Pois é, minha gente, há mesmo comentários que valem
posts. Correndo o risco de ser por vós considerada a maior chata do planeta, tenho de aqui deixar publicamente o meu agradecimento e apreço à
Ferónica pelo seu, este sim, excelso comentário a mais uma
pérola Alexandrina. Começo por transcrever o post do referido senhor e depois segue a transcrição do comentário da Ferónica.
"Pride! De Quê?
Duca, com elegância, argumentou e merece portanto uma resposta mais cuidadosa.
Tanto quanto me lembro não escrevi nada sobre os casamentos, mas digo-lhe já que não vejo qual a vantagem que os LGBT encontram nele.
Claro que estou a falar de casamentos pelo civil, pois tenho a certeza que não está a pensar em solicitar um casamento religioso com um padre a dar a sua bênção e a desejar que o casal seja feliz e tenha muitos meninos.
È natural que se queira partilhar os bens em vida e na morte e para tal, qualquer contracto servirá.
Estarei a ver no seu problema um desejo de protagonismo e, vencida mais uma natural barreira, partirem para outra luta fracturante?
Quanto ao resto vamos ver se consigo pôr o meu pensamento muito claro.
A mim não me interessa o que uma, duas ou mais pessoas fazem na privacidade de suas casas ou de um qualquer clube especializado.
Incomoda-me sim, que em público protagonizem cenas do privado, e isto aplica-se mesmo aos casais normais quanto mais aos outros.
É muito possível que não consiga reparar mas quando protagonizam esses desfiles estão simplesmente a exibir uma grotesca diferença que serve principalmente para gáudio daqueles que nos passeios vos fotografam.
O pudor e o recato são parte integrante da mulher.
Tanto assim que uma própria lésbica se confessa:
- Houve uma cena que me marcou para todo o sempre e fez-me entender que eu não sou assim tão liberal quanto eu pensava que era… vi um threesome, três mulheres, uma delas seria a líder e entrou acompanhada de outras duas que a beijavam à vez… foi algo alucinante para mim, e só não levei um cascudo da líder porque estava escuro e ela não deve ter visto o meu ar horrorizado!Dentro do género portanto eu encontro-me encostada ao lado mais conservador da coisa, gosto das coisas feitas com rigor, com decência, com honestidade e dignidade. -
E por falar em normalidade (entenda-se a palavra pelo seu real valor e não se pense que estamos a falar em nenhum Shrek).
Temos que ser sinceros.
Ou se é ou não se é.
E a verdade é que o normal é um homem amar uma mulher e vice-versa, ora se isto é normal, como é que a senhora (se por acaso for a parte activa da relação, peço desculpa) quer chamar aos outros?
Pois, diferentes, mas a verdade é que não correspondem ao padrão da normalidade que mal ou bem têm servido para a espécie continuar.
Seria bom não confundir normal com natural.
Acho que coloquei o que penso sobre o assunto.
Resumo:
Em privado façam o que entenderem, em público comportem-se como as senhoras que são, penso eu."
"Caro Fado Alexandrino
Começo por pedir desculpa por me intrometer numa conversa que embora do domínio público tem um carácter reservado, uma vez que se dirige explicitamente à Duda.
Não é meu hábito intrometer-me nas conversas, nem mesmo quando a elas posso legitimamente assistir, como é o caso. Se o faço é apenas porque na observação que teve a amabilidade fazer ao meu comentário do seu post de 15 de Julho dizia: “…Quero crer que a senhora e a outra senhora perceberão melhor o meu pensamento com o próximo post com o qual darei por encerrado este assunto. “ Assim sinto-me com legitimidade para pensar poder comentar o seu ultimo post sobre este tema, e com reciprocidade, dar também por terminados os meus comentários acerca das suas opiniões sobre este tema no seu blog. Neste ultimo post o seu tom mudou ligeiramente, não posso de maneira nenhuma concordar com o conteúdo do que escreveu mas tenho que concordar que melhorou significativamente quando comparado com os dois posts anteriores. Pelo menos é mais correcto. Já não se vêem frases e ideias tão jocosas como algumas das contidas nos seus dois primeiros posts. Apenas para poupar trabalho a quem possa chegar a meio da nossa conversa cito duas das várias afirmações a que me referia:
“ … A vergonha é igual em público ou no privado e se num dos lugares não mostram qualquer pudor em se lamberem umas às outras, porque razões teriam de o fazer em público?”
