segunda-feira, agosto 13, 2007

Férias!!!


Serve a presente postagem para vos informar que a partir de amanhã ao final da tarde este blog e a sua autora se encontram oficialmente de merecidas férias.


Até Setembro!

terça-feira, agosto 07, 2007

Será que é muito grave?

Ontem, O Insurgente veio insurgir-se contra alguns pais holandeses que levaram os seus rebentos, supostamente homossexuais, com idades compreendidas entre os 11 e os 16 anos a uma parada gay que tinha como objectivo protestar contra recentes violências praticadas em homossexuais. A notícia que causou tal repúdio em Carlos G. Pinto foi esta. Este post do Insurgente teve, até agora, 47 comentários (a partir do sexto vão ter que andar com o elevador bem para baixo para encontrarem os restantes).

Hoje, encontrei no Que Treta! da autoria de Ludwig Krippahl um post que é uma resposta muito interessante ao do Insurgente. Para além do post, são também interessantes alguns dos seus 23 comentários.

Aqui está uma questão bem actual para ser debatida. Levaria algum filho ou filha de idade compreendida entre os 11 e os 16 anos a uma parada gay se ele(a) fosse potencialmente homossexual? E se fosse potencialmente heterossexual, também levaria?

segunda-feira, agosto 06, 2007

Hoje ...

... este blog faz um ano!



Começou timidamente, mas a sua autora foi ganhando atrevimento e é o que se vê!

Agradeço a todas as pessoas amigas, comentadores e autores de outros blogs, o facto de me ajudarem na tarefa, nem sempre fácil, de manter este "tempo de blogar" durante um tempo razoavelmente longo.

Bem hajam!

sexta-feira, agosto 03, 2007

Memórias III


"Mother and Child" sketch by T. Jordan "Greywolf" Peacock


Continuação ...


Eu não conseguia viver bem comigo própria escondendo dos meus pais algo que me mudara e que tinha, e teria, consequências na minha forma de estar na vida.

Não vou dizer que foi uma decisão fácil, porque nunca é, assumirmos a quem tanto se projecta em nós que, ao fim e ao cabo, não somos como a maioria.

Porém, eu conhecia os meus pais e sabia que eram pessoas bem formadas, que sempre foram contra discriminações, com uma mentalidade muito mais evoluída que a maioria dos portugueses da altura e mesmo de hoje e, acima de tudo, sabia que me amavam incondicionalmente.

Enchi-me de coragem e decidi falar primeiro com a minha melhor amiga: a minha mãe. Tínhamos uma ligação muito forte a ponto de eu lhe contar tudo o que me acontecia, mesmo as coisas mais íntimas. Éramos tão amigas e divertíamo-nos tanto, as duas, que nos chamavam “o roque e a amiga”!

Encontrei-a na cozinha a preparar um dos seus excelentes cozinhados e disse-lhe:

- Mãezinha, tenho uma coisa muito importante para dizer!

- Diz filha!

- Contei tudo sobre Paris e sobre a minha amiga S, mas omiti uma coisa!

- E como não te aguentas, tens de me contar, não é? Conta lá então o que me omitiste!

- Eu e S fomos namoradas! Descobri que também gosto de mulheres!

A minha mãe olhou para mim abrindo muito os olhos e eu, já quase à beira do desmaio, ouço-a dizer:

- Ai que grande desgraça, filha!

A tremer por todo o lado, apesar de tentar manter-me calma, perguntei-lhe:

- Desgraça, mãezinha, porquê?

- Então filha, se antes eu tinha meio Portugal a ligar cá pra casa, agora vou ter Portugal inteiro! Isto vai ser um inferno! Vai falar com o teu pai!


Voltou de novo a atenção para os tachos enquanto eu, aliviada e respirando fundo, me dirigi à sala onde estava o meu pai lendo um livro e saboreando um cognac que eu lhe trouxera de Paris.

- Paizinho, tenho uma coisa muito importante para dizer!

- Diz filha!

- Em Paris descobri que também gosto de mulheres!


O meu pai bebeu um trago, saboreou-o e olhando-me disse:

- Tens bom gosto, filha! Eu sempre disse que tinhas saído a mim!

Eu sei que estas reacções por parte dos nossos progenitores são tão pouco comuns que alguns de vós poderão pensar que não são possíveis, mas comigo, para sorte minha, foi assim que aconteceu. A minha saída do armário tinha sido muito mais fácil do que eu imaginara e até teve o seu toque de humor.

