quarta-feira, agosto 01, 2007

Memórias


Em criança detestava bonecas. Abria-lhes a barriga para ver se tinham “câncaro”. Achava muito mais graça aos brinquedos do meu irmão que eram muito mais giros. Carros de bombeiros, camiões basculantes que o meu irmão dizia serem “camionetas das plantas” cinturões com pistolas, berlindes, jogos, legos, etc.

Como todas as crianças, rapazes ou raparigas, em África, brincávamos em liberdade na rua ou nos jardins das respectivas casas. Ficava fula sempre que os rapazes me diziam que iam brincar aos cowboys e aos índios e eu, por ser menina, tinha de ser a enfermeira deles. Claro que a coisa dava sempre pró torto e depois de umas trocas de bofetadas, lá ficava eu com o papel de cowboy mau.

Esta minha preferência por brincadeiras que se convencionou serem de cariz masculino, em nada abalava o facto de eu preferir rapazes a raparigas. Estas não me interessavam de maneira nenhuma e quando entrei na idade dos namoricos púberes, não enjeitei alguns rapazes que me queriam namoriscar. Como namorava sempre dois ao mesmo tempo, arranjei o seguinte sistema: às segundas, quartas e sextas namorava um, às terças, quintas e sábados namorava outro. Aos domingos empandeirava os dois porque era o dia dedicado à família.

Aos 15 anos tive o primeiro namorado “a sério” e esse namoro durou três anos. Ele tinha mais 10 anos que eu. O rapaz (que era um homem feito) teve a pachorra de esperar que eu crescesse mais dois anos para me mostrar os prazeres do sexo. Mostrou e deve tê-lo feito bem porque eu gostei. Quando cheguei aos 18 anos, ele entendeu que já me podia casar e cometeu o erro de me pressionar. Nada virada para me casar tão nova, aproveitei um tempo de afastamento físico dele para pôr fim ao namoro.

Em Portugal, continuei interessada em rapazes e a ter os meus namoros mais ou menos sérios.

Aos 21 anos, fui para Paris estudar e encontrei um mundo completamente diferente de um Portugal que apesar da revolução de Abril se ter dado há uns bons anos, ainda não se tinha libertado (e de certa forma ainda não se libertou) de uma época de obscurantismo que durou décadas.

Em Paris comecei a namorar um belo rapaz de quem também guardo boas recordações.

Um dia, numa festa na casa onde fiquei a viver, vi entrar uma mulher que julgava que só poderia ver nos filmes. Alta, elegante, requintada, com uns belos cabelos loiros, olhos verdes azeitona e um rosto renascentista que lembrava Simonetta Vespucci, a musa de Sandro Botticelli e que surge no quadro “O Nascimento de Vénus” em todo o esplendor da sua beleza. Fiquei completamente aparvalhada a olhar para aquela verdadeira celebração da natureza à beleza feminina que acabara de entrar.

Depois de me ser apresentada pela dona da casa, descobri que para além dos atributos físicos, aquela francesa mais velha que eu sete anos, era uma mulher de educação, inteligência, cultura e sensibilidade superlativas. Devia ter um karma fabuloso para lhe ter saído a sorte grande em jackpot!

Simpatizámos quase imediatamente uma com a outra a que, da minha parte, não foi indiferente uma enorme curiosidade quando a soube lésbica.

Continua ...

11 comentários:

Garamond disse...

Esta mulher não existe!!!

Quando uma pessoa se começa a encostar na cadeira, a trincar com mais entusiasmo o pêssego fresquinho, a menina faz intervalo na historia!

Irra!

Assim não vale!

Intervalos tipo TVI não tá com nada!

Pronto vá lá deixo te um bêjo e volto amanha... que remédio!

Gar
(sempre a protestar não vou longe...mas também não tenho rota marcada!)

Duca disse...

Garamond

Easy, amiga, easy que o suspense faz sempre parte de uma história seja ela real ou fictícia, boa ou má. Amanhã há mais!

Beijo

Viz disse...

Chefona,
gosto de te ler, e adoro de te ouvir.
bjinho

indigo des urtigues disse...

Uhmm, estou a gostar da história, aguardo a continuação :)

Duca disse...

Viz

Obrigada, linda! Sabes, no entanto, que é recíproco.

Beijo

Duca disse...

Indigo des Urtigues

Obrigada. A continuação segue amanhã. :)

Anónimo disse...

Duca

Sortuda, digo eu.
Só não sei qual a que o foi mais. Se tu, se ela...

Beijo

Duca disse...

Repórter

Eu, sem qualquer dúvida! :)

Beijo

Caracolinha disse...

Tu és decididamente uma pessoa muito especial ... para além da pessoa que transparece aqui quando escreves há esse jeito delicioso que tens de lidar com as palavras e de escreveres maravilhosamente ...

A tua história é em muito semelhante a muitas outras que acabam com um sorriso ... pobres daqueles que se deixam aprisionar por uma vida de ilusão a interpretar personagens com as quais não se identificam minimamente ... não é tanto o assumir aquilo que se é para os outros, mas sim para nós próprios ... ainda bem que tiveste esse clic ... s ebem que me pareceu que o estímulo que gerou o clic era bastante potenciador de sensações ... :)

Essa cena do encontro entre ti e essa mulher fez-me lembrar um livro que uma vez li ... e que amei e já reli várias vezes ... :)

Beijoca encaracolada e mais uma vez parabéns pela forma límpida e bonita como escreves ... ficamos à espera do resto ... :)

Duca disse...

Caracolinha

Exageras minha amiga, mas não nego que é bom ouvir isso e saber que gostas de me ler.

A segunda parte já aí está! Olha lá para cima ... ;)

Beijo

Caracolinha disse...

Pois olha, eu não acho que exagerei nem um pouquinho ... é um elogio minha amiga Capricórina ... aguente-se com ele ... ;)

Beijoca encaracolada ... :)

O resto da história leio assim que chegar a casa ... óh se leio ... :)