“Já ouviram alguma criança que diga que o pai é um dildo?”
Pela melhoria no nivel do discurso e pelo aumento na tolerancia (pelo menos aparente), lhe dou desde já os meus parabéns. Sei que haverá quem possa estar a pensar que endoideci, que me rendi, que estou insane. Como posso dizer coisas destas quando o Sr faz neste seu ultimo post, afirmações como:
“ …por falar em normalidade … Ou se é ou não se é. “
“… a verdade é que o normal é um homem amar uma mulher e vice-versa, ora se isto é normal, como é que a senhora (se por acaso for a parte activa da relação, peço desculpa) quer chamar aos outros?.. Pois, diferentes, mas a verdade é que não correspondem ao padrão da normalidade que mal ou bem têm servido para a espécie continuar. Seria bom não confundir normal com natural.”
Não endoideci, estou benevolente. Aliás, sou benevolente, tolerante e gosto de dar valor à mudança mesmo que subtil. E essa (muito subtil) aconteceu.
Acontece que tambem sou adepta de começar sempre pelo elogio para só em seguida fazer as criticas menos positivas e essas aí vão:
Quanto ao assunto casamento:
Devo dizer que o casamento em si mesmo não algo de que faça questão. Agora aqueles beneficios fiscais, legais, sociasi e outros , de que só quem se casa pode beneficiar, isso sim parece-me ser importante. Diz o Sr que: “È natural que se queira partilhar os bens em vida e na morte e para tal, qualquer contracto servirá.”
Não concordo. Penso que se refere a um contrato de partilha de bens e aos vulgares testamentos. Se assim é, deverá tambem saber que esse instrumento legal apenas acautela a distribuição da propriedade de bens tangiveis e mesmo assim existem leis que se sobrepõem a vontades expressas por testamento. Para mim esta questão é menos importante, não dou grande valor a questões materiais e tenho a sorte de ter uma familia que nunca impediria que os bens que eu ou a minha companheira pudessemos deixar, fossem para quem são de direito moral e não para quem os herda por direito legal. Para mim, as complicações são de outra ordem, preocupa-me sobretudo a justiça social. Porque razão não me asiste o direito de ser acompanhada ou acompanhar em situação de doença? Porque razão não poderemos ter os mesmos direitos no acesso a sistemas de saude, beneficios fiscais ou mesmo na simples atribuição de pensões (p. ex. Equiparadas às atribuidas por falecimento de conjuge).
Estes problemas, caro fado A. nenhum contrato pode resolver. Poderá achar que são uma ambição injustificada mas isso digo-lhe: Olhe que não! Até podia aceitar essa discriminação mas se e só se ela ocorresse quer a montante quer a juzante. E neste caso não é assim. Pago os mesmo impostos que todos os trabalhadores (e todos sabemos que não uma bagatela) e por isso devo ter os mesmos beneficios fiscais e sociais. A não ser assim, deveria poder optar, constituiria outro tipo de poupança (e que poupança não seria seria se todos os descontos que fiz até hoje com fins de reforma estivessem numa carteira de investimento ?). Pois é: Mas não posso, sou obrigada a contribuir para um sistema social e fiscal colectivo que me discrimina.