Durante o tempo em que me julguei bissexual, tive vários relacionamentos tanto com homens como com mulheres, mas concluí que o meu universo erótico-afectivo visava cada vez mais as mulheres em detrimento dos homens.

Continuava a olhar para alguns homens com interesse, não nego, mas a verdade é que me sentia cada vez melhor com mulheres fosse de que forma fosse. Elas atraíam-me cada vez mais, fisicamente, intelectualmente, eroticamente e emocionalmente.

Não havia volta a dar-lhe. Eu era definitivamente lésbica e não podia continuar a enganar-me convencendo-me de que era bissexual, sob pena de ser infeliz e de fazer outros infelizes.

Um dia, tinha eu 27 anos, a minha mãe, a minha melhor amiga, partiu para um lugar de onde eu não mais a poderia ver. Doeu-me, doeu tanto que ainda hoje dói! E ela era ainda tão nova!

Por essa altura conheci T e estamos juntas até hoje!


Fim

P. S. Com este relato de memórias pretendi partilhar convosco pedaços de mim e, acima de tudo, mostrar a quem me possa ler que "sair do armário" nem sempre é uma experiência dramática podendo, por vezes, ser um momento particularmente divertido! Porém, difícil ou não, é algo que temos mais tarde ou mais cedo que fazer sob pena de adiarmos "Ad eternum" a nossa vida e bem estar.

Aos homofóbicos que possam ter a curiosidade (que para mim é mais veleidade) de ler estes relatos, como podem verificar, não nasci com uma marca na testa, qual besta apocalíptica, a dizer "FUFA!" e sempre fui e serei do género feminino com o qual me identifico e me sinto muitíssimo bem. Não sou lésbica por ter sido maltratada por homens e também não o sou por falta de homens "como deve ser!"
Não tenho nem posso ter vergonha do que sou, porque nada do que sou ou fiz me envergonha. Pelo contrário! Portanto, se no meu local de trabalho, ou perto dele, ainda não assumo a minha orientação sexual, não é por vergonha, é, tão só, porque nos lugares de poder e decisão ainda há gente como vocês que não olham a meios para atacar, espezinhar e perseguir quem não é e não pensa como vós. Para além disso, eu também tenho o direito de prezar e proteger a minha carreira na qual sou uma excelente profissional!
Lamento ter-vos decepcionado!

quinta-feira, agosto 02, 2007

Memórias II



Continuação ...

Para mim, uma jovem de 21 anos, esta mulher, a quem passarei a chamar S, era a perfeita representação do chamado “eterno feminino” com todo o poder que lhe é subjacente. Eu estava encantada com ela.

Não havia dia nenhum que S não viesse ter comigo para me mostrar “Paris comme il faut”.

Mostrou-me a Paris histórica, culta, artística, romântica, elegante, vibrante, boémia, decadente, emocionante! Mostrou-me uma cidade de perder o fôlego, o coração e o juízo. Mostrou-me uma cidade que é uma festa. Levou-me a restaurantes de haute cuisine française onde provei manjares e vinhos dignos de serem saboreados pelos deuses, e onde pude comprovar porque razão a cozinha e os vinhos franceses são considerados os melhores do mundo.

Foram uns tempos de verdadeiro deslumbramento por uma cidade e uma mulher que pareciam ter sido feitas uma para a outra.

O mundo que S me deu a conhecer, era um mundo ao qual eu só tinha tido acesso através de romances e do cinema. Foi, portanto, natural que o meu namoro com o belo rapaz, tenha passado na minha agenda a estar constantemente adiado até que findou.

Eu sabia que S era lésbica, mas não conseguia entender que razões a levaram a querer seduzir-me e a passar tanto tempo comigo. Certamente teria mulheres muito mais interessantes que eu para passar o seu tempo e que não se lhe negariam. Sem falsa modéstia, eu não era estúpida mas também não tinha grandes rasgos de inteligência, a minha cultura geral era a comum a muitas outras jovens da minha idade e, fisicamente, era apenas bonitinha, sendo certo que não tinha o excesso de peso que tenho actualmente. Enfim, não sei o quê, mas alguma coisa S terá visto em mim para se decidir pela minha companhia.

Este jogo de sedução durou cerca de duas semanas até que aconteceu o que eu, falando honestamente, queria que acontecesse. Fizemos amor. Aliás, S fez amor comigo porque nos prazeres sáficos eu era completamente inexperiente. Apenas posso dizer que passada a fase inicial de uma certa confusão mental, senti que tinha deixado de me faltar algo que antes sempre me fizera falta. Ainda hoje não sei explicar o quê e já desisti de o fazer. Intensidade? Envolvimento? Cumplicidade? Não sei!

O namoro durou todo o restante tempo que estive em Paris. Voltei a Portugal e o nosso afastamento físico ditou o seu fim. Na verdade, nunca me dei bem com relacionamentos amorosos à distância!

S marcou-me profundamente para sempre e de forma indelével. Ainda hoje somos grandes amigas e se não é pelo telefone, é pelo msn ou email que quase diariamente contactamos.

Quando cheguei a Portugal, a minha família notou as diferenças que se tinham operado em mim. Fisicamente estava igual, apesar das roupas, corte de cabelo, maquillage e perfumes mais requintados mas, emocionalmente, estava diferente.

Eu estava a viver uma fase em que me sentia bissexual. Para que os meus pais não estranhassem que ocasionalmente em vez de namorado pudesse aparecer com namorada, resolvi sair do armário e contar-lhes.

Continua ...

quarta-feira, agosto 01, 2007

Memórias


Em criança detestava bonecas. Abria-lhes a barriga para ver se tinham “câncaro”. Achava muito mais graça aos brinquedos do meu irmão que eram muito mais giros. Carros de bombeiros, camiões basculantes que o meu irmão dizia serem “camionetas das plantas” cinturões com pistolas, berlindes, jogos, legos, etc.

Como todas as crianças, rapazes ou raparigas, em África, brincávamos em liberdade na rua ou nos jardins das respectivas casas. Ficava fula sempre que os rapazes me diziam que iam brincar aos cowboys e aos índios e eu, por ser menina, tinha de ser a enfermeira deles. Claro que a coisa dava sempre pró torto e depois de umas trocas de bofetadas, lá ficava eu com o papel de cowboy mau.

Esta minha preferência por brincadeiras que se convencionou serem de cariz masculino, em nada abalava o facto de eu preferir rapazes a raparigas. Estas não me interessavam de maneira nenhuma e quando entrei na idade dos namoricos púberes, não enjeitei alguns rapazes que me queriam namoriscar. Como namorava sempre dois ao mesmo tempo, arranjei o seguinte sistema: às segundas, quartas e sextas namorava um, às terças, quintas e sábados namorava outro. Aos domingos empandeirava os dois porque era o dia dedicado à família.

Aos 15 anos tive o primeiro namorado “a sério” e esse namoro durou três anos. Ele tinha mais 10 anos que eu. O rapaz (que era um homem feito) teve a pachorra de esperar que eu crescesse mais dois anos para me mostrar os prazeres do sexo. Mostrou e deve tê-lo feito bem porque eu gostei. Quando cheguei aos 18 anos, ele entendeu que já me podia casar e cometeu o erro de me pressionar. Nada virada para me casar tão nova, aproveitei um tempo de afastamento físico dele para pôr fim ao namoro.

Em Portugal, continuei interessada em rapazes e a ter os meus namoros mais ou menos sérios.

Aos 21 anos, fui para Paris estudar e encontrei um mundo completamente diferente de um Portugal que apesar da revolução de Abril se ter dado há uns bons anos, ainda não se tinha libertado (e de certa forma ainda não se libertou) de uma época de obscurantismo que durou décadas.

Em Paris comecei a namorar um belo rapaz de quem também guardo boas recordações.

Um dia, numa festa na casa onde fiquei a viver, vi entrar uma mulher que julgava que só poderia ver nos filmes. Alta, elegante, requintada, com uns belos cabelos loiros, olhos verdes azeitona e um rosto renascentista que lembrava Simonetta Vespucci, a musa de Sandro Botticelli e que surge no quadro “O Nascimento de Vénus” em todo o esplendor da sua beleza. Fiquei completamente aparvalhada a olhar para aquela verdadeira celebração da natureza à beleza feminina que acabara de entrar.

Depois de me ser apresentada pela dona da casa, descobri que para além dos atributos físicos, aquela francesa mais velha que eu sete anos, era uma mulher de educação, inteligência, cultura e sensibilidade superlativas. Devia ter um karma fabuloso para lhe ter saído a sorte grande em jackpot!

Simpatizámos quase imediatamente uma com a outra a que, da minha parte, não foi indiferente uma enorme curiosidade quando a soube lésbica.

Continua ...