Sou uma mulher de hábitos. Talvez seja influência do meu signo, Capricórnio.
Ora, tenho por hábito durante a minha semana de trabalho que vai de segunda a sexta-feira, almoçar num pequeno restaurante que fica junto ao meu trabalho. A comida é caseira, bem servida e com um preço acessível. Jacinta, a proprietária, é uma mulher com uns quarenta e poucos anos, muito enxuta, simpática e activa. Parece uma formiguinha, tal a velocidade com que despacha os pedidos e serve os esfomeados comensais.
Num destes dias, por volta das 13h00, lá estava eu sentada na mesa do costume, sozinha como sempre, apreciando um cozido à portuguesa que a Jacinta me serviu com desvelo; apenas carne magra, arroz e muita couve, nada de enchidos que ela sabe que tenho de manter este meu corpinho sem colesterol por mais uns anos.
Na sala, para além de Jacinta, apenas estavam eu, três homens e mais uma moça.
De repente começa um diálogo entre Jacinta e os três homens que não pude deixar de ouvir.
Jacinta: Estou que nem posso! Então não é que aquela rapariga linda, filha da senhora do talho, anda com aquela marmanja horrorosa do cu grande e que mais parece um gajo?
Primeiro homem: Qual?
Jacinta: A filha da senhora do talho!
Primeiro homem: Ora, essa sabemos nós quem é! É cá um pedaço! – Disse enquanto piscava o olho, estalava a língua e dava uma cotovelada no parceiro do lado. – Quero é saber quem é a marmanja!
Jacinta: Então não sabe quem é? Aquela fufa que mais parece um homem que vive ali ao fundo da rua e que é feia que nem um trovão!
Segundo homem: Porra! Não me diga. As mulheres agora andam com os gostos estragados. – Disse enquanto escancarava a boca, limpava os dentes com um palito, e mostrava umas unhacas mais sujas que as de um gorila.
Jacinta: Com os gostos estragados, com licença, que eu cá gosto muito de homem! Eu bem a avisei para não aceitar quando a marmanja a convidou para ir à casa dela, mas ela não me deu ouvidos e aceitou. Pronto, a outra saltou-lhe para cima e agora passa lá o tempo todo e anda com uma cara que parece aparvalhada. Até foi dizer à mãe que está apaixonada!
Segundo homem: É pá, mas que mau gosto, ao menos que escolhesse uma que fosse como ela que eu cá até me candidatava para lhes dar uma mãozinha! – Disse fazendo um olhar de galã-matador-e-que-papa-todas de terceira categoria, daqueles que só nos bairros de bas-fonds do piorio se vêm.
Jacinta: Cá a mim estas coisas fazem-me uma confusão, como é possível uma mulher gostar de estar na cama com outra?
Terceiro homem: E olhe que é perigoso quando experimentam, porque depois não querem outra coisa. A verdade é que vejo muita gente ir para aquele lado, mas não vejo ninguém daquele lado vir para este. Essa é que é essa!
Primeiro homem: Porra! O melhor é nunca experimentar, senão um gajo vira paneleiro.
Jacinta: Ou fufa, irra!
Terceiro homem: A mim como não me fazem mal, não os chateio, desde que eles não se metam comigo, tá tudo bem!
Jacinta: Ai, esta nossa conversa à frente daquela menina e desta senhora casada! – Disse olhando para a moça e apontando para mim.
Ora, tenho por hábito durante a minha semana de trabalho que vai de segunda a sexta-feira, almoçar num pequeno restaurante que fica junto ao meu trabalho. A comida é caseira, bem servida e com um preço acessível. Jacinta, a proprietária, é uma mulher com uns quarenta e poucos anos, muito enxuta, simpática e activa. Parece uma formiguinha, tal a velocidade com que despacha os pedidos e serve os esfomeados comensais.
Num destes dias, por volta das 13h00, lá estava eu sentada na mesa do costume, sozinha como sempre, apreciando um cozido à portuguesa que a Jacinta me serviu com desvelo; apenas carne magra, arroz e muita couve, nada de enchidos que ela sabe que tenho de manter este meu corpinho sem colesterol por mais uns anos.
Na sala, para além de Jacinta, apenas estavam eu, três homens e mais uma moça.
De repente começa um diálogo entre Jacinta e os três homens que não pude deixar de ouvir.
Jacinta: Estou que nem posso! Então não é que aquela rapariga linda, filha da senhora do talho, anda com aquela marmanja horrorosa do cu grande e que mais parece um gajo?
Primeiro homem: Qual?
Jacinta: A filha da senhora do talho!
Primeiro homem: Ora, essa sabemos nós quem é! É cá um pedaço! – Disse enquanto piscava o olho, estalava a língua e dava uma cotovelada no parceiro do lado. – Quero é saber quem é a marmanja!
