inter-pessoal, etc

Andarilha das Estrelas disse...

Duca querida
Muito bem colocado. A "generosidade" manipulativa faz com que o outro fique devedor.

Cosmopolita disse...

Andarilha, esqueceste-te de referir que a mais clássica e subtil artimanha do manipulador é escrever sobre si próprio como se se de outrém se tratasse ;)

Não há dúvida de que este post é uma excelente lição e uma fotografia muito exata sobre como a sedução se pode tornar na arte da manipulação. A todos os níveis. Chapeau!

Andarilha das Estrelas disse...

Obrigada, Cosmopolita, por suas palavras!
Agora, engana-se quanto ao que você coloca como uma sutil forma de manipulação.Do que voce fala é tão somente uma atitude muito comum, um artifício usual chamado de projeção.
Freud foi quem primeiro utilizou o termo projeção. Um fenômeno psicológico.
Transfere-se ao outro aquilo que lhe é inerente. Os julgamentos equivocados, os critérios sejam positivos ou negativos em relação a alguém ou mesmo a uma idéia, em sua maioria, é passível de ser uma projeção, uma simples transferência de um fator interno do próprio individuo. De acordo, ainda, com os analistas, projeta-se a própria psicologia sobre os semelhantes e assim se desenvolvem relacionamentos que se apóiam em tais projeções.
Jung já amplia essa questão da projeção ao dizer que projetamos no outro nossa sombra. E sombra não significa apenas coisas nefastas ou negativas. Todas nós temos o lado sombra e ele é criativo também, nos impulsiona.
E, ainda segundo Jung, seremos seres individualizados quando reconhecermos nossa sombra e a abraçarmos.
Reconhecer a sombra é difícil e requer coragem, pois se coloca em cheque toda a consciência de si: hábitos, crenças, valores, afetividades, etc.
É mergulhar no desconhecido, é ir ao inconsciente, fica-se sem chão, é necessário ter-se estrutura muito sólida para tal mergulho.
Este confronto com o lado sombra é a parte da individuação (de acordo com Jung) muito importante. É preciso coragem para admitir e reconhecer que tudo aquilo que se projeta aos outros, principalmente as coisas que menos se gosta, são inerentes a si mesma e a mais ninguém.
A projeção ou transferência não é privilégio de ninguém em particular, é uma característica de tod@s as pessoas que ainda não atingiram a individuação.
O que a manipulação já não é!
Esta sim é uma atitude premeditada de tornar o outro objeto de si.
O fato de se falar sobre algo, sobre uma idéia, e discorrer sobre ela não significa projeção. Mas tão somente uma análise do tema.

Caracolinha disse...

... eu confesso que já andava arredada deste mundo dos blogs há já algum tempo... :)

... mas ao ler o que escreveste andarilha, sou "obrigada" a vir aqui comentar-te ... no fundo, és uma manipuladora, está provado... :p

... fabulosa a forma como exprimes, de maneira tão clara e inequívoca este fenómeno tão comum como mesquinho, esta arma dos descamisados emocionais, dos estéreis afectivos e, acima de tudo, dos inseguros ... a insegurança é lixada...

... faz querer dar a imagem da dona da fazenda quando no fundo se é o mais maltrapilho dos escravos...

... eu gosto de manipuladores ... e aprendo sempre imenso com eles ... como , humildemente, tento sempre aprender com tod@s aquel@s que se cruzam na minha vida...

... aprendo que se vive do amor, daquele que se dá desinteressadamente e daquele que se merece receber ... aprendo que construí os meus alicerces a ser feliz e a fazer dos outros felizes, e não a enfraquecê-los para poder passar a imagem de que sou mais forte...

... enfim, olhar para dentro, como dizes, é um caminho com muitas curvas e apenas acessível a quem consegue ter a capacidade de se aceitar, com todos os seus defeitos e todas as suas virtudes...

