quinta-feira, julho 03, 2008

Junho: O mês mais LGBT!



No passado mês de Junho comemorou-se, um pouco por todos os países que são Estados de Direito Democráticos, os 39 anos anos de Stonewall.

Em Lisboa, mais uma vez aconteceu a Marcha do Orgulho LGBT, infelizmente com alguns slogans nada próprios de uma manifestação que pretende chamar a atenção para a existência dos mais variados preconceitos contra a população LGBT que, ao arrepio do artigo 13º da Constituição da República Portuguesa, continua a ser alvo de afrontas e sem acesso a vários direitos.

No passado sábado, dia 28 de Junho, na Praça do Comércio em Lisboa, lá aconteceu o tal Arraial Pride - não há meio de conseguir habituar-me a esta designação - com direito a barraquinhas montadas de comes e bebes, um palco onde desfilavam vários artistas e meia dúzia de caixotes a que deram o nome de WC's e, onde se juntavam filas de pessoas, aos pulinhos enquanto apertavam as pernas contra os genitais numa tentativa vã de aliviar a urgência aflita de fazerem xixi.

Só vi duas barraquinhas de venda de t-shirts e outros acessórios e apenas uma com venda de livros, o que considero muito pobrezinho para algo que apenas acontece uma vez por ano. Mas, tento desculpar as várias organizações portuguesas, promotoras destes eventos, com a tremenda falta de recursos financeiros existente neste cantinho à beira mar plantado que parece ser fadado a crises económicas que nunca mais acabam.

Tanta decepção só é um pouco colmatada quando sei que do outro lado do Atlântico, o Rio de Janeiro se declarou uma cidade de orgulho, através do seu Governo Municipal, pois foi lançado pela Prefeitura da Cidade o selo comemorativo Rio Orgulho. Para além disto, de 29 de Junho deste ano até 29 de Junho de 2009 existirão seminários, mobilizações, reflexões, festas, para além da Parada LGBTT do Rio e onde se discutirão e festejarão temas relacionados ao mundo LGBTT. Se desejarem, podem conferir o que por lá vai sendo feito aqui.

No país irmão as organizações de defesa dos direitos da comunidade LGBT têm feito um trabalho extraordinário de visibilidade. Em Brasília, ocorreu a 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais onde Governo, sociedade organizada e povo, discutiram políticas públicas para a população LGBT. E, como resultado de toda a Conferência, a elaboração do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos LGBT e, ainda, estratégias para fortalecer o Brasil sem Homofobia – Programa de combate à violência e à discriminação contra a população LGBT e de promoção da cidadania homossexual.

A comunidade LGBT brasileira, bate-se há dois anos pela aprovação do PLC 122/2006, Projecto Lei de Criminalização da Homofobia. Para que tal projecto veja a luz do dia podemos dar uma ajuda clicando aqui e assinando esta petição electrónica que a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transgéneros) irá enviar ao Senado Brasileiro. É que, para quem não sabe, no Brasil, a cada 2 dias um homossexual é assassinado pelo simples facto de ser homossexual. No Brasil, existem milicias para matar homossexuais. Quando as lésbicas são mortas, elas são estupradas, os seus órgãos genitais cortados, e muitas vezes lhes são enfiados canos, paus, etc. São crimes específicos contra homossexuais. O Projeto de Lei 122/2006 criminaliza este tipo de homofobia e outros relativos a ofensas e discriminações horríveis.

A minha parte está feita.

12 comentários:

Andarilha das Estrelas disse...

Duca
É uma alegria e uma grande honra saber que do outro lado do Atlântico, mesmo longe fisicamente, minha mulher caminha a meu lado na luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
Unir esforços entre nações irmãs para que tenhamos vitória em nossas ações de cidadania LGBTT.
Minha gratidão, meu bem.
Saudações lésbicas, feministas, libertárias
E por que não dizer amorosas?

Cosmopolita disse...

Excelente post Duca! E importantíssimo o facto de chamares a atenção para a necessidade de solidariedade com movimentos congéneres internacionais. A união faz a força!

Beijos

Viz disse...

Duka Maria!
Estou "furiosa" contigo! A próxima vez vou-te acorrentar e assim não escapas!
Bjkas linda e saudades tuas

Anónimo disse...

olá :D
belo post este. só gostava de lembrar que não podemos comparar os números brasileiros da marcha com os de portugal, visto que a demografia é incomparável.
quanto aos slogans, embora a maria, lá no meu cibercanto também não tivesse gostado, acho que são próprios da irreverência dos jovens participantes, no seu direito de se expressar em liberdade. escolhas que eu também não faria, porque a idade vai-nos roubando alguma rebeldia.
já agora, deixo aqui o convite para o próximo ano, para a sua colaboração num stand de ciber-eles ;)

Mar da Lua disse...