Jacinta: Então não sabe quem é? Aquela fufa que mais parece um homem que vive ali ao fundo da rua e que é feia que nem um trovão!
Segundo homem: Porra! Não me diga. As mulheres agora andam com os gostos estragados. – Disse enquanto escancarava a boca, limpava os dentes com um palito, e mostrava umas unhacas mais sujas que as de um gorila.
Jacinta: Com os gostos estragados, com licença, que eu cá gosto muito de homem! Eu bem a avisei para não aceitar quando a marmanja a convidou para ir à casa dela, mas ela não me deu ouvidos e aceitou. Pronto, a outra saltou-lhe para cima e agora passa lá o tempo todo e anda com uma cara que parece aparvalhada. Até foi dizer à mãe que está apaixonada!
Segundo homem: É pá, mas que mau gosto, ao menos que escolhesse uma que fosse como ela que eu cá até me candidatava para lhes dar uma mãozinha! – Disse fazendo um olhar de galã-matador-e-que-papa-todas de terceira categoria, daqueles que só nos bairros de bas-fonds do piorio se vêm.
Jacinta: Cá a mim estas coisas fazem-me uma confusão, como é possível uma mulher gostar de estar na cama com outra?
Terceiro homem: E olhe que é perigoso quando experimentam, porque depois não querem outra coisa. A verdade é que vejo muita gente ir para aquele lado, mas não vejo ninguém daquele lado vir para este. Essa é que é essa!
Primeiro homem: Porra! O melhor é nunca experimentar, senão um gajo vira paneleiro.
Jacinta: Ou fufa, irra!
Terceiro homem: A mim como não me fazem mal, não os chateio, desde que eles não se metam comigo, tá tudo bem!
Jacinta: Ai, esta nossa conversa à frente daquela menina e desta senhora casada! – Disse olhando para a moça e apontando para mim.
Senhora casada, eu??? Puxa! Eu sei que tenho um jeito bastante straight mas daí a virar fada do lar, vai um abismo! Não disse nada, mas fiquei piursa. Onde raio foi aquela gaja buscar a ideia de que eu, lá por ter um ar feminino, tinha que ser straight e casada? Pois é, minha gente, as aparências iludem.
8 comentários:
Coitadinha, nem sei como conseguiste comer o cozido da Jacinta sem depois despejá-lo TODO em cima desses lindos exemplares de machos nacionais. Se algumas aparências podem enganar, a deles é que não engana ninguém.
AH grande Duca, aguentaste-te bem á bronca.
Podes crer, MSB, aguentei-me mas com grande esforço. Por minha vontade tinha partido a loiça toda. :)
P.S. Não detei fora o cozido da Jacinta porque a mulher pode ser homófoba, mas cozinha divinalmente. ;)
Beijo
Minha linda essa conversa bem se podia ter passado entre os meus colegas de trabalho que são todos supostamente educados e mais arejados. Infelizmente todos os homens que conheço acham piada a duas mulheres juntas e fazem sempre um sorrisinho estúpido de quem se candidata a mostrar às "gajas" comé que são as coisas... e mais infelizmente ainda também as mulheres colegas fazem sempre um ar de nojo e recorrem a esse mesmo comentário da Jacinta "mas que raio fazem duas mulheres juntas na cama?"...
Enfim... não sei como fazer para mudar as mentalidades nem dum lado nem do outro. E continuamos a sofrer pela falta de respeito que na generalidade todos mostram pelas mulheres que amam outras mulheres...
Beijos grandes de quem efectivamente tem ar de mulher casada e mãe de 2 filhas... as aparências iludem indeed!
O que eu gostei deste Post:)
Já me fizeste rir:)
Fui.
Voltarei.
Diz Ela*
Blue
Pois é verdade que há uns exemplares, como diz a MSB, que de facto me arrepiam, mas o que me mete mais impressão são as mulheres que pactuam com eles em certos comentários. Enfim, temos é que levar a coisa com algum humor porque de outro modo a vida seria ainda mais difícil.
Se a Jacinta soubesse que a senhora "casada" que ela trata com tanto carinho, ao fim e ao cabo não o é e ainda por cima é uma das tais "fufas" acho que me envenenava a comida. ;)
Ela
Apesar da situação ter uma intensidade homofóbica bem ao estilo da sociedade portuguesa e apesar de ter ficado fula, consegui no meio daquilo tudo sorrir porque foi mesmo sórdido e caricato.
Volta sempre.:)
Seu texto atravessou o atlântico e aterrissou lá no UNV...
Beijos agradecidos e sucesso sempre.
Muito obrigada, BF, terei todo o prazer em lhe fazer um agradecimento "mais público" no próximo post. :)
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