... mais fácil é andar a snifar os trilhos que outros traçam e troçar da sua coragem ao olhar para dentro, pois esses, os que têm insight, são os primeiros a ter a suprema capacidade de não julgar os outros, e a soberana humildade de sorrir, mesmo quando são rebaixados por manipuladores cinzentos e sedentos de desorganização exterior ... pois é essa desorganização exterior que adoram fomentar, pois é essa que depois os faz passar a eles (quase) despercebidos ...

... sabes como é que se diz ... se deixares um balde de merda sossegado passado um tempo não deita cheiro ... o pior é quando lhe começas a mexer ... aí estragou...

... cultivar miserabilismo para tirar dividendos, cultivar a dependencia afectiva, material e cognitiva é a arma que melhor resulta entre o manipulador mesquinho e infeliz e o manipulado vazio e sedente de ser preenchido...

... gosto de te ler...
... gosto da forma clara como escreves...
... gosto de mentes sãs como a tua...
... gosto da tua generosidade...
... gosto da tua capacidade de amar e ser amada...
... gosto da tua lealdade...
... gosto da tua transparência...

... enfim ...

... gosto de ti ... :)

... beijos no teu imenso coração.

ANALUKAMINSKI PINTURAS disse...

Parabéns pelo texto, bem escrito, crítico, esclarecedor, pertinente! Talvez, exercitar o pensamento, e aprimorar a sensibilidade, através de leitura e atividades criativas, reflexivas, seja uma das maneiras de nos tornarmos seres menos "manipuláveis", e perceber quando uma persona sedutora pode ser, também, nociva ou opressora, ou, ao contrário, pode ser instigante, realmente amável, benigna e libertadora! Abraços alados e luz!!!

Andarilha das Estrelas disse...

Querida Caracolinha

Bom, vou pedir emprestado à Duca algo que ela me escreveu há mais de um ano, ao me responder o e-mail que eu lhe enviara sobre o Tempus, o primeiro de uma série:
“Puxa, deixaste-me sem palavras, o que é difícil!”
Pois foi assim que este seu comentário me deixou. E precisei de muitas horas para me recompor.
Fiquei impactada ao ler o que escreves sobre mim.
Comovida e em silêncio.
Um silêncio reverencial à algo que tens e que, dentre todos os atributos envolvidos em uma relação, é o que me é mais caro, mais importante e o mais evidente de uma amizade:
LEALDADE!
Esta palavra tão esquecida nestes tempos em que tudo é descartável, inclusive amig@s!
Desde menina que sinto no meu mais profundo o quanto a lealdade é um atributo importante em quem se diz amig@.
Minha avó, que foi de fato minha mãe, constantemente, estava a me lembrar sobre este adjetivo: leal. Esta mulher que tanto me ensinou, sempre o fazia por suas ações. Era mulher de poucas palavras. Era semi-analfabeta, mas, que sabedoria!
Pois sua lealdade era sinônimo de integridade aos seus princípios e seus princípios eram compromissos consigo própria.
Ter por principio interno amizade, sem dúvida carrega intrinsecamente a lealdade.
Porem sei, sabido de experiência de vida, que ser leal não é fácil. Não é comum, é um componente de ser íntegra mesmo!
E o que é ser íntegra?
É ser aquilo que se é, com coragem, com abertura, com desprendimento e sem pejo!
Pois, se integridade tem a ver com honestidade, sejamos quem somos! Possamos nos olhar de frente, mesmo que não venhamos a gostar do que estamos a ver, mas reconheçamos que é uma parte de nós e não é a única, é tão somente uma parte. E sejamos leais a nós, não nos descartemos porque uma parte de nós não nos agrada.
Não vamos sair por ai fingindo ser outra pessoa só para ser aceita pelos demais e por nós mesm@s. Fazendo de nós apenas a imagem idealizada.
Ser leal é uma melódica forma de se inter-relacionar. Compõe-se em companhia.
Segura-se a mão d@ amig@, acolhe-se, compartilha-se, desavergonhadamente pois sabe-se que não se é julgada e nem descartada.
Gratidão, Caracolinha por ser-me íntegra, por ser-me leal, por ser-me tão descaradamente quem és:
Minha amiga!