segunda-feira, novembro 27, 2006

Straights e Marmanjas

Sou uma mulher de hábitos. Talvez seja influência do meu signo, Capricórnio.
Ora, tenho por hábito durante a minha semana de trabalho que vai de segunda a sexta-feira, almoçar num pequeno restaurante que fica junto ao meu trabalho. A comida é caseira, bem servida e com um preço acessível. Jacinta, a proprietária, é uma mulher com uns quarenta e poucos anos, muito enxuta, simpática e activa. Parece uma formiguinha, tal a velocidade com que despacha os pedidos e serve os esfomeados comensais.
Num destes dias, por volta das 13h00, lá estava eu sentada na mesa do costume, sozinha como sempre, apreciando um cozido à portuguesa que a Jacinta me serviu com desvelo; apenas carne magra, arroz e muita couve, nada de enchidos que ela sabe que tenho de manter este meu corpinho sem colesterol por mais uns anos.
Na sala, para além de Jacinta, apenas estavam eu, três homens e mais uma moça.
De repente começa um diálogo entre Jacinta e os três homens que não pude deixar de ouvir.

Jacinta: Estou que nem posso! Então não é que aquela rapariga linda, filha da senhora do talho, anda com aquela marmanja horrorosa do cu grande e que mais parece um gajo?
Primeiro homem: Qual?
Jacinta: A filha da senhora do talho!
Primeiro homem: Ora, essa sabemos nós quem é! É cá um pedaço! – Disse enquanto piscava o olho, estalava a língua e dava uma cotovelada no parceiro do lado. – Quero é saber quem é a marmanja!
Jacinta: Então não sabe quem é? Aquela fufa que mais parece um homem que vive ali ao fundo da rua e que é feia que nem um trovão!
Segundo homem: Porra! Não me diga. As mulheres agora andam com os gostos estragados. – Disse enquanto escancarava a boca, limpava os dentes com um palito, e mostrava umas unhacas mais sujas que as de um gorila.
Jacinta: Com os gostos estragados, com licença, que eu cá gosto muito de homem! Eu bem a avisei para não aceitar quando a marmanja a convidou para ir à casa dela, mas ela não me deu ouvidos e aceitou. Pronto, a outra saltou-lhe para cima e agora passa lá o tempo todo e anda com uma cara que parece aparvalhada. Até foi dizer à mãe que está apaixonada!
Segundo homem: É pá, mas que mau gosto, ao menos que escolhesse uma que fosse como ela que eu cá até me candidatava para lhes dar uma mãozinha! – Disse fazendo um olhar de galã-matador-e-que-papa-todas de terceira categoria, daqueles que só nos bairros de bas-fonds do piorio se vêm.
Jacinta: Cá a mim estas coisas fazem-me uma confusão, como é possível uma mulher gostar de estar na cama com outra?
Terceiro homem: E olhe que é perigoso quando experimentam, porque depois não querem outra coisa. A verdade é que vejo muita gente ir para aquele lado, mas não vejo ninguém daquele lado vir para este. Essa é que é essa!
Primeiro homem: Porra! O melhor é nunca experimentar, senão um gajo vira paneleiro.
Jacinta: Ou fufa, irra!
Terceiro homem: A mim como não me fazem mal, não os chateio, desde que eles não se metam comigo, tá tudo bem!
Jacinta: Ai, esta nossa conversa à frente daquela menina e desta senhora casada! – Disse olhando para a moça e apontando para mim.

Senhora casada, eu??? Puxa! Eu sei que tenho um jeito bastante straight mas daí a virar fada do lar, vai um abismo! Não disse nada, mas fiquei piursa. Onde raio foi aquela gaja buscar a ideia de que eu, lá por ter um ar feminino, tinha que ser straight e casada? Pois é, minha gente, as aparências iludem.