No passado Sábado, a minha querida amiga
Citadina fez 35 aninhos e resolveu fazer uma festa de arromba. Pelas 21h00, encontravam-se no restaurante cerca de 30 pessoas para a mimarem.
Depois do jantar, que decorreu animadíssimo, alguns dos convivas rumaram até à discoteca
Maria Lisboa que de dia para dia se vai tornando num local de diversão obrigatório da comunidade LGBT (lésbicas,
gays, bissexuais e transgéneros) lisboeta, com uma predominância feminina que ronda os 80%. De registar que a discoteca é completamente
hetero-friendly.
O espaço é amplo, bonito, moderno, com música desde os anos 80 e que põe a grande maioria das pessoas a dançar. Há também vários tipos de
shows ao vivo, com especial destaque para o
strip tease feminino que deixa as meninas presentes muito felizes, pois claro!
Pelas 02h00, um colaborador da discoteca começou a fixar o varão metálico do estrado em formato quadrangular que se encontrava no centro da pista de dança. O
strip iria começar dentro de minutos e as pessoas começaram a aproximar-se do estrado procurando o melhor local para visionar o
show.
A
stripper entrou trajando
tailleur, chapéu e sapatos altos. Nunca lhe pude ver o rosto pois a moça mostrou-se sempre de costas a quem estava no local onde me encontrava. À primeira vista, dava para perceber que possuía um belo par de pernas que a saia curta deixava adivinhar.
Ao meu lado, uma mulher de uns trinta e poucos ou muitos anos
(a iluminação não permitia ver bem) de aspecto que seria vulgar se não fossem os seus belos olhos verdes, mete conversa comigo.
Olhos verdes - É pena que seja um gajo, não acha?
Eu - Um gajo?
(estás ceguinha, filha? Os teus olhos não são verdes são é cegos!) Não! Se fosse um gajo, garanto-lhe que eu não estava aqui e sim sentada lá ao fundo.
Olhos verdes - Porquê? Não gosta de travecas?
Eu - De travecas não gosto, mas aprecio alguns
shows de
travesti desde que feitos com classe e arte. Infelizmente são cada vez mais raros em Portugal.
Olhos verdes - Pois olhe que me parece um gajo...
Eu - Olhe que está enganada.
(pobrezinha, já estás como hás-de ir!) Nenhum gajo, por mais operado que seja, consegue ter aquele par de pernas, quadris e cintura. Vai uma aposta?
Olhos verdes – Hum ... É melhor não.
(momento único de lampejo cerebral no meio de tanto álcool)Entretanto, a
stripper despiu o casaco e a saia ficando em
lingerie.
Olhos verdes – Ah, tem razão, é uma mulher mesmo e tem um pouco de celulite. Que pena!
Eu – E então?! Não sabe que uma mulher sem celulite é como um jardim sem flores?
Olhos verdes – Mas numa mulher tão jovem não se admite, ainda por cima
stripper!
Eu – Não se admite?! O facto de ser jovem e de ter pretensões a
stripper (dava para perceber que a moça tinha jeito mas não era profissional) não a faz ser menos mulher. A celulite num homem é que é inadmissível. Numa mulher é perfeitamente normal.
Olhos verdes – Mas nos padrões actuais de beleza feminina, a celulite é proibida.
Eu – Os padrões de beleza somos nós, mulheres, que os criamos e é sobejamente conhecida a enorme tendência que temos para complicarmos a nossa vidinha. Sim, porque as mulheres sempre tiveram celulite e foi só, desde que apareceu aquela magrizela pavorosa da Twiggy, que resolvemos combater algo que nos é natural. Daí à anorexia foi um passo. Se o Rubens fizesse uma viagem no tempo, dava-lhe uma coisinha má. Tadinho!
Olhos verdes – O quem?!
Eu – O Rubens.
Olhos verdes – Hein?!
Eu – Esqueça ...
Olhas verdes – Estou a ver que prefere as mulheres de formas cheias...
Eu – Hum ...
(olha-me esta, o que tens a ver com isso? Formas generosas, não cheias. Até parece que se sopram. Bah!) nem por isso. As minhas preferências vão para mulheres inteligentes independentemente das suas formas.
Olhos verdes – Ah, as intelectuais ... estou a ver.
Eu –
(Não tás a ver coisa nenhuma ... mas adiante ...) Por aí ...
(o raio do show não acaba para me livrar da senhora inspectora ...)A
stripper terminou a actuação para grande alívio meu que me preparava para rodar nos calcanhares e pirar-me para junto das amigas.
Olhos verdes – E prefere as intelectuais morenas, loiras ou ruivas?
Eu –
(E se deixasses de me chatear a molécula?) Multi-étnicas ... tenho de ir, desculpe.
Olhos verdes – Hã?! ... ok ... tchau ...
Eu – Ufa!