Eu não faço questão do casamento (há quem o faça e está no seu pleno direito) pode ter outro nome. Acho sim, que seria de elementar justiça estabelecer uma forma de legitimação da união, de acordo ou contrato civil, a designação juridica não importaria para mim, o que seria essencial seria que permitisse estabelecer a equiparação de direitos. Não me parece que esta questão se possa resumir a desejos de protagonismo ou de participação em lutas fracturantes. Pela minha parte, bem dispenso tais coisas.
Quanto aquilo que chama a sua opinião quanto ao resto, que mais uma vez o passo a citar:
1 - “Incomoda-me sim, que em público protagonizem cenas do privado, e isto aplica-se mesmo aos casais normais quanto mais aos outros.“
2 - “… quando protagonizam esses desfiles estão simplesmente a exibir uma grotesca diferença que serve principalmente para gáudio daqueles que nos passeios vos fotografam.
“3 - ”O pudor e o recato são parte integrante da mulher.”
4 – “… por falar em normalidade … Temos que ser sinceros. Ou se é ou não se é. E a verdade é que o normal é um homem amar uma mulher e vice-versa, … Seria bom não confundir normal com natural.”
Percebo o que diz e até terei de lhe dar razão, os gestos de ternura são para ter em qualquer lado, o sexo (esse sim, pelos costumes de caracter privado – a menos que estejamos a falar de eventos do tipo da Feira do Erótico na FIL), quanto mais não seja por respeito para com os outros deve ficar para locais mais reservados. Só não percebo é que depois de tanta controvérsia venha afinal dizer que num relacionamento, dois parceiros do mesmo sexo são um casal. Mesmo sendo na sua opinião não um casal normal, mas outro, de outro tipo, aceita que são um casal. Casados informalmente, portanto?
Tambem percebo quando fala do grotesco, porque aos nossos olhos tudo o que não é habitual ou vulgar vermos se nos afigura como grotesco. Só me custa a aceitar, ou melhor a compreender, que aqueles que vêem dos passeios cultivem e vivam em pleno o gaudio do grotesco. Mas gostos, de facto não se discutem.
Caro Fado, queria mesmo dizer só isto? “O pudor e o recato são parte integrante da mulher.” Ou esqueceu-se de concluir a frase so estilo tão em voga nos actuais discursos politicos? Quero querer que era sua intenção dizer que pudor e o recato são parte integrante da mulher e do homem? Porque se assim não for, levanta-me um problema e soluciona-me outro. Levanta-me um problema conceptual, pois para mim até à data, homens e mulheres, estariam sujeitos em termos morais e sociais aos mesmos código de ética e de moral. Esta caracteristica, para mim não tinha natureza genética. Colocando-se as coisas desta forma, termos de integrar a informação de que pudor e recato são resultado de genes recessivos ligados ao cromossoma X. pelo que O homem é portador mas nunca manifesta essa caracterisfica. Assim, não sei que pensar. Terei de refazer os meus conceitos e aceitar que nos homens o pudor e o recato não são inatos. Aceitar isto como um principo, como uma caracteristica de uma concepção diferencial do homem (espécie) em função do género, nem a mim que sou lésbica, me passou pela cabeça. Este era o problema que levantava, mas como disse soluciona-me outro. Vejo assim explicado os comportamentos tipicamente masculinos
1) de urinar em locais publicos como em qualquer canto ou recanto urbano, arvore, ou berma de estrada;
2) de procurar sexo em locais desconfortaveis com desconhecidas que encontra em sitios como bermas de estrada ou matas (sem águas correntes) a troco de dinheiro.
Imaginava (e não passava do plano do imaginário) que tal se devesse a uma conjugação de factores natureza higiénica (falta de higiene), cultural (não é mal visto) e anatómica (possibilidade de urinar de pé sem prejuizo da higiene pessoal), com factores de natureza estética. Assim fico a saber que tal acontecerá apenas porque o pudor e o recato são apanágio das mulheres, não dos homens. É genético.
E agora da norma, do normal, da excepção e do natural.
A norma e o normal são na sua essência conceitos de natureza estatística. O natural é aquilo que acontece sem intervenção externa, sem influencias alheias (é por isso que metafóricamente gostamos de chamar às ameijoas confeccionadas quase sem tempero, ameijoas ao natural. É falso mas é um arremedo que espelha a simplicidade do prato. Ameijoas ao natural são as que se encontram vivas e no seu habitat. E isto fez-me lembrar aquele velhinho anuncio do restaurador Olex que mostrando o “grotesco” do negro de cabeleira loira ou do branco de carapinha concluia dizendo: o que é natural é cada um usar o seu proprioo cabelo…).
Naturais nenhuns de nós o somos. Séculos de civilização, aculturação e socialização tornaram isso impossive. Já nem as tribos indigenas o são. Humanos naturais extinguiram-se. É portanto um conceito que está divorciado da espécie humana e que por isso não pode ser adjectivo para nenhum dos seus comportamentos.
Voltando à norma e ao normal: Tratam-se de conceitos de natureza estatistica e pelo menos desde os seculo XVII e XVIII com Abraham de Moivre, Bernoulli e Gauss que está cientificamente provado que a normalidade ocorre naturalmente (espero que isto não contrarie a sua vontade de divorciar o normal do natural), em quase todas as medidas de situações fisicas, biológicas e sociais. Quero com isto dizer que de acordo com a curva de Gauss, o normal ou não raro não é necessariamente o banal, é sim aquilo que ocorre na população dentro de um determinado intervalo de frequencias. Engloba a média e a moda mas tambem tudo o que embora possa não ser tão banal não é raro ao ponto de se desviar tanto dessas medidas que se possa classificar de muito acima ou abaixo da média (onde supostamente se encontram 50% sa população). Assim, tendo em conta que o que se desvia muito signicativamente da média está dentro de uma porção que representa 4,56% da população, sabendo que a percentagem de homossexuais na população é bastante superior a isso, mesmo sem entrarmos por analises causais, teremos que dizer qeu está dentro da norma, que é normal. O normal é cada um amar quem a sua alma escolher, ou quem o seu coração quiser.
Parece assim, que é normal e é natural. Provavelmente só não é o mais banal.
Para terminar queria dizer-lhe que a sua observação. E volto a citá-lo: …como é que a senhora (se por acaso for a parte activa da relação, peço desculpa) quer chamar aos outros?....)
É tão descabida e gratuita que até o sr sabia já quando a escreveu ser completamente deselegante e ostensiva (se assim não fosse porque pederia desculpa?). Mas é util porque mostra que de facto a seu nivel de informação é de facto muito insuficiente, acho que nem sequer está ao nivel do senso comum. Por isso ,nem sequer posso comentar ou argumentar.
Já nem vou de falar sobre a forma que escolheu para provar ou ilustrar a sua opinião de que pudor o recato são “coisas da mulher”. No minimo ardiloso, não? Mostrar que até uma “mulher lésbica”, sendo mulher, tem pudor e é recatada. O despudor lésbico, (ou imaginário que dele tem) não existe. Existem pessoas que se comportam de modos diferentes e têm modos diferentes de ver o amor, o sexo e a fidelidade, independentemente da sua orientação sexual. Pessoalmente desagrada-me a promiscuidade, a deslealdade e até o despudor se descabido. Mas isso não tem nada a ver com a minha orientação sexual.
Por aqui me fico e me despeço.
Sinceramente, felicidades.
Ferónica"
Depois disto e tal como disse ao referido senhor "I'll rest my case".
*Não me foi possível solicitar autorização à Ferónica para transcrever aqui o comentário dela porque o seu perfil não está disponível e, consequentemente, não há qualquer endereço electrónico para onde o pudesse fazer. Contudo, dado o mesmo ter sido publicado, julgo não haver qualquer problema. No entanto deixo, desde já, o meu pedido de desculpa à Ferónica, caso esta situação de algum modo lhe desagrade.