Passem lá pelo meu cantinho! Tenho um convite para vos fazer!

Duca disse...

Andarilha

Sabes amor, finalmente tenho a oportunidade de caminhar ao lado de quem amo lutando por uma sociedade mais justa e igualitária, principalmente no que concerne à visibilidade e direitos de cidadãos LGBT. Lógicamente não iria deixar passar essa oportunidade ao lado.

Saudações lésbicas, feministas, libertárias e amorosas.

Duca disse...

Cosmopolita

Sempre defendi a necessidade de se trabalhar em conjunto com movimentos LGBT internacionais. De facto, a união faz a força. No entanto, tal nem sempre é possível pois há quem receie perder o controlo das suas quintinhas.
Como seria de esperar, a ânsia de manter cargos a qualquer custo, muito típica da sociedade portuguesa, se reflecte nos movimentos LGBT deste cantinho.

Beijo

Duca disse...

Viz

Linda, é no Arraial Pride que estou com pessoas que só vejo uma vez por ano. Calhou essas pessoas estarem do lado oposto ao vosso.

Espero que nos vejamos em breve.

Beijos para ti e para a Inha.

Duca disse...

Tangas

"... gostava de lembrar que não podemos comparar os números brasileiros da marcha com os de portugal, visto que a demografia é incomparável."

Mas eu nem sequer falo das marchas LBGT no Brasil e muito menos de números.
A minha chamada de atenção vai no sentido da diferença que noto entre a forma de actuar das associações em Portugal e Brasil. Noto que em Portugal as associações LGBT estão muito pouco activas. Basta ir ao site da ILGA Portuguesa e ver notícias que já não são notícia. Enquanto as associações brasileiras têm um activismo notório e diário e isso nada tem a ver com demografia.

Sempre fui irreverente e mesmo rebelde, mas defendo que a irreverência e rebeldia dos jovens não deve levá-los a ter comportamentos que compromentam todo o trabalho que se tem feito pela visibilidade e direitos da comunidade LGBT.

Quanto à colaboração num num stand de ciber-eles teria muito gosto, caso ainda esteja em Portugal.

Duca disse...

Mar da lua

Já lá passei e fico muito feliz pelo lançamento do livro. Vou fazer os possíveis por lá estar, comprar um exemplar e tê-lo autografado.

Votos do maior sucesso.

Beijo

x-pressiongirl disse...

Não percebo o que é que está erado na designação de "arraial pride"?
Eu acho que também não podemos exagerar nas críticas ao evento. Tem sido positivo, tem crescido a bom ritmo e temos conseguido cada vez maior aceitação. Sim, as casas-de-banho-caixote são um turn-off tremendo. Há coisas a melhorar, obviamente, entre elas o facto de se acabar uma festa destas às 4 da manhã. Ninguém merece!
Relativamente aos slogans "nada próprios", confesso que há algum tempo tinha uma posição similar, mas apercebi-me que esses slogans "provocatórios" fazem todo o sentido precisamnte porque, como dizes, "pretende chamar a atenção para a existência dos mais variados preconceitos contra a população LGBT que, ao arrepio do artigo 13º da Constituição da República Portuguesa, continua a ser alvo de afrontas e sem acesso a vários direitos." e não é que tire seriedade à marcha é precisamente porque mexe com os preconceitos da própria comunidade LGBT. Sabemos criticar muito bem os preconceitos dos heteros mas raramente reconhecemos que entre os LGBT's há muito preconceito (eu própria admito que ainda ando a tentar contornar alguns dos meus preconceitos) e apercebo-me que é precisamente por isso que as panteras me "incomodam". Mas é um incómodo necessário. Brincar com os nossos próprios estereotipos, rirmo-nos de nós próprios é necessário ao activismo.

Beijitos x-pressivos da grande bichona que habita dentro de mim,

x-pressiongirl

Má ideia! disse...

olá

é uma postura recorrente entre nós, povo que foi inquisado, bufado, feito desaparecer, vendido como dócil (e brando)tantos anos, esta de recear ardentemente alguma expressão mais forte, mais comprometedora, para não estragar o "nosso" trabalho. Invariavelmente, quem vejo trabalhar à séria, correr á frente com a bandeira enquanto so outros esperam uma deixa, costumam ser os irreverentes (os mais eficazes SABEM ser diplomáticos, mas não SÃO aquilo, chama-se engolir sapo)

os slogans, só é pena não ter havido mais.