SINFONIA
Encontraram no corpo dela as suas teclas.
Apanharam-na.
Afinaram as suas notas.
Tiveram a paciência de um imortal.
A certeza de um proprietário.
O tempo de todo o mundo.
Tencionaram cordas – e ela converteu-se num brinquedo espontâneo.
Tangendo sempre...
Flamenco nos seios.
Jazz no ventre.
Entre as pernas, um choradinho de arrancar lágrimas.
O bojo dos seus quadris apoiado sobre a coxa firme da pianista.
A mão esquerda conduzindo o seu braço numa valsa descabida.
A destra hábil gravou na sua medula a letra daquela canção.
Fez ecoar a voz da amada no recinto outrora vazio da alma da amante.
Ela contorceu-se, inclinou-se, gata em momento de preguiça, quatro patas, traseiro alto em alegre submissão.
A boca dela cantarolou no seu sexo.
Lábios com lábios.
E todas as janelas do seu corpo se abriram, se escancararam, berrando um convite.
Latejando.
Humedecendo.
Ela escolheu uma entrada.
A doce porta proibida.
Tocou de leve os glúteos fortes.
Cor de trigo.
Páginas sofisticadas.
Abriu-as.
O miolo de tal livro era algo para conhecer.
Ela regia uma sinfonia suave, morosa.
Primeiro os violinos.
Meigos, furtando suspiros precoces.
E a porta antes trancada foi cedendo devagar.
Então, os oboés. Os violoncelos. Os clarinetes. A divina cacofonia.
A amante avançou.
Tateou.
Dedos cegos mas espertos logo acharam o seu posto na orquestra.
Aninharam-se na alcova alagada de um órgão em flor.
Dedilharam...
Um, dois, três. Um, dois, três.
Encontraram o ritmo.
Sem pressa, ela a embalou.
Indo e vindo.
Afundando sempre.
Ela como um maestro conduziu.
A diva cantou. Prazer agudo. Palpitante.
Infringir a regra e jamais contar a ninguém.
Despejar o conteúdo de todas as gavetas.
Rasgar as páginas de todos os diários.
Falar de amor carnal e visceral em todos os altares.
Preencher com gozo divino todos os buracos mundanos.
Meter o pecado virtude adentro.
Entrar e sair do paraíso roçando o inferno. Roçando o fogo.
A voz dela rivalizou com as de todos os castrati.
Ah! Foi uma longa sinfonia.
21 comentários:
ok.
Amei a sinfonia :)
Parabéns
Tagareladora
Obrigada. Contudo, é meu dever endereçar os teus parabéns à autora do poema.
Uma boa escolha!!
Divinal a leitura com a música a acompanhar.
Muito bem.
Assim, vale a pena ler. E absorver.
Um beijo
arrebatador! e então com esta musica, parece que flutuamos :)
já tinha saudades :)))
beijo nina linda
Venham mais destas harmonias instrumentais..gostei, gostei, bravo!!
Beijos
Estrelaminha
:)
Beijo
Observador
Ainda bem que gostaste.
Beijo
Peach
Também já tinha saudades. :)
Beijo
Inha
Obrigada querida.
Beijo
Ah o corpo feminino, onde um homem se perde e se salva, com o devido respeito.
Lobo das Estepes
Harryhaller
Eu prefiro assim:
"Ah o corpo feminino, onde a maioria dos homens e algumas mulheres se perdem e se salvam." :)
rsss acheí graça e concordo com tua ultima observação....rsss
realmente o corpo feminino e tb o masculino,,,,ou seja,,,,
os corpos de nossos amados,,,,são nossas perdições....
mas é um perdido que tem mapa e rota de volta....
e nós todos nos salvamos.....rs
beijos
mineira
virtual olhar
Bem...
Simplesmente divinal e arrebatador o poema!
O meu texto fala um pouco no mesmo sentido, mas este... Depois há a foto e a tua música, são um complemento maravilhoso! :))
É engraçado, realmente há concidências! ;))
Bjs!
Olha que bela ideia que a Musa deu à Tess... Tenho a certeza que o O'Neill também haveria de gostar, marcando o ritmo com o copo de Vat 69 sobre a mesa de tampo de mármore, daquelas que já não existem...:)
Beijos matutinos. Dia bom!
Divinal!!!
Foi longa e intensa... como o perfume que deixas em todo o conteudo implicito dos teus post´s.
Também tinha saudades tua :)
beijoca
Lindo.
Pura música rente ao coração.
pele de poema.
E um beijo doce.e saudoso.
Forte, muito forte :) uma sinfonia perfeita. bjiiinhes
um absurdo em prazer em música. A mais bela das sinfonias.
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