segunda-feira, junho 20, 2011

Gregos acidentais!



Por tudo quanto é canto ouvimos notícias dizendo que a colagem de Portugal ao que se passa na Grécia é uma realidade e, prova disso, é que cada vez que a Grécia solta uns gases, Portugal leva uma machadada. A nossa comunicação social fica à beira do ataque histérico e os jornalistas, economistas e quejandos viram os verdadeiros acólitos da desgraça.

Como se não bastasse eu já me ver grega para solucionar certas questões, agora virei grega não em lato sensu, mas em oeconomĭcus sensu!

Aqui são mostradas as diferenças entre Portugal e Grécia em termos de números. Mas as diferenças não se resumem aos números.

A língua portuguesa deriva do latim vulgar que foi introduzido no oeste da península Ibérica há cerca de dois mil anos. O grego é um idioma indo-europeu que conta com mais de três mil anos.

O povo português é pacífico, fatalista, resignado, tem um cagaço ancestral da autoridade, critica muito mas age pouco porque foi acostumado a viver com a ideia de que somos um povo de brandos costumes e, quando se chateia faz, no máximo, uns manguitos, critica em voz alta e, por fim, limita-se a contar umas piadas sentado junto com os amigos à mesa de uma esplanada a beber umas imperiais e a comer tramoços. O povo grego, pelo contrário, é mais optimista, combativo e quando se chateia organiza-se rapidamente e vem para as ruas bater-se, umas vezes contra as autoridades policiais e o poder instituído, outras nem sabe bem porque e contra o que ou quem se bate. Bate-se e pronto!

Ora porque raios nos querem colar à Grécia? O que temos nós de comum com a Grécia e os gregos? Nada! Então porque razão quando os gregos batem o pé e levam com as malfadadas empresas de rating que lhes baixam a notação financeira da dívida, Portugal leva por tabela? Porque os investidores são ignorantes? Não! Toda a gente sabe que os portugueses nunca falharam um pagamento dos empréstimos do FMI, são pacíficos, acagaçados e aguentam com tudo e mais alguma coisa de bico calado!

Então porquê?

Porque - acredito sinceramente nisto - há uma estratégia para afastar da União Europeia e do Euro, numa primeira fase, os países mais frágeis como Portugal, Irlanda e Grécia - que representam apenas 6% do PIB da zona Euro – e, numa segunda fase, acabar com a União Europeia que, apesar das boas intenções do Tratado de Roma que instituiu a CEE, não passou disso mesmo e virou uma desUnião completa!

Portanto, de pouco nos vai valer termos um novo governo de maioria com uma enorme vontade de mostrar, novamente, como os portugueses são gente séria e cumpridora dos compromissos que assume, porque há uma morte anunciada da UE.

E será que a saída da UE e o seu fim serão benéficos? Não faço a mínima ideia, mas começo a acreditar que mal por mal mais vale só que mal acompanhado!

Querem ver que ainda acabo por dar razão ao ditador de Santa Comba Dão que defendia com unhas e dentes o "orgulhosamente sós"? Irra, as conclusões a que chega uma grega acidental!

1 comentário:

Andarilha das Estrelas disse...

Amor
Adorei este post. Graça, leveza e delicioso humor.
Sabe, se eu acreditasse, ainda, que há "saídas" para toda esta parafernália do sistema e suas crueldades eu falaria dos: PIB, Défices, banca, etc.
Sabe, o que me intriga sempre, é que essa visão "global" de "crise" sempre se estabelece em números, nunca em indivíduos.
É brutal mesmo esta desconexão!
Nada existe na história de uma nação fora do contexto do "poder",da "propriedade", do "farinha pouca,o meu pirão primeiro", da "escassez",do "território".Aff! Este é um sistema de crença ancestral.
A tal ponto que nada se define fora destes parâmetros, sequer as causas ditas sociais.
Fico mesmo, como voces dizem, parva, abestalhada!
E ninguém se dá conta do emaranhado.Ou melhor até se dá, mas não sabe como sair dele.É o tal fio da meada que se perdeu.
O fio da meada da soberania do ser. Do que eu de fato sou e das verdadeiras habilidades, não as aprendidas em escolas, mas as que são reais, as que nos são inerentes. As habilidades que poucas pessoas se dão conta que existem e são próprias do ser.
Daí ficar-se tão perdida nos emaranhados. "Sei que não quero isso, mas não sei o que quero".Estas palavras de ordem que surgem,podem parecer um paradoxo e até simplista.Mas não é!
É brutal o quanto representa o emaranhado sistêmico!
A pergunta que não quer calar é:
Então? O que fazer?
Sair da ilusão que tudo o que há é o que vemos!
Até porque não vemos a energia elétrica e ela tá aí!
Beijos e